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Crítica | O Protetor 2: altruísta ou egocêntrico?

Por| 17 de Agosto de 2018 às 20h30

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Crítica | O Protetor 2: altruísta ou egocêntrico?
Crítica | O Protetor 2: altruísta ou egocêntrico?

A descrença em quem deveria proteger é algo recorrente em civilizações emergentes ou cheias de diferenças, que procuram uma solução a curto prazo quando o que mais precisam é de um investimento que dará resultados concretos em um futuro distante. O imediatismo é compreensível se levarmos em consideração a natureza humana e o instinto de sobrevivência particular: está sendo consumido, por exemplo, mais de um planeta e meio por ano — sem se pensar nas gerações que estarão por aqui após as atuais.

Antes de seguir adiante, cuidado! Esta crítica pode conter spoilers.

"Olho por olho, dente por dente"

Dessa forma, Robert McCall (Denzel Washington) pode ser interpretado como a materialização de um herói que se julga necessário por uma parcela considerável daqueles que se sentem prejudicados por muito do que está ao seu redor, especialmente em questões de segurança. Eleva-se, assim, a lei registrada em forma escrita mais antiga da humanidade, a lei de talião, expressada pela máxima “olho por olho, dente por dente”. Por outro lado, cabe ao público raciocinar se agir dentro desse espectro, que tem seus primórdios com o Código de Hamurabi (datado de 1780 a.C.), é ainda viável — algo que o roteiro de Richard Wenk entende que não há necessidade.

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Esse descompromisso do texto — ressaltado inclusive por momentos cômicos — é sadio justamente porque a temática da retaliação é algo atual e, ao mesmo tempo, inerente ao ser humano como animal, que muitas vezes evita atitudes do tipo por ser racional. Se já está tudo naturalmente programado, poderia ser redundante uma construção mais detalhada em um filme que preza muito mais pelos fatos do que pelo caminho.

E é sabendo disso que o experiente Antoine Fuqua conduz a dramaturgia. Sem firulas, sem enrolações, o diretor marcado por Dia de Treinamento (esse sim com um roteiro excelente — e que deu um segundo Oscar para Denzel) foca sua atenção nas atitudes de McCall, um homem que vive sob sua própria sombra trabalhando como motorista do aplicativo Lyft (similar ao Uber). Algumas situações, mesmo longe de terem o mesmo trato, lembram o filme Dez, do iraniano Abbas Kiarostami. Referência ou coincidência vaga? Para qualquer opção, Fuqua é competente e conhecedor de cinema o suficiente para que cada cena funcione e tenha o ritmo apropriado.

Uma sociedade cega por si mesma

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Dito isso, vale ressaltar a eficiência das sequências de ação, especialmente aquela que se dá dentro do Malibu do protagonista. Por mais que a montagem se utilize de cortes rápidos com a intenção de inserir o espectador no turbilhão de violência, a direção é tão bem realizada que tudo é compreendido. Com Fuqua, nada se perde e cada corte tem o poder de dimensionar a crueldade exposta — uma crueldade vestida de justiça. Isso fica claro, por exemplo, quando o diretor faz questão de mostrar McCall enterrando o dedo no olho do previsível e clichê vilão e, pouco depois, quando não se priva de mostrar o resultado em um close. É a cara de uma sociedade cega por si mesma.

Há ainda, para ressaltar, a trilha sonora muito bem inserida de Harry Gregson-Williams (o mesmo que compôs para o primeiro O Protetor e para o recente Megatubarão). Mas a verdade é que se não fosse a consciência de Fuqua e os conhecidos talento e carisma de Denzel, O Protetor 2 seria somente mais um filme de ação genérico — algo como Busca Implacável, que teria estacionado no bom primeiro filme se não fosse Liam Neeson e o lucro acima do esperado nas bilheterias.

Voltando ao princípio: a humanidade quer se ver vingada. Conseguir isso por meio de um personagem (ou de um político) é algo que faz vibrar o coração da cultura do imediato. Uma solução a longo prazo é muito altruísta para um mundo egocêntrico. Uma pena.