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Crítica Napoleão | Um épico incompleto

Por| Editado por Durval Ramos | 22 de Novembro de 2023 às 19h00

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Reprodução/Sony Pictures, Apple
Reprodução/Sony Pictures, Apple

Ridley Scott é um diretor que tem uma carreira com um currículo impressionante, com vários clássicos como Alien – O Oitavo Passageiro, Blade Runner e épicos como Gladiador e Cruzada. Com Napoleão, o diretor tenta fazer o que muitos já falharam, que é contar a história completa do imperador e ditador francês. Estrelado por Joaquin Phoenix (Coringa), o filme traz muito do que fez a carreira do diretor brilhar, ao mesmo tempo que peca em entregar um longa que parece incompleto.

Com um ritmo acelerado, a cinebiografia é praticamente um "Greatest Hits Vol.1" de Napoleão Bonaparte, muitas vezes lutando para manter um tom constante, pulando por momentos importantes de sua história e deixando lacunas que poderiam ser melhor exploradas.

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Ambição e propósito

O filme começa com a execução na guilhotina da última rainha da França, Maria Antonieta. É um início forte, que mostra que Napoleão estava presente, no meio da multidão, quando tudo aconteceu. Sem dar muito tempo para a história apresentar o soldado e suas pretensões, já somos jogados para ele liderando as forças francesas no Cerco de Toulon, meses mais tarde.

Esse início mostra exatamente o que se esperar do resto do filme. O longa tem poucos momentos de respiro, sempre avançando como se tivesse muito conteúdo para explorar (e tem), mas sem tempo suficiente para isso.

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Presente em praticamente todas as cenas, Joaquin Phoenix é a força por trás da história, mas às vezes se mostra pouco inspirado, entregando uma atuação apenas aceitável. Em outros momentos, quando mostra a vulnerabilidade de Napoleão, o ator chega a ser engraçado, ainda que de um jeito contido, no papel, criando uma personalidade interessante de se acompanhar e que ajuda a criar uma figura mais complexa do imperador.

É essa personalidade que às vezes parece que merecia um pouco mais de tempo para respirar, já que por simplesmente saltar por anos para mostrar toda a vida de Bonaparte, encontramos o personagem em diferentes momentos da história, até mesmo pulando por momentos importantes. Um exemplo disso é a tomada da Itália, a primeira grande campanha de Napoleão e que nem aparece no filme, sendo citada apenas de maneira bastante superficial.

Isso faz com que, mesmo com duas horas e trinta e oito minutos de duração, você não o conheça tão bem como poderia. Existem rumores sobre uma "edição do diretor", com mais de quatro horas, mas como essa versão não é a que chega aos cinemas, não temos como saber se mesmo com todo esse material extra, a execução de Ridley Scott tenha sido tão boa assim.

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Analisando o que temos acesso, que é a cinebiografia que chega aos cinemas, é possível seguir uma linha de ambição e propósito por parte de Napoleão. Ele cresce com certa rapidez dentro do exército e sua ascensão ao poder parece fácil demais. Em dado momento, é dito que Napoleão é visto como César pelos franceses, que o aceitariam com tranquilidade como seu novo rei.

Só que isso não é mostrado em momento algum no filme, que foca muito mais nos bastidores e na paixão de Bonaparte por Josefina, seu grande amor, que serve como fio condutor da história.

Um homem poderoso movido por algo não muito claro

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Napoleão, o filme, tem um problema que é tentar retratar Napoleão, o homem, sem deixar muito claro o que ele realmente quer. Desde as primeiras cenas, existe um desejo evidente de ser alguém, motivado pelas ideias de sua mãe, mas o próprio Napoleão não parece ter um objetivo muito aparente para fazer tudo o que faz.

Considerando o longa, ele simplesmente tem a sua ascensão porque era isso que ele precisava fazer. Existem alguns lampejos de patriotismo que justificam as suas ações, assim como o amor que sente por sua esposa, Josefina. A atuação de Vanessa Kirby (Pieces of a Woman) no papel, certamente um dos pontos altos do filme, faz com que o personagem de Napoleão consiga ser mais interessante na tela.

O trabalho de Kirby, que várias vezes consegue dizer muito com apenas um olhar, deixa a atuação de Phoenix melhor, pois permite ao ator se soltar mais no seu papel e explorar diferentes ângulos de Bonaparte.

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Porém, mesmo com essa excelente dinâmica entre os dois, muitas das motivações de Napoleão parecem vazias e basicamente mostram um homem que chegou à uma posição de extremo poder em um país e foi se metendo em guerras por, no íntimo, querer se mostrar maior do que realmente era.

Parece engraçado, mas o filme confirma muito o chamado Complexo de Napoleão, que mostra uma pessoa que tenta supercompensar falhas em outros aspectos de sua vida. Nisso, Ridley Scott acertou demais ao retratar um homem pequeno, não apenas em estatura, mas que tinha outras qualidades e as quis deixar ainda maiores através do seu enorme ego, vide toda a sua campanha desastrosa ao tentar invadir a Rússia no inverno.

Várias batalhas, mas pouca emoção

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Napoleão mostra várias batalhas que o imperador participou, como a já citada em Toulon, e depois Austerlitz, Borodino e Waterloo, mas apesar de muito bem filmadas, nenhuma delas é particularmente emocionante. O tom épico que os trailers do filme passaram não está tão presente assim no produto final, talvez por conta da fotografia acinzentada que ele apresenta.

Não existe muita vida em boa parte do longa, com tudo sendo mostrado em tons frios e, aliado ao fato de diversas outras produções recentes abordarem cenas grandiosas similares e com resultados mais satisfatórios, essas cenas épicas de Napoleão parecem menores do que deveriam ser.

Pode realmente ser uma impressão minha, mas mais de uma vez me pareceu algo que poderia ser encontrado em alguma produção cara da HBO, por exemplo. Como disse, são bem produzidas, mas não chamam a atenção que merecem.

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A dificuldade de trazer a história à vida

Napoleão parece um épico incompleto. Não pela qualidade do que chega aos cinemas, que é bastante satisfatória, mas por parecer que faltam trechos da história que a tornariam melhor. Talvez aquela versão do diretor realmente traga isso, mas o que temos no cinema é bom, mas falta um pouco para ser especial.

Napoleão estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 23 de novembro.