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Crítica Mamonas Assassinas - O Filme | Uma homenagem é uma homenagem

Por| Editado por Durval Ramos | 25 de Dezembro de 2023 às 18h00

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Imagens Filmes
Imagens Filmes

É muito estranho para quem não viveu a década de 90 entender o impacto do grupo Mamonas Assassinas no público brasileiro. Em menos de um ano, o grupo musical de Guarulhos se tornou um fenômeno no país inteiro, suas músicas tocavam em quase todas as rádios possíveis e eles sempre estavam presentes em programas de TV. De repente, tudo chegou ao fim com um acidente de avião.

A forma como Dinho, Bento, Julio, Sergio e Samuel se foram foi bastante chocante para todos, o que apenas tornou o seu impacto em toda uma geração ainda maior. Eram jovens — o mais velho com 28 anos —, felizes, finalmente alcançando o sucesso com um público de todas as idades e, de repente, nada.

Fazer um filme contando a história do grupo não deveria ser uma tarefa muito complicada, já que é uma história que já vimos várias vezes. Artistas que lutam para conseguir marcar o público com a sua arte, apenas para terem suas carreiras e vidas interrompidas precocemente. Só que, para o público que viveu na época, por mais que não fossem grandes fãs dos Mamonas Assassinas, o seu impacto reverberou em toda uma nação.

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Talvez por conta disso, ao chegar ao fim dos pouco mais de 100 minutos de filme, fica uma sensação de "se foram cedo demais e mereciam um filme melhor". Mamonas Assassinas - O Filme tenta contar, com muitas liberdades, a história de como uma banda de Guarulhos se tornou o grupo com o maior disco de estreia da história da música brasileira, mas não se sai tão bem como poderia.

De série para filme

Antes de mais nada, é preciso dizer que Mamonas Assassinas - O Filme não nasceu propriamente como um longa-metragem. No início de 2023, suas filmagens aconteceram visando uma minissérie de cinco capítulos para a Rede Record, que eventualmente seriam reeditados como um filme. A série acabou não sendo exibida e ficamos só com o longa, e talvez esse seja o maior problema do projeto.

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Desde as primeiras cenas do filme, é possível notar que existe uma tentativa de costurar a narrativa sobre as dificuldades dos integrantes da banda Utopia e de Dinho, até eles se juntarem e resolverem fazer músicas juntos.

Talvez por conta de autorizações ou simplesmente liberdade artística, vários fatos são omitidos ou modificados, pessoas importantes na história da vida dos integrantes dos Mamonas Assassinas são deixadas de fora do filme e tudo tem um ritmo que parece que as coisas aconteceram mais rápido do que de fato ocorreram.

A meteórica carreira do grupo de fato foi muito rápida, completando aproximadamente 8 meses de existência até o seu trágico fim, mas o período pré-disco até o sucesso parece passar muito rápido.

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Possivelmente, o material gravado para a minissérie conseguisse dar mais corpo para a trama, trabalhando melhor situações e personagens, mas do jeito que ficou, enfiar tudo em pouco mais de 1h40 de duração serve como um desserviço à história do grupo de Guarulhos.

Homenagem ou paródia?

Em vários momentos de Mamonas Assassinas - O Filme, fica uma incômoda dúvida se o filme quer ser um drama, uma comédia boba ou, em algumas cenas, uma paródia dos acontecimentos reais. Todo a primeira parte da biografia, que mostra como o grupo Utopia se tornou Mamonas Assassinas, traz algumas das piores perucas que eu já vi em um filme.

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Sem brincadeira, já vi quadros do antigo Zorra Total com perucas mais convincentes das que foram usadas aqui. Porque eu vi quadros do antigo Zorra Total não vem ao caso, mas a caracterização dos personagens muitas vezes beira a caricatura, algo que acredito que não era o objetivo dos responsáveis pelo filme.

Em várias cenas, Ruy Brissac, que interpreta Dinho pela segunda vez, após tê-lo interpretado em O Musical Mamonas, pesa um pouco a mão em tentar vender o vocalista como um palhaço em todos os instantes. Apesar de isso ter sido uma constante na carreira do grupo, em várias cenas ele parece um cara meio bobo, o que prejudica quando a segunda metade do filme exige um pouco mais de seriedade.

O outro foco do filme é nos irmãos Samuel e Sergio Reoli, interpretados por Adriano Tunes e Rener Freitas. Como os fundadores do Utopia, a dupla demonstra muito mais segurança nos seus papeis, inclusive entregando algumas das melhores cenas do filme.

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Robson Lima como o tecladista Julio não é tão utilizado como poderia, e Beto Hinoto, sobrinho de Bento Hinoto, interpreta bem o seu tio, no que deve ter sido um momento especial para o jovem.

O resto do elenco não aparece tanto, com exceção de Ton Prado no papel do produtor musical e mentor do grupo Rick Bonadio, mas como dito anteriormente, todos parecem ter cenas a menos do que deveriam para realmente desenvolver seus personagens além de leves caricaturas.

Música e humor

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As músicas de Mamonas Assassinas foram regravadas para o filme utilizando os vocais de Ruy no lugar de Dinho e, devo dizer, que não ficaram nada ruins. Instrumentalmente, elas seguem idênticas e, com mais idade, é possível notar a qualidade da banda como músicos, além de fanfarrões que cantavam sobre surubas e traições na frente de crianças.

Todas as apresentações mostradas são de shows, alguns que fazem Ruy e o resto do elenco parecerem demais com os Mamonas Assassinas de verdade — o que, para quem acompanhou a banda nos anos 90, é realmente impressionante.

O meu maior problema é que, apesar de o grupo ter feito vários shows, seu sucesso se deu às suas participações em programas de TV como Domingo Legal, Domingão do Faustão e Programa Livre, com apresentações que se tornaram lendárias pelo caos causado.

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Apesar de esses momentos serem mencionados no filme, nenhum é mostrado, o que me parece uma falha grave quando se está contando a história da banda. Omitir esses marcos na vida dos cinco jovens, seja lá o motivo, me parece uma escolha errada e que só prejudica o desenvolvimento da história.

Uma homenagem sem impacto

Ao final do filme, chegamos ao momento em que todos sabem que chegaria desde que ele começa. O acidente na Serra da Cantareira, que tragiamente tirou a vida de todos os integrantes dos Mamonas Assassinas em 1996, não é mostrado em momento algum. Acredito ter sido uma saída respeitosa e também bem dada pelos responsáveis pelo filme.

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Não é preciso ver como a vida dos jovens acabou, principalmente após ter tentado celebrar como eles viveram até ali. O que fica no final, como alguém que acompanhou na TV aquele domingo triste em que eles faleceram, é que esse não é o filme definitivo sobre os Mamonas Assassinas.

É uma homenagem sim, mas parece que muita coisa ficou de fora e que acabaram por tirar o impacto do que foi a carreira de Dinho, Julio, Bento, Sergio e Samuel. O longa não consegue passar o peso daquele sucesso explosivo, que poderia, sim, ter acabado pouco tempo depois de maneira natural, mas que perdura na memória de muitos até hoje por ter sido interrompido cedo demais.

Mamonas Assassinas - O Filme estreia nos cinemas brasileiros no dia 28 de dezembro.