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Crítica | Exorcismos e Demônios é o "bolo da cereja"

Por| 23 de Abril de 2018 às 13h03

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Há pouco tempo, o terror voltou a dar alegrias constantes e a revigorar a experiência do cinema de gênero. Corrente do Mal, A Bruxa, Corra! e, mais recentemente, Um Lugar Silencioso foram alguns dos filmes que acenderam a fogueira da esperança para muitos dos órfãos do melhor terror produzido no século XX.

Dito isso, Exorcismos e Demônios surge justamente como uma das (muitas) antíteses, como uma mancha no processo de rejuvenescimento e reinvenção do projeto de acometer medo e dar sustos iniciado por George Méliès e seu O Solar do Diabo, de 1896 – quando o cinema ainda começava e não havia alcançado o status de sétima arte – e solidificado por Robert Wiene com seu O Gabinete do Dr. Caligari e F.W. Murnau com Nosferatu, um dos maiores clássicos do expressionismo alemão.

Enquanto o título nacional é tão preguiçoso a ponto de nem levar em conta que é a existência de apenas um exorcismo que move o filme e que somente um demônio (Agares) é abordado, o original, The Crucifixion, opta pelo óbvio, já que a freira que morre em uma tentativa de exorcismo está amarrada em uma cruz. Mas as obviedades às vezes funcionam, elas podem se encaixar bem e dar mais força ao filme.

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O problema é que, aqui, elas saltam aos montes – assim como os diversos e apelativos jump scares (aqueles sustos causados por um barulho repentino) –, fazendo com que o título nativo sem inspiração seja como um reflexo do filme (ou vice-versa) e o nacional seja igualmente satisfatório nesse sentido, revelando igual preguiça e, ainda, sinalizando que nem mesmo aqueles que deveriam assistir ao filme o fizeram.

A trama, inspirada em uma história real de um padre condenado à prisão por ter uma freira morta sob sua responsabilidade enquanto tentava supostamente expulsar um demônio do corpo dela, teria até algum fiapo de originalidade e consistência se buscasse caminhos menos percorridos antes. Dessa forma, antes mesmo de o roteiro indicar para a descrente (oh!) jornalista (Sophie Cookson, de Kingsman: Serviço Secreto e Kingsman: O Círculo Dourado) o caminho para uma investigação sobre o tal exorcismo, a ponta solta sobre o dito padre (Catalin Babliuc) praticar mais exorcismos do que todos os seus colegas havia surgido como uma luz no fim do túnel.

Apagou-se essa luz.

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Então, numa sucessão ininterrupta de clichês – quando até um romance sem química alguma da personagem de Cookson com um outro padre (Corneliu Ulici) acontece –, o que se vê é um filme que não justifica a sua existência nem mesmo como péssimo exemplar. Isso porque, se há como aprender por meio da inversão de valores a ter um olhar crítico e a pensar ao entrar em contato com uma obra medíocre, com Exorcismos e Demônios esse aprendizado é nulo pela completa ineficiência de tudo o que se vê. É, de fato, uma obra prescrita, que faz questão de autoanular todos os seus 90 longos minutos de duração.

Por mais que a fotografia de Daniel Aranyó (do bom Amor em Tempos de Guerra), através da utilização de uma luz natural sempre bem utilizada nas tomadas externas, tente dar alguma credibilidade ao que se vê, não são uma planície iluminada por raios solares bem delineados e um campanário silhuetado pelo pôr-do-sol que poderiam salvar a direção de Xavier Gens e o roteiro de Chad Hayes e Carey W. Hayes. E é estranho descobrir que Gens dirigiu o interessante terror A Fronteira (de 2006) e os Hayes escreveram o ótimo Invocação do Mal (de somente cinco anos atrás, 2013).

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O exorcismo não é uma temática recente no cinema. O maior clássico desse subgênero, O Exorcista (de William Friedkin, 1973), criou mitos (será?) sobre a própria produção turbulenta e alavancou os que viriam a seguir. Expulsar demônios deixou de ser uma fonte de renda exclusiva para os showmen de algumas igrejas e passou a ser bem rentável para o cinema. Antes do filme de Friedkin, nenhum havia alcançado tanto êxito comercial. Os mais emblemáticos, Der Dibuk (de 1937, que mais fala em feitiçaria e procura não envolver religião) e Madre Joana dos Anjos (de 1961, vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes), passaram discretos e raramente são lembrados.

Por outro lado e por fim (e voltando ao filme em questão), enquanto os já citados Corrente do Mal, A Bruxa, Corra! e Um Lugar Silencioso dão exemplos positivos do que a nova geração do terror pode fazer sem nunca esquecer a sua essência, Exorcismos e Demônios é, como diria Criolo, o “bolo da cereja”: é demasiado. Mas, no caso, é demasiadamente ruim.

O público em geral, desde aquele formado por órfãos do melhor terror do século XX ao gerado por quem só assistiu aos filmes de terror lançados no século XXI, não merecia esse bolo.