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Crítica Dungeons & Dragons: | Muito carisma para um roteiro sem sintonia

Por| Editado por Jones Oliveira | 13 de Abril de 2023 às 18h00

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Paramount Pictures
Paramount Pictures

Quem joga RPG sabe o quão difícil é organizar uma partida. Não só porque é complicado alinhar a agenda de todos os participantes, mas por exigir uma excelente sintonia entre seus jogadores. Isso significa, por exemplo, que tanto aventureiros quanto o mestre que narra a aventura precisam estar na mesma página para que o jogo seja divertido para todos. E é nisso que Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes tropeça.

O novo filme é até muito bem-intencionado. É fácil perceber como ele está interessado em explorar toda a mitologia que o game construiu durante décadas e até mesmo a experiência de jogar, criando uma história simples que se parece mesmo com uma aventura de RPG por dentro e por fora. Só que, mesmo assim, algumas coisas parecem não encaixar.

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E é aí que entra a tal sintonia. Apesar de todo o coração que permeia o longa, principalmente em seus personagens, esse tom mais caótico e engraçado não se encaixa naquilo que o próprio roteiro constrói. É como se os jogadores estivessem querendo levar a história para esse lado mais descompromissado, mas batessem de frente com um mestre que quer criar um épico sério em que essas brincadeiras não têm espaço.

O resultado é que Honra Entre Rebeldes parece ter dificuldade de definir o que quer ser. E, por mais que esse clima mais leve seja o que há de melhor na adaptação, ele não funciona quando todo o resto se leva a sério demais.

Falha no teste carisma

Desde seu primeiro trailer, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes parecia ser uma espécie de Guardiões da Galáxia medieval. A comparação era inevitável: um grupo disfuncional de ladrões tendo que salvar o mundo enquanto faziam piadinhas enfrentando monstros fantásticos — tudo isso embalado em uma ótima trilha sonora.

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E seria ótimo se o filme seguisse mesmo por esse caminho. Até porque a parte mais divertida do RPG e que fez de D&D um sucesso é mesmo essa experiência caótica durante as partidas. O problema é que esse espírito anárquico está perdido dentro do roteiro.

A impressão que fica é que o longa foi escrito por duas equipes diferentes. Uma delas incorporou esse espírito dos jogadores e colocou todos os pontos em carisma, explorando todas as piadas que fazem parte de uma mesa típica de RPG e levando isso para a tela. Há diálogos muito bons que brincam com as regras do jogo e com o universo em si e que dão a esses anti-heróis personalidades muito divertidas.

O problema é que a outra parte do roteiro não sabe aproveitar isso. É como se essa segunda equipe fosse aquele mestre sisudo que não quer narrar uma aventura descompromissada e rechaça qualquer tentativa de galhofa. E é nesse conflito que as boas intenções de Honra Entre Rebeldes se perdem.

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Sem aquele clima acelerado e até caótico dos trailers, o filme se desenrola querendo uma seriedade que não funciona e que atrapalha os diálogos e situações que deveriam servir de alívio cômico. Não por acaso, muitas das piadas se perdem e nunca chegam aonde deveriam. Com exceção de um outro momento, o máximo que D&D consegue é arrancar um riso amarelo.

E essa falta de sintonia é um erro crítico, pois são nesses momentos mais leves que o longa deveria conquistar o público não iniciado. Para o jogador de RPG, a menção a lugares como Neverwinter ou brincadeiras com mecânicas de certas magias ou situações de jogo são o suficiente para criar a conexão com a trama, mas isso faz de Honra Entre Rebeldes uma produção hermética que deixa de fora o espectador médio.

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Para quem nunca montou uma planilha e nem sabe o que é um d20, esses pequenos momentos se perdem e as grandes piadas não funcionam. Então, o que sobra é uma história que não é tão empolgante e nem tão original assim e com uma insistência quase constrangedora de fazer graça onde não há espaço para isso.

Além do mais, Dungeons & Dragons insiste em um único tipo de piada diversas vezes, o que torna tudo ainda mais cansativo. É um humor baseado na quebra de expectativa, quase como se ele quisesse reforçar que a ideia não é ser uma fantasia tradicional. Só que parte do filme quer ser essa coisa séria e essa tentativa de subverter perde seu propósito.

Potencial desperdiçado

E isso tudo é muito triste, porque todo mundo está muito bem no elenco. Ainda que Chris Pine pareça um pouco deslocado como o bardo líder desse grupo de ladrões, todo o restante da equipe está muito bom.

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O destaque fica para a bárbara de Michelle Rodriguez. Mesmo sendo um tipo de papel que a atriz já está cansada de fazer — quantas vezes ela já foi essa brut que soca antes e pergunta depois? —, ela entrega um tipo de sarcasmo e cinismo que funciona bem para a personagem.

Quem também está muito bem é o vilão de Hugh Grant, que vive o senhor de Neverwinter. Muito solto, ele personifica essa galhofa que tanto falamos e entrega bons momentos. O problema é que eles nem sempre funcionam, seja pela repetição da piada de quebra de expectativa ou porque todo o núcleo ao seu redor acredita estar em um épico shakespeariano.

Sem chegar lá

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Que fique claro que o problema de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes não é o seu humor e nem o fato de muitas dessas piadas serem feitas para quem é jogador de RPG. O grande problema está em não conseguir criar um tom em que aquele carisma típico de uma partida — e que estava presente no trailer — aparecesse.

É essa falta de sintonia que impede que quem não é iniciado no mundo de D&D sente na mesa com os jogadores e se divirta junto. Ao não se decidir sobre o que quer ser, ele desperdiça bons diálogos, um elenco que estava claramente se divertindo e aliena o público geral. Ao invés de mostrar como esse universo pode ser divertido para todo mundo, ele se volta apenas para quem já iria gostar do filme por causa de todo o respeito com o material original — e que é inegável.

Isso não torna Honra Entre Rebeldes um filme ruim. Tanto que ele está anos luz à frente da adaptação de 2000. O problema é que é frustrante ver o potencial existente e como ele não consegue chegar lá por puras decisões equivocadas. Uma jogada de dados um pouco melhor já resolveria tudo isso.

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