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Crítica | Crimes na Madrugada é um grande jogo de encontre os erros

Por| 10 de Março de 2020 às 12h48

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Open Road Films
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Crimes na Madrugada é, em termos de gênero, um perfeito filme de ação maniqueísta, com elementos populares, como porradaria, perseguição de carro, tiroteio e uma trama mirabolante. Em uma gama que vai de “filmes tão ruins dos quais (quase) ninguém gosta” a “obras-primas que moldaram o gênero”, existe uma grande faixa reservada aos filmes medianos que serão esquecidos em pouquíssimo tempo. Acredito que Crimes na Madrugada (disponível na Netflix) está destinado a essa grande faixa.

O esquecimento de muitas obras é inevitável, claro. Além disso, não podemos exigir que cada filme feito seja um marco histórico. Não compreendo, porém, a aparente falta de senso crítico de uma equipe sobre si mesma, arriscando, inclusive, a ideia de uma possível sequência.

Atenção! A partir daqui a crítica pode conter spoilers.

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Personagens

Vincent (Jamie Foxx) enfrenta o drama do agente infiltrado que, ao manter sigilo sobre seu trabalho, acaba se vendo afastado da família. É confuso, no entanto, como as imagens mostram, sobretudo na atuação de Foxx, um personagem aparentemente vilanesco. O roteiro de Andrea Berloff parece ter sido criado a partir do clímax, que é o plot twist do policial corrupto que, na verdade, é do bem e salva o dia revelando que o policial do bem é, na verdade, um dos principais vilões. Praticamente um episódio de Scooby-Doo. As demais partes do roteiro são, então, criadas a partir desse ponto central, com todas as ações confabulando para chegarem juntas ao mesmo ponto e ao mesmo tempo.

Não só o personagem de Foxx sofre com isso: a enfermeira Dena (Gabrielle Union) esperou o momento exato para ir ao Luxus, pai e filho pareciam ajudar seus inimigos diante de tantas decisões questionáveis, Thomas (Octavius J. Johnson) é um exímio piloto no auge dos seus 16 anos, além do terrível Novak (Scoot McNairy), que expressa sua crueldade máxima ao ordenar que a língua do seu primo fosse cortada, assemelhando-se à realidade do tráfico tanto quanto uma girafa se assemelha a um abacate.

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O filme todo, na verdade, parece uma grande improbabilidade: ainda que possível, é difícil de acreditar que, de todas as possibilidades de ação, alguém como Vincent escolheria de fato esconder grande parte da droga no teto do banheiro. A atitude desse personagem indica que, desde o princípio da trama, as ações estavam sendo manipuladas com vistas a um objetivo específico. Caso Vincent tivesse entregado a droga toda e recuperado o filho, não haveria motivos para tiro, porrada e bomba.

Tem mais...

São muitos os erros de continuidade, sobretudo no que diz respeito à integridade física dos personagens, como ao curar magicamente a mão de Thomas ou ignorar os ferimentos de Vincent, quase nos levando a questionar a humanidade deles. Em alguns momentos, cheguei a questionar se o filme teria contado com pelo menos um continuísta no set, mas descobri que teve, como de costume em qualquer grande produção, um departamento dedicado à continuidade, liderado por Wilma Garscadden-Gahret, que tem excelentes títulos no currículo.

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Bryant (Michelle Monaghan) é provavelmente a personagem mais verossímil da história, à exceção do momento em que resolve soltar um clichê feminista em meio à batalha de testosteronas.

Mais inacreditável que a estrutura do roteiro é o fato de que tudo isso é dirigido por Baran bo Odar, criador e diretor de diversos episódios de Dark, cuja estrutura narrativa é tão impecável quanto surpreendente. Esteticamente, Crimes na Madrugada também se distancia da série alemã, que tem direção e fotografia espetaculares.

Ainda assim, Crimes na Madrugada está entre os dez filmes mais vistos do Brasil na Netflix, o que indica que, apesar de tudo, talvez o filme consiga cumprir pelo menos a função de entretenimento e, se tiver sorte, gerar dinheiro o suficiente para cultivar os agentes do DEA como vilões de uma sequência. Em tempos de John Wick, no entanto, é uma tarefa árdua fazer emplacar um novo herói de ação.