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Crítica Creed 3 | Um filme de anime no melhor sentido possível

Por| Editado por Jones Oliveira | 02 de Março de 2023 às 10h00

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Mais do que um filme de boxe, Creed 3 é um filme de anime. O novo longa derivado da série Rocky marca a estreia de Michael B. Jordan na direção e o astro faz questão de deixar bem clara suas referências na hora de contar o novo capítulo de Adonis Creed e sua volta aos ringues.

Parece uma combinação um pouco improvável, mas faz todo o sentido tanto na tentativa de tirar a franquia da sombra de Sylvester Stallone como também para a própria trama que está sendo contada. Poucas coisas são mais anime do que a história de dois velhos amigos que se tornam rivais e vão resolver suas diferenças no soco.

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Tanto que Creed 3 se apoia muito mais nesse drama do que na luta em si. E, ao mesmo tempo em que isso cria alguns problemas para seu roteiro, a decisão mostra o quanto a franquia é capaz de seguir sem depender de Rocky ou Stallone.

Ainda que não seja um nocaute incontestável, a estreia de Jordan por trás das câmeras é boa o suficiente para levar o cinturão mais uma vez para casa.

A força de um ator

A influência da estética anime em Creed 3 está presente já no conflito central. O cerne da trama está em Adonis tendo que encarar seu próprio passado, encarnado aqui na figura da Damian (Jonathan Majors), um velho amigo de infância do protagonista que passou os últimos 18 anos preso por culpa do jovem Creed.

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Assim, temos esses dois amigos que se distanciaram com o tempo e que têm em comum a paixão pelo esporte e a ânsia por vencer — um sentimento que serve para mascarar tanto a culpa quanto a mágoa por tudo o que aconteceu nessas quase duas décadas. Assim, não é preciso pensar muito para saber que eles vão se tornar rivais e tudo vai ser resolvido em uma grande luta.

Contudo, o mais interessante está no modo como essa relação toda é construída. Jordan está muito mais interessado em desenvolver seus personagens fora do ringue. E, nesse sentido, ele acerta demais — muito por causa de Majors.

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A primeira metade do filme é inteira dedicada a mostrar quem é Damian e todas suas contradições. Ele é alguém que, embora preso, não abriu mão de seu sonho de se tornar um lutador profissional e vê no sucesso de Adonis a glória que lhe foi roubada. E tudo isso é muito bem desenvolvido tanto em termos de roteiro quanto de atuação.

Aliás, durante todo o primeiro ato, Damian parece muito mais protagonista da história do que o próprio Adonis. Ele é quem teve seu futuro negado e que agora busca uma chance de provar seu valor e chegar ao topo — e vai até mesmo apelar para alguns golpes sujos para chegar lá.

Tanto que, nesse momento, Creed 3 soa quase como uma subversão de Rocky: Um Lutador. Ao invés do azarão de bom coração que apenas aceita de bom grado a oportunidade dada de enfrentar o campeão, temos alguém que não mede esforços e meios para conseguir o que quer.

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E é aí que a gente vê como a escolha de Majors para ser esse desafiante e rival foi acertada. O ator entrega muito bem todas essas facetas que o personagem exige. A princípio, ele parece frágil e vulnerável ao chegar para Adonis para pedir ajuda, mas rapidamente cresce na tela (e no ringue) para mostrar ao que veio.

Sem muito esforço, ele se transforma nesse cara com raiva do mundo e que desconta em cada soco todo o ódio acumulado no tempo que foi preso. E isso é algo que está estampado em seu olhar, na sua postura de luta e em cada golpe deferido. Não por acaso, rouba a cena e o holofote do próprio Jordan em boa parte do tempo.

Demônios do passado

O problema de Creed 3 acontece na virada de roteiro que ele tenta criar. Enquanto a primeira metade da história apresenta Damian quase como esse protagonista questionável, a segunda parte do filme decide que ele precisa ser o vilão e toda essa transformação acontece de forma apressada — e é quando a trama é jogada contra as cordas.

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Até esse momento, a trama mostra que as mágoas do personagem fazem sentido e isso está relacionado à culpa que Adonis sente por ter abandonado o amigo no passado. Há uma progressão nessa relação que se desfaz quando, de repente, Damian se mostra como alguém mau que quer destruir tudo o que o seu ex-colega construiu.

E há vários problemas nisso. Primeiro porque ele não representa nenhuma ameaça para o protagonista. A ascensão do rival não coloca em risco a família Creed e tampouco sua carreira de sucesso até ali. Caso Adonis ignorasse as provocações do velho amigo, tudo seguiria normalmente.

Segundo — e o mais importante — é que isso empobrece o que vinha sendo mostrado até então. Damian surge como alguém muito interessante, como esse lutador no sentido mais bruto da palavra, que viveu o inferno na prisão, e isso é algo que pega pesado na consciência de Adonis. Afinal, o filho de Apolo só pôde se tornar campeão mundial ao dar as costas para o amigo no passado.

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Contudo, ao mostrar que o personagem de Majors é alguém disposto a sacanear com o herói, todo esse discurso de culpa que vinha sendo construído até aqui se esvai. No fim, ele merece apanhar por ter mexido com o cara errado e só.

Assim, Creed 3 rapidamente vira um versão melhorada de Rocky V, com o protagonista treinando um novo lutador que vai se tornar seu adversário. A diferença é que, no caso do novo longa, esse conflito é bem melhor resolvido do que a tentativa de Stallone em 1990.

Espírito de anime

Como dito, essa solução apressada de transformar Damian em vilão empobrece a trama, mas está longe de fazer de Creed 3 ruim. Ele ainda mantém todas as características de uma boa história de boxe, sobretudo ao criar o espetáculo que a gente quer ver quando os lutadores sobem ao ringue.

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É nesse sentido que o longa se parece muito mais com um anime do que um filme com DNA de Rocky. Aquela lógica de apanhar até o último segundo para resolver tudo em um soco é deixada de lado, assim como a grande montagem inspiradora durante o treino. No lugar disso, temos momentos que apelam mais para o lado dramático ao mesmo tempo em que pesa a mão na ação e na linguagem de animação.

O caso do treino é bem simbólico. Ao invés de ser aquela sequência que mostra o esforço do herói para que ele chegue com tudo na luta, Creed 3 coloca Adonis e Damian em pé de igualdade e faz os dois dividirem essa cena. De um lado, perde o impacto que esses momentos tinham na saga, mas ganha por outro ao reforçar a tensão entre os dois.

Mas é na hora que o gongo toca que a gente vê que a ideia de Jordan é mesmo se afastar do estilo Rocky Balboa de filmar um embate no ringue. Por ser uma luta que é quase uma terapia para os dois pugilistas, o diretor aposta na carga dramática do confronto e usa seu repertório como otaku para traduzir isso.

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Dos golpes sincronizados, os closes nos olhos aos movimentos em câmera lenta e ultra detalhados, Creed 3 exala animes como Hajime no Ippo e até Naruto e Dragon Ball. Ainda que não se deixe levar pelo exagero que as animações costumam dar a certos movimentos, algumas escolhas estéticas são diretamente retiradas desse tipo de produção.

O mais simbólico é o momento em que o público desaparece e o ringue se torna apenas Adonis e Damian. É uma forma bem recorrente de os animes mostrarem o quanto os personagens estão mergulhados naquela luta e que nada mais em volta interessa — e que funciona muito bem aqui. Isso sem falar, é claro, do golpe sincronizado, que gera um dos melhores momentos de todo o filme.

Vitória por pontos

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Creed 3 não é o melhor filme dessa nova trilogia, mas também não faz feio. A estreia de Jordan na direção derrapa em algumas decisões de roteiro que não fazem sentido e fazem a trama patinar, mas o saldo final ainda consegue ser muito bom.

Sem medo de arriscar influências e de abrir mão de algumas marcas registradas da franquia, o longa mostra que tem força e fôlego o suficiente para caminhar com as próprias pernas e longe da sombra de Stallone e do próprio Rocky — tanto que o lutador é citado uma única vez.

Seja apresentando novos personagens ou aprofundando os que já foram apresentados (por favor, tragam Jonathan Majors de novo), Creed 3 é a prova de que esse universo está longe de seu último round.

Creed 3 está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta seu ingresso na Ingresso.com.