Crítica Close | Filme acerta ao mostrar as consequências da homofobia
Por Diandra Guedes • Editado por Jones Oliveira |
O drama belga Close, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2023, chegou aos cinemas brasileiros prometendo uma história emocionante centrada na relação de dois jovens de 13 anos, que têm que aprender a lidar com essa nova fase da vida e com os sentimentos exacerbados que ela traz.
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Dirigido por Lukas Dhont, que também assina o elogiado Girl – O Florescer de Uma Garota, o filme faz um retrato sincero sobre a adolescência e os resultados que a homofobia pode trazer para a vida de uma pessoa e de sua família.
A trama começa mostrando a amizade entre Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois meninos que se conhecem desde a infância e que passam a maior parte do tempo juntos, seja brincando, andando de bicicleta, ou até mesmo dormindo. Nem eles e nem a família de ambos enxerga algum problema nessa amizade, mas as coisas começam a mudar quando inicia-se um novo ano escolar.
No colégio, a proximidade dos garotos chama atenção dos colegas, que começam a questioná-los se eles são um casal. Enquanto Rémi ignora os boatos, Léo nega veementemente e fica incomodado com tal situação. É a partir disso que ele começa a se afastar do amigo lentamente, sem dar muita explicação. Primeiro ingressa em um time de hóquei, depois não o espera para irem juntos para escola e assim por diante.
Esse afastamento repentino magoa Rémi, que fica sem entender o que está acontecendo e questiona o amigo, que não lhe dá mais explicações. É quando o sentimento entre os garotos passa por várias transformações: do amor de amigo à raiva, passando pela inveja e pela indiferença.
Com o avançar da trama, Rémi toma uma decisão importante — omitida nessa crítica para evitar o spoiler e não estragar a experiência do leitor — que muda drasticamente a dinâmica entre os garotos.
Um filme de poucas palavras
Uma característica marcante de Close é que o filme é construído com base em imagens. O diretor abusa dos primeiríssimos planos para demonstrar as emoções que tomam conta dos adolescentes — tanto dos protagonistas, quanto dos colegas de escola. No geral, esse estilo agrada e não compromete a história, mas há momentos em que a ausência de diálogos incomoda.
É o caso das três vezes em que Léo e a mãe de Rémi conversam, se é que se pode chamar aquilo de conversa. Fica claro que a fala engasgada, e o fato de pensar muito antes de dizer qualquer coisa, é uma decisão estratégica do filme, porém fica faltando uma cena final em que os dois conversem com sinceridade sobre o ocorrido.
A sensação que fica é que o longa terminou sem entregar esse diálogo tão necessário, ou seja, de forma incompleta.
Família fica em segundo plano
Outro ponto que pode ser questionável é o fato de as famílias dos garotos ficarem totalmente alheias aos sentimentos deles e às questões levantadas pelos colegas de escola. No entanto, Dhont acerta em deixá-los isolados em cena, em vários momentos, e focar apenas nos protagonistas mostrando como cada um lida com seus sentimentos e como isso é algo individual.
E, falando neles, tanto Eden Dambrine (que vive Léo) quanto Gustav De Waele (que dá vida à Rémi) brilham frente às câmeras. Apesar da pouca idade, eles conseguem expressar as emoções vividas pelos seus personagens sem cair no caricato. Eden, que tem mais tempo de tela, constrói um Léo tímido, angustiado e atormentado pelo sentimento de culpa. É fácil sentir empatia por ele e pela sua dor.
Bela fotografia faz o filme ser ainda melhor
Como foi dito, Close é um filme de imagens, poucas palavras, muito plano fechado e muito espaço para que os sentimentos dos protagonistas transbordem. Sendo assim, a bela fotografia do filme, que explora os campos de flores, é fundamental para deixar a história ainda mais agradável e bonita.
Seja no momento em que os garotos estão correndo pelos campos, ou quando estão andando de bicicleta, o local se torna um espaço de convivência importante para a dupla, e para o filme como um todo.
As consequências da homofobia em tela
Angelo Tijssens e Lukas Dhont — que também assina o roteiro — acertaram ao criar um filme que fala sobre as consequências da homofobia, independentemente da orientação sexual de cada personagem. Na trama, não é confirmado que Léo ou Rémi sejam meninos gays ou bissexuais, e isso pouco importa, porque ainda que sejam héteros, eles são atormentados com boatos maldosos e com as agruras de ser vítima do preconceito.
Tendo que provar aquilo que eles ainda desconhecem, a homofobia acelera um processo de crescimento, trazendo sofrimento desnecessário aos jovens e culminando em uma tragédia. Sendo assim, Close se firma como um retrato sincero, triste e real sobre como tal atitude crimonosa viola e destrói vidas e famílias.
Se o filme irá ganhar o Oscar ainda é uma incógnita, mas apesar de não ser irretocável, Close merece a chance de ser assistido.
Close está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. Para garantir sua entrada, basta comprar seu bilhete pelo ingresso.com.