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Crítica | As Panteras aposta na demonstração do poder feminino

Por| Editado por Jones Oliveira | 15 de Novembro de 2019 às 13h00

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Sony Pictures
Sony Pictures

Ao mesmo tempo renovada e saudosista, As Panteras ganha pela primeira vez uma direção feminina nas mãos de Elizabeth Banks, que também atua como uma Bosley. Sem apagar a memória dos filmes e séries anteriores, esse novo longa funciona, ao mesmo tempo, como uma sequência e um reboot, não só trazendo novas atrizes para o trio central, mas mostrando o percurso que juntou as três em um mesmo time.

Apesar de sempre terem sido personagens femininas de muito poder, As Panteras, desde a série que foi ao ar em 1976, ainda não havia se livrado do estigma da grande mente masculina que há por trás de tudo: apesar de chutarem muitas bundas, elas estiveram por muito tempo sob lideranças masculinas, como indica até mesmo o nome original, Charlie’s Angels (Anjos do Charlie, em tradução livre).

A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

Novatas

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As agentes eram anteriormente conhecidas como referenciais da beleza padrão e, por geralmente serem bastante sexualizadas (aos moldes de suas épocas), As Panteras surpreende com a escolha de elenco para o novo filme.

A pouco conhecida Ella Balinska faz Jane Kano, uma Pantera muito mais sisuda e focada nas missões que, com o tempo, se revela sensível ao seu modo; Naomi Scott, que já contribuiu com uma boa dose de girl power em Aladdin (de Guy Ritchie, 2019) é a recruta Elena Houghlin e traz para a trama uma certa dose de comédia ao bancar a novata que não está habituada com o universo do grupo; e, por fim, Kristen Stewart como Sabina Wilson, que surpreende como verdadeiro alívio cômico do filme, ao incorporar uma Pantera que, apesar de competente como as demais, é propositalmente piadista, com um humor imprevisível e afiado que encontra apoio em suas expressões faciais.

Como roteirista, Elizabeth Banks cria um caminho interessante para sua personagem, a Bosley, e o plot twist do filme gira em torno da figura do vilão que, em um primeiro momento, parece ser ela própria, uma mulher.

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Antes da revelação do verdadeiro vilão, a escolha da Bosley como vilã poderia sugerir um indicativo de reconhecimento de que o feminino não é superior ao masculino, pelo contrário, tão falho quanto. A descoberta de que John Bosley (Patrick Stewart) é o verdadeiro vilão (com uma motivação pífia) enfraquece o roteiro ao parecer que preenche uma necessária cartilha feminista, o que soa mal diante do todo, mas nem por isso deixa de ser, como dito, necessário.

Bandeiras

Embora o John Bosley seja vilanizado e o próprio Charlie seja revelado como uma mulher, As Panteras não é um panfleto de superioridade feminina. Diversos são os personagens masculinos e todos são tratados com igualdade, como deve ser. As Panteras não se propõe a um discurso de supremacia feminina, mas sim de reconhecimento de igualdade.

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Durante o primeiro ato, sobretudo nas sequências em que Sabina seduz Jonny Smith (Chris Pang) e em que Elena tenta conversar com Peter Fleming (Nat Faxon), fica claro que a intenção é demonstrar que, apesar de tudo, mulheres ainda são subestimadas pelos homens, mesmo quando são claros os sinais de que elas não são o que eles pensam.

Embora a igualdade possa ser reivindicada em muitos âmbitos, fisicamente a realidade é outra. Ainda que uma mulher possa ser mais forte ou ter uma técnica de combate melhor que a de um homem, isso não anula o fato de que são corpos essencialmente diferentes. Filmes de ação, nos quais estamos acostumados a ver homens se enfrentando, não escapam à ideia de que estruturas corporais distintas afetam a luta. Em As Panteras, mesmo aceitando que o trio é extremamente especializado, são pouco críveis as sequências de luta corpo a corpo, sobretudo quando se trata de confrontar o impiedoso brutamontes Hodak (Jonathan Tucker).

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Em se tratando de cenas de ação, Elizabeth Banks nos entrega boas coreografias e uma excelente química entre a equipe principal, sobretudo da relação entre Jane e Sabina, mas o espetáculo visual deixa clara a potência para algo ainda melhor. Os cortes parecem claramente demarcar as mudanças entre atores e dublês ao invés de tentar disfarçar esse acontecimento, o que prejudica um pouco a apreciação dessas sequências.

Motivações

Embora menos incisivo do que poderia ou deveria ser, As Panteras traz um assunto recorrente das tramas ficcionais dos últimos anos: as incertezas da tecnologia. Dentro desse tema, evitar o maniqueísmo de tecnologias que são completamente boas ou completamente más foi uma excelente opção de roteiro: não há objetos bons ou maus, mas sim seres humanos que optam em como usá-las.

O roteiro de Elizabeth Banks, infelizmente, não se pretende profundo, tocando assuntos delicados aos nossos tempos de forma bastante superficial, ainda que com cuidado para não ferir as causas com as quais está mexendo. Como diretora, Banks parece ter encontrado seu caminho, mas não sua maturidade. Para além do feminismo escrachado do roteiro, ainda não é possível vê-la como uma diretora autoral, permanecendo sem uma marca que a torne reconhecida pelo trabalho atrás das câmeras.

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Mesmo que As Panteras não pareça ser tão forte como poderia ser, ainda é um filme capaz de fazer vibrar. As personagens e as situações nas quais se envolvem são bastante representativas e capazes de gerar identificação com as espectadoras. Além disso, o figurino é um espetáculo à parte, sobretudo para os amantes de moda: a direção parece ter deixado o departamento de arte bastante à vontade para criar um visual para as personagens que passa por um closet imenso e variado sem perder a identidade de cada uma delas.

Ao fim, ainda que a militância deixe a desejar depois das primeiras cenas, o filme se sustenta como um entretenimento que preenche uma falha pouco comentada do mercado cinematográfico: o cinema de ação feito por mulheres para mulheres. Para além da questão mercadológica, a importância de filmes como esse é social.