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Crítica | Alien: Romulus revigora a franquia mirando nova geração de fãs

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21th Century Fox
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Embora muitos dos cinéfilos veteranos e fãs da cultura pop enxerguem a franquia Alien como uma unanimidade cult do sci-fi de horror e um clássico popular absoluto no mundo todo, grande parte da turma dos cabelos brancos pode se surpreender com a irrelevância que a série de filmes, iniciada com o espetacular Alien, o 8° Passageiro (1979), tem em meio ao atual público jovem. E Alien: Romulus, o mais recente capítulo, pode resolver isso, pois revigora a saga dos Xenomorfos com uma pegada que combina elementos clássicos com terror adolescente.

Falando assim até parece pior do que é; contudo, Alien: Romulus, estreante no circuito nacional na quinta-feira passada (15), vai bem demais. O diretor Fede Alvarez fez questão de declarar que é mesmo fã de carteirinha dos dois primeiros capítulos da franquia, especialmente o inicial, de Ridley Scott.

Só lembrando: a crítica é livre de spoilers!

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Antes de qualquer coisa, a sinopse: em uma época em que a Terra já está conseguindo avançar nos planos de terraformação e exploração espacial, uma nave que retorna de uma missão começa detectar estranhos sinais vindos de um asteroide. Depois de a corporação Weyland-Yutani recrutar uma equipe novata para uma tarefa de checagem e monitoramento aparentemente simples, tudo muda quando um dos tripulantes exibe sinais de violência causados por uma criatura misteriosa.

O que parecia ser um ataque isolado se transforma em um terror constante, pois o tripulante atacado levou para dentro da nave o embrião de um alienígena que cresce e se reproduz rapidamente, claro, com aquela sede assassina tradicional.

Quando se passa a trama de Alien: Romulus?

Para não se perder na cronologia, vamos lá: Prometheus (2012) mostrou os titãs esquisitos, porém quase divinos, chamados de Engenheiros criando uma arma biológica de destruição em massa no ano de 2089. Os seres humanos ainda estavam testando as viagens espaciais para mundos distantes, a partir da tecnologia e dos recursos oferecidos pela fusão das gigantes Weyland e Yutani.

Alien: Covenant (2017) acontece pouco depois, em 2104, quando vemos o primeiro processo de gestação e os Xenomorfos ainda em produção limitada. Em seguida vem Alien, o 8° Passageiro (1979), em 2122, revelando que a fusão Weyland-Yutani possui planos muito mais sombrios do que divulgam publicamente.

Depois disso vem Aliens, O Resgate (1986) e Alien 3 (1992), ambos ambientados no mesmo ano narrativo, 2179. Alien: Romulus exibe a primeira invasão múltipla e algumas surpresas entre Alien, o 8º Passageiro e Aliens, O Resgate, em 2142 na cronologia da trama. E, embora Ridley Scott já tenha rejeitado Alien: Ressurection (1997) no cânone, os eventos acontecem em 2381. 

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Personagens trazem a franquia para os anos 2020

O elenco de Alien e a dinâmica entre os personagens no primeiro filme foi um marco, porque em 1979 não era de costume vermos tanta diversidade e protagonista feminina, sem o tradicional “mocinha em perigo” da época; e também sem o clichê de “interesse amoroso” que se desenrolava ao longo de quase todos os títulos que chegavam aos cinemas. Alien, o 8º Passageiro se tornou cult justamente por essas e outras características iconoclastas na virada para os anos 1980.

Contudo, tanto Alien, o 8º Passageiro quanto Aliens, o Resgate têm um difícil apelo para o público mais jovem atualmente. Além de temas sem conexão, não há no elenco um adolescente, por exemplo; somente astronautas, físicos, médicos e pesquisadores bem mais velhos. 

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Além disso, cada geração tem um certo estranhamento com relação ao estilo de narrativa e edição dos filmes. Assim como eu detestava a lentidão, as transições, e até as atuações de títulos dos anos 1940 como Cidadão Kane, muitos na casa dos 20 anos ou inferior têm dificuldade de ver o primeiro Star Wars, por exemplo, outro filme de 1979.

Então, Fede Alvarez troca os especialistas mais velhos por um grupo de jovens que, em situação de perrengue, aceitam o trampo da Weyland-Yutani, que, assim como nos quadrinhos da Marvel Comics, assume seu papel de grande vilã da franquia — ou seja, qualquer adolescente no início da vida profissional que já aceitou um trampo perigoso e insalubre compreende e se conecta com os dilemas e tretinhas internas do grupo.

Outra boa sacada do diretor foi incluir algumas referências visuais e até de personagens no estilo survival horror do game Alien: Isolation, lançado em 2014 e que fez um baita sucesso. Até a capa do jogo é praticamente reproduzida à perfeição em certa tomada.

Ainda que no decorrer do filme as atuações soem mais dramáticas e adultas, o Primeiro Ato parece mesmo um longa de terror adolescente, com personagens que reproduzem o comportamento e o visual da galera de hoje. Destaque para Cailee Spaeny, que interpreta a guerreira da vez, Rain; e para David Jonsson, que mantém a tradição de sintéticos entre a frieza e a emoção na pele de Andy.

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Som de primeira grandeza e estética retrô

Alvarez respeita bastante a cronologia, a identidade visual e a narrativa do primeiro filme; e faz espertas conexões com alguns detalhes da trama referenciando Prometheus e Alien: Covenant. As cores avermelhadas em alto contraste e os mesmos corredores labirínticos e claustrofóbicos também estão ali.

O diretor também caprichou nos efeitos especiais ao convocar a mesma equipe que produziu os efeitos práticos de Aliens, o Resgate. Ele só dá uma exagerada a mais nas já sugestivas formas alienígenas orgânicas criadas pelo artista H.R. Giger. Então, se você notar ali uma ou outra sequência em que os bichos e seus biotipos parecem estar fazendo parte de um filme adulto, não se surpreenda, já que os anteriores também brincam com referências ao próprio ciclo de vida do Alien, desde a fecundação, passando pela gestação, nascimento, desenvolvimento e morte.

E Alvarez também se dedicou bastante para manipular nossas emoções com efeitos sonoros e edição de som consistentes, precisos e bem pontuados. Por exemplo, ele brinca com o barulho do Alien quebrando ossos para romper a caixa torácica dos hospedeiros e também acelera a tensão com um trilha atonal e angustiante em vários momentos.

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E, claro, ele usa isso também para promover uma contagem de sustinhos “jump-scare” maior do que precisávamos para um filme que se leva mais a sério do que um terror adolescente. No quesito técnico, a única coisa que incomoda mesmo é o cenário trash do planeta, que aparece pouco, mas quando é mostrado parece um cenário infinito de jogo de corrida espacial do PlayStation 2.

Vale a pena?

Finalmente temos uma sequência de Alien que estávamos esperando, já que, embora Prometheus e Alien: Covenant tenham trazido novidades para o cânone, a estrutura e os personagens, assim como a própria atmosfera, pareciam apenas um pouco mais dos mesmos clichés autorreferentes. 

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Alvarez, embora também use os mesmos clichés — e cliché não significa ser ruim —, ele faz mais em tom de homenagem, porque sua ambientação e sua violência gráfica gore é muito mais aterrorizante do que os originais. No ato final do filme, brilha com sua própria assinatura, com sua tradicional “doencinha”, trazendo uma conclusão bizarra e de arrepiar.

Então, se nunca viu um Alien, mergulhe de cabeça nesse, porque, além de trazer uma trama independente dos outros filmes e com personagens novos, você provavelmente vai querer curtir os anteriores da franquia, principalmente os dois primeiros. E se é veterano, vá na maior felicidade curtir o que os Xenomorfos ainda podem nos dar de melhor no entretenimento.