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Crítica | A Batida Perfeita é leve, romântico e fácil de assistir

Por| Editado por Jones Oliveira | 09 de Abril de 2021 às 11h58

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Focus Features
Focus Features

Alguns filmes parecem não ter a intenção de ir além de si mesmos. Eles assumem um ar de fragilidade e permanecem dessa forma desde a idealização. A Batida Perfeita é exatamente assim: por mais que o roteiro da estreante Flora Greeson tente flertar com comentários sobre a indústria da música, o filme não passa de um romance leve e ingênuo — e nada há de errado nisso.

A direção de Nisha Ganatra (de Talk-Show: Reinventando a Comédia — lançado em 2019) trabalha tudo com uma aparente despretensão. Nesse sentido, não existe uma decupagem reveladora, as cenas se intercalam sem quaisquer intervenções dos planos e o universo exposto é sempre muito limpo, de uma clareza quase plástica. Mesmo assim, o coração do conjunto está sempre no lugar certo, o que não torna enjoativa a água com açúcar que é o filme.

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Atenção! Esta crítica pode conter spoilers sobre o filme!

Uma pincelada mais forte

Acontece que Ganatra demonstra, pela simplicidade de suas escolhas, construir uma química entre seus personagens que quase transcende a história. Essa relação não é arquitetada somente em torno do casal Maggie (Dakota Johnson) e David (Kelvin Harrison Jr.), porque não se trata de uma química romântica, mas de unidade. Assim sendo, nenhum personagem parece deslocado e até mesmo a pateta Gail (June Diane Raphael) tem sua função narrativa bem localizada.

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Por outro lado, enquanto o protagonismo mais evidente é da personagem de Johnson, é Grace Davis (Tracee Ellis Ross) que toma conta de A Batida Perfeita. Isso, porém, não se deve à atuação — que está em uníssono com as demais —, mas, justamente, porque o texto se arrisca em intromissões mais reais com ela. A diretora parece saber disso e valoriza os olhares de Ross, dando espaço especial a um breve monólogo no qual ela comenta sobre como aquela vida não dá lugar para mulheres acima dos 40 anos de idade e com o plus de ser negra.

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Essa breve pincelada social é tão boa que ecoa, a partir dessa cena, por todo o filme e acaba minimizando a história de Maggie. Sua luta para ser produtora após alguns anos como assistente de Davis transforma-se em um obstáculo muito menor em comparação à potência da briga interna da famosa. Por essa perspectiva, é como se a personagem de Ross furtasse o protagonismo do filme, relegando aquela jovem ao romance fofo e clichê (sem mau sentido).

Nada de errado

De todo modo, a história de Maggie só tem relevância por se confundir com os últimos trabalhos de Davis. É interessante, portanto, que sua presença (a de Maggie), muitas vezes invisível, só seja notada quando da sua ausência. A velha verdade de que o valor de algo só é sentido quando é perdido é bem exposta no filme. Porém, há um conjunto de plot twists que pode transformar o terceiro ato de The High Note (título original) em um coelho na cartola.

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É como se M. Night Shyamalan assumisse um roteiro de romance quase finalizado e resolvesse brincar. Então, o filme atira para tantos lados a esse ponto que pode até desorientar. Durante esse processo, o que era sério desaparece de vez, o que nunca havia sido mostrado (como a revelação que envolve David e Davis) torna-se o mote principal — praticamente finalizando o filme em um grande show — e, em meio a tudo, felizmente, há a participação carismática de Bill Pullman como Max, o pai de Maggie.

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No final das contas, A Batida Perfeita é leve, dinâmico, fácil de assistir, romântico... um docinho. Só lhe faltava ter um roteiro mais direcionado e uma direção que, além de colocar o coração no lugar certo como já o faz, pudesse dar força para aquilo que a obra é de fato: um romance leve e ingênuo — porque nada há de errado nisso.

A Batida Perfeita está disponível no streaming do Telecine.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.