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Voz interior | Cientistas captam palavras que pessoas pensaram, mas não disseram

Por  • Editado por Melissa Cruz Cossetti | 

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Kunz et al, 2025/Cell
Kunz et al, 2025/Cell

Na última quinta-feira (14), em um estudo publicado na revista Cell, cientistas conseguiram decodificar palavras que as pessoas pensaram, mas não disseram. A descoberta pode transformar a vida de pessoas com doenças como ELA (esclerose lateral amiotrófica), e faz parte do projeto BrainGate2, que já vinha testando implantes cerebrais para restaurar a comunicação de pacientes incapazes de falar. Os voluntários receberam microeletrodos no córtex motor da fala, região do cérebro que comanda os músculos da voz.

Com ajuda de inteligência artificial, o sistema conseguiu identificar sinais elétricos quando os pacientes tentavam dizer palavras em voz alta. Em alguns casos, a precisão foi de 97,5%, permitindo que frases fossem sintetizadas com a própria voz gravada antes da doença.

A grande novidade foi perceber que o mesmo padrão, embora mais fraco, aparece quando as pessoas apenas imaginam falar. Ou seja, o computador também conseguiu traduzir a chamada fala interior.

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No estudo, quando os voluntários imaginaram dizer palavras como “dia”, o sistema conseguiu identificá-las com boa precisão. Após mais treinamento, a IA passou a decodificar até frases inteiras, como “Eu não sei há quanto tempo você está aqui”.

Essa possibilidade é importante porque pacientes com ELA ou sequelas de AVC podem se cansar ao tentar articular sons. Usar apenas a voz interior pode tornar a comunicação mais rápida e menos desgastante.

Riscos e preocupações com a privacidade mental

Um dos pontos mais discutidos é a privacidade dos pensamentos. Se o sistema pode decodificar palavras imaginadas, poderia também captar ideias que a pessoa não pretende compartilhar? Em alguns testes, a IA chegou a identificar números quando os voluntários estavam apenas contando formas na tela. Isso levantou a preocupação de que o dispositivo pudesse “ouvir” pensamentos involuntários.

Para evitar isso, os pesquisadores testaram soluções, como o bloqueio seletivo, em que o sistema reconhece apenas tentativas reais de fala, ou a senha mental, em que os pacientes usam uma frase incomum para ativar ou desativar a decodificação. Esse método alcançou 98,75% de precisão, oferecendo controle sobre o que é revelado.

O futuro da comunicação pela mente

Os próprios autores do estudo reconhecem que a tecnologia ainda está longe de permitir conversas naturais apenas com a voz interior, mas o avanço é considerado um “prova de conceito” com potencial. Se refinada, essa inovação pode oferecer a pacientes a chance de se comunicar de forma fluida novamente.

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Fonte: The New York Times