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Rosalind Franklin: documentos inéditos confirmam que ela descobriu o DNA

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Vittorio Luzzati/CSHL/CC
Vittorio Luzzati/CSHL/CC

Oficialmente, os cientistas James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins são reconhecidos pela descoberta da estrutura do DNA, constituído por uma dupla hélice. Por este feito, receberam o Prêmio Nobel de Medicina em 1962. Nessa mesma história, entra também a biofísica Rosalind Franklin, de forma secundária, já que os seus estudos teriam sido “roubados” e ela “nunca” soube compreender os seus achados.

Só que o papel menor ou ainda de vítima da cientista Rosalind Franklin começa a se desmanchar frente aos novos documentos e achados, compartilhados em um artigo na revista Nature. A empreitada de tirar essa história a limpo é comandada por Mateus Cobb, professor da Universidade de Manchester, no Reino Unido, e por Nathaniel Comfort, professor da Johns Hopkins University, nos EUA.

A versão popular começou a ruir, quando a dupla de pesquisadores visitou o arquivo de Franklin no Churchill College, na cidade de Cambridge, em 2022. Ali, “examinamos suas anotações juntas, reconstruindo o desenvolvimento de suas ideias”, adiantam. Em paralelo, diferentes contestações à narrativa mainstream já foram feitas.

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Dupla hélice: a versão mais aceita sobre a descoberta da estrutura do DNA

Tanto no universo acadêmico quanto no imaginário popular prevalece a ideia de que Rosalind Franklin foi fundamental no processo de descoberta da estrutura do DNA em forma espiralada, como uma escadaria. O ponto é que, nessa versão, ela foi incapaz de interpretar seus achados e teve suas descobertas preliminares furtadas — aqui, impera a ideia de que ela não gostaria ou não teria compartilhado a sua pesquisa com Watson, Crick e Wilkins.

"A história diz que o insight decisivo para [confirmar a hipótese de] dupla hélice veio quando Watson viu uma imagem de raio-X do DNA tirada por Franklin — sem sua permissão ou conhecimento”, afirmam os autores do novo artigo. Esta é uma referência à Fotografia 51, “tratada como a pedra filosofal da biologia molecular” e “a chave para o 'segredo da vida'”.

Para entender: a Fotografia 51 era, na época, a melhor imagem já obtida da estrutura de um DNA. Por causa da nitidez, era possível vislumbrar a dupla hélice. A seguir, veja o registro:

“Nessa narrativa, Franklin, que morreu de câncer de ovário em 1958 com apenas 37 anos, é retratada como uma cientista brilhante, mas incapaz de decifrar o que seus próprios dados lhe diziam sobre o DNA. Ela supostamente debruçou-se na imagem por meses sem perceber seu significado, apenas para Watson entender de relance”, afirmam os pesquisadores.

O que há de novo na história da descoberta do DNA?

As novas evidências indicam que Rosalind Franklin não foi uma vítima, como a história optou por retratá-la. Na verdade, ela teria compartilhado os seus achados de forma ativa com os outros cientistas e, dessa forma, desempenhou um papel ainda mais importante do que só ter feito a foto mais nítida de um DNA.

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Esse ponto é corroborado por dois principais documentos. O primeiro é o rascunho de uma reportagem inédita — leia-se não publicada — para a revista norte-americana Time, escrita pela repórter Joan Bruce, que entrevistou Franklin no processo de apuração.

O texto narra que um grupo de pesquisadores se dividia, em diferentes focos, para investigar o DNA. Aqui, cabe destacar que Franklin e Wilkins usavam o raio-X para estudar essa estrutura, enquanto isso, Watson e Crick investiam em outras abordagens.

Por ter compartilhado as suas ideias com uma jornalista e ter trabalhado em conjunto com os outros pesquisadores (que levaram o Prêmio Nobel anos depois), os autores do novo estudo consideram, no mínimo, estranhos os dados de Rosalind Franklin serem um segredo, trancado no fundo da gaveta, esperando para ser roubado.

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Agora, o segundo achado, é uma carta escrita por Pauline Cowan, uma das colegas de Franklin, convidando Crick para uma palestra em que a biofísica discursaria sobre a capacidade do DNA em assumir diferentes formas, dependendo do meio em que está inserido.

"Juntos, esses documentos sugerem um relato diferente da descoberta da [estrutura de] dupla hélice. Franklin não deixou de compreender a estrutura do DNA. Ela contribuiu igualmente para resolvê-la”, completam os autores do novo estudo sobre a narrativa, até então, imprecisa sobre os bastidores deste marco para a ciência no século XX.

Fonte: Nature