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Por que não conseguimos sentir o nosso próprio cheiro?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Wayhomestudio/Freepik
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É muito fácil identificar se o seu colega de trabalho está precisando de um desodorante, próximo ao final do expediente. A mesma percepção de mau cheiro pode ocorrer ao pegar um ônibus lotado e tomado por cecê. Independente das circunstâncias, sentimos mais o cheiro dos outros que o nosso próprio. Tanto é que alguns indivíduos podem ter um hálito com odor de fezes e nem perceber.

Essa incapacidade — ou dificuldade — em perceber o próprio cheiro não tem associação com nenhuma limitação do olfato humano. Embora não cheguemos perto do olfato canino, com sua estranha capacidade de detectar até doenças, os nossos narizes são consideravelmente sensíveis, com cerca de 1,2 mil tipos de receptores olfativos. Então, o que explicaria essa dificuldade? A resposta é simples: a nossa habilidade maior é em cheirar coisas novas, o que não é o caso do nosso próprio corpo, nossas roupas ou nosso hálito.

Por que não sentimos o nosso próprio cheiro?

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Para entender, a pessoa sente um novo cheiro quando as moléculas “bombardeiam” os receptores olfativos dentro do nariz. Só que, se a exposição a essas moléculas for contínua, eles se cansam de transmitir a informação olfativa ou o cérebro passa a interpretá-la como informação inútil — os cientistas ainda não sabem exatamente de quem é a culpa em casos de fadiga do odor.

Por isso, o cheiro do perfume não costuma ser percebido até o final pelo usuário, mesmo que a fixação seja excelente. A questão também explica o porquê de não nos sentirmos fedidos, quando o desodorante já não faz mais efeito, e nem identificamos o nosso próprio mau hálito. No oposto, percebemos quase imediatamente quando alguém (de fora) precisa tomar um banho e escovar os dentes.

“O sistema olfativo é um dos melhores detectores de diferenças do mundo, e foi assim que foi projetado”, explica Pamela Dalton, psicóloga do Monell Chemical Senses Center, para o jornal The Washington Post.

Experimentos sobre a capacidade de sentir cheiros

Inclusive, a pesquisadora Dalton já realizou diferentes experimentos para compreender como o nosso cérebro e os receptores olfativos se acostumam com os cheiros. Em um desses experimentos, descrito na revista Journal of the Society of Cosmetic Chemists, ela verificou a questão dos odores ambientais.

Basicamente, Dalton pediu para que os voluntários usassem odorizadores de ar em seus quartos, com uma única fragrância, por algumas semanas. Passados os primeiros dias, os recrutados não identificavam mais a fragrância, e se tornaram menos sensíveis ao cheiro mesmo quando expostos em outros ambientes, como um laboratório.

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“O que parece acontecer na adaptação a longo prazo é que os receptores que normalmente responderiam a estes cheiros quase se desligam depois de serem bombardeados durante algumas semanas”, afirma Dalton.

Diferente do olfato, isso não ocorre com a visão ou a audição. Mesmo que esteja acostumado, na maioria das vezes, vai continuar a escutar o badalar dos sinos de uma igreja ou som de carros passando na rua.

Como saber se estou “fedido”?

Após entender parte do mecanismo por trás da fadiga de odor, fica difícil confiar em nosso bom senso quando o assunto é o cheiro que exalamos. “Infelizmente, você só pode confiar na opinião de um amigo próximo ou cônjuge”, avisa Dalton. Em casos extremos, dá para mergulhar o nariz em uma mancha de suor na camiseta, mas o resultado não é garantido.

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Fonte: The Washington Post e Journal of the Society of Cosmetic Chemists