Peixes sabem contar em grupo, e isso ajuda muito na sua sobrevivência
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Estudos envolvendo matemática e animais vêm sendo feitos há anos, tentando descobrir quais deles sabem contar e qual a dimensão dessas habilidades: mais recentemente, o cientista e professor de neuropsicologia cognitiva Brian Butterworth investigou peixes para descobrir como funcionam seus dons para a contagem, e viu que eles trabalham muito bem em equipe, ajudando até na sobrevivência.
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Para humanos, que o pesquisador também estudou, já se sabe que é fácil discriminar entre pontos numerados quando há poucos deles. O chamado efeito de razão — ou Lei de Weber — diz que, quanto maior a diferença de razão entre A e B, sejam eles pesos, luzes ou pontos, mais fácil é de notar essa diferença. Isso vale para números grandes tanto para peixes quanto para humanos, mas para números menores, fica mais complicado.
Difícil de entender? Imagine que você está tentando ver a diferença entre uma pilha de um milhão de tampinhas e uma pilha de mil tampinhas. É fácil saber qual é qual, certo? Agora, se a ideia é distinguir uma pilha de mil tampinhas de uma pilha de mil e cem tampinhas, não é possível ver essa diferença só de olho, sem contá-las — ao menos para nós, humanos.
Um, dois, três peixinhos
Já sabemos que alguns humanos possuem mais habilidade matemática do que outros — mas e os peixes? Foi essa resposta que Butterworth e sua equipe buscaram responder. O cientista, ao estudar humanos, formulou a "Teoria da Confiança Ponderada Compartilhada": no experimento, humanos tinham de decidir separadamente se havia mais pontos azuis ou amarelos em um determinado local. Se discordassem, teriam de discutir entre si e tomar uma decisão conjunta.
Segundo a teoria, quando trabalham em equipe, os humanos acabarão por concordar com o indivíduo cuja confiança compartilhada é maior. Além disso, a decisão conjunta geralmente é melhor que a média entre as decisões feitas separadamente. A questão, então, foi estendida aos peixes — e descobriu-se que sim, eles fazem a mesma coisa.
Nos experimentos, os pesquisadores verificaram quais peixes eram melhores em descobrir qual lado do aquário tinha mais peixes da mesma espécie. Alguns eram bons e outros ruins nessa contagem, e, quando esses dois tipos se juntavam, a dupla se saía melhor do que a média dos dois calculada separadamente. Duas cabeças pensam, sim, melhor do que uma.
Alguns especialistas apontam, inclusive, que não devemos subestimar os animais: suas habilidades matemáticas são muito úteis para a sobrevivência. Abelhas, por exemplo, contam indicações no terreno quando procuram por néctar, algumas formigas contam seus passos para conseguir retornar à colmeia, aranhas sabem dizer o número de insetos que caíram em sua teia.
Nos peixes, isso é importante na hora de sobreviver a predadores. Os que sabem contar melhor se juntam a cardumes maiores, onde as chances de um predador pegá-los são menores. Praticamente todos os tipos de animais sabem a diferença entre 10 ou 15, ao menos os que sobrevivem para contar: alguns, inclusive, entendem o conceito de zero, algo que só entrou na cultura humana no século VII. Chimpanzés, abelhas, corvos e outros animais compartilham desse entendimento.
A conclusão é que talvez cérebros maiores e mais potentes não sejam melhores na hora de contar, a menos que exista um sistema simbólico para fazer a matemática. Linguagem e habilidades numéricas são coisas separadas: pacientes que sofreram derrame e não conseguem falar ainda conseguem fazer contas, por exemplo.
Abelhas, com um milhão de neurônios e nenhum córtex cerebral, conseguem fazer contas assim como nós, que temos 86 bilhões de neurônios e um córtex bem funcional, obrigado. Ainda não sabemos em que lugar no cérebro das abelhas a contagem acontece, mas pesquisas como a de Butterworth podem descobrir isso — o plano, agora, é trabalhar com neurocientistas e geneticistas moleculares para desvendar mais esse segredo do mundo natural dos números.
Fonte: Discover Magazine