Organismos de 830 milhões de anos são encontrados vivos em mineral pré-histórico
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Uma equipe de pesquisadores da West Virginia University encontrou, em estudo recente, organismos procariontes e algas em cristais de halita de 830 milhões de anos. A amostra foi coletada da Formação Browne, na Austrália, uma unidade estratigráfica (ou seja, que contém várias camadas geológicas) do Neoproterozóico, cuja abundância de halita é sinal de que o ambiente já foi marinho.
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A descoberta pode representar uma nova chave para entendermos a vida primitiva da Terra, especialmente se os organismos encontrados ainda estiverem vivos, o que traria implicações no entendimento de como os primeiros organismos se formaram. A halita é feita de cloreto de sódio, ou seja, sal rochoso, e pode conter informações sobre a temperatura da água, química e temperatura atmosférica de quando o cristal foi formado.
O artigo foi publicado em maio na revista científica Geology.
Inclusão fluida e a ciência
Microfósseis não são tão raros assim: em formações rochosas, como as de folhelhos, já foram encontrados exemplares de até bilhões de anos. O sal, no entanto, não consegue preservar material orgânico, mas pode acabar abrigando pequenas quantidades de fluido, o que chamamos de inclusão fluida.
Além de fornecer informações sobre as águas e condições de quando o mineral foi formado, essas inclusões fluidas podem nos ajudar a entender as primeiras formas de vida não só na Terra, mas também em outros planetas, como Marte, com enormes depósitos salinos — evidência de reservatórios de antigos e também massivos reservatórios de água.
Micro-organismos foram encontrados vivendo em ambientes modernos onde a halita é formada, e, apesar de extremamente salgados, bactérias, fungos e algas foram vistos se desenvolvendo neles. Eles também foram identificados em inclusões fluidas em gipsita e halita, incluindo em exemplares pré-históricos: o que estava em dúvida era os microorganismos eram tão antigos quanto o mineral onde estavam.
Procariontes da Formação Browne
Os geólogos estadunidenses do estudo coletaram amostras extraídas da Formação Browne em 1997, estudando a halita com um diferencial: o método utilizado foi óptico e não-invasivo, ou seja, deixou o mineral intacto, garantindo que o material interno estaria inalterado desde que o cristal foi formado.
Com petrografia ultravioleta e luz emitida, primeiro com baixa ampliação e depois com ampliação de 2.000x, os fluidos foram estudados. Dentro da halita havia material orgânico sólido e líquidos, o que é consistente com células procariontes e eucariontes. A gama fluorescência ultravioleta interessou os cientistas em particular, já que alguns exemplares mostraram cores indicando decomposição, mas outros fluoresciam como organismos modernos, ou seja, matéria orgânica inalterada.
Há a possibilidade de que os organismos estejam vivos — procariontes vivos já foram extraídos de amostras de halita com 250 milhões de anos, então o micro-habitat da inclusão fluida pode ter abrigado colônias orgânicas por mais algumas centenas de milhões de anos. Pesquisas anteriores acreditavam que a radiação destruiria matéria orgânica como essa, mas as amostras vivas já encontradas demonstraram exposição a níveis muito baixos dela.
Mudanças no metabolismo, como resistência e sobrevivência à fome e estágios de cisto — combinados com compostos orgânicos ou células mortas que pode ser fontes nutricionais — explicam uma possível sobrevivência, tendo implicações sobre nosso entendimento do planeta Marte, que tem depósitos muito similares aos da Formação Browne.
Os cientistas afirmam que sua pesquisa mostra maneiras de identificar e estudar organismos sem destruir ou modificar as amostras, o que auxilia na contextualização geológica e dá um alvo a estudos futuros nas amostras. Sedimentos químicos como esse, que podem tanto ser terrestres ou extraterrestres, vêm sendo cada vez mais considerados como possíveis hospedeiros para formas de vida primitivas, completam os pesquisadores.
Fonte: Geology