O que é escafandro e quais as semelhanças com trajes espaciais?
Por Daniele Cavalcante | Editado por Patricia Gnipper | 28 de Novembro de 2022 às 09h20
Uma roupa de couro, um capacete de metal e um tubo de respiração — esses são os elementos básicos de um traje de mergulho padrão, conhecido como escafandro, imaginado há séculos. O conceito lembra bastante um traje espacial, mas há mais diferenças entre eles do que semelhanças.
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Escafandros são bastante icônicos por serem uma inovação fundamental para trabalhos de exploração marítima, salvamento, engenharia civil e muitos outros tipos de missões subaquáticas. Além disso, claro, os capacetes metálicos com visores de vidro são facilmente reconhecíveis.
A palavra escafandro é formada pelo termo grego skaphó (objeto escavado, em forma de canoa; barco), e anér (homem). Ou seja, poderia ser traduzida como “homem-barco” ou “homem em forma de canoa”. No entanto, a ideia não é velejar com o traje, e sim mergulhar.
Criação do escafandro
Vários projetos de escafandro foram feitos entre os séculos XVI e XVIII, mas os primeiros capacetes de mergulho bem-sucedidos foram inventados pelos irmãos Charles e John Deane na década de 1820, que, na verdade, o patentearam para ser usado por bombeiros.
O capacete era de cobre e tinha uma mangueira de couro presa atrás para fornecimento do ar, que se daria por meio de um fole, enquanto a vestimenta era feita de couro hermético. No entanto, com a falta de verba para a produção, venderam a patente para Edward Barnard.
Em 1828, o alemão Augustus Siebe comercializou o produto como um capacete de mergulho. A partir de então, foi utilizado em resgates de naufrágios e, mais tarde, o projeto recebeu melhorias fundamentais, como o traje de lona impermeável e uma válvula para evitar a inundação.
Como é um escafandro?
Para suportar pressões extremas, o escafandro precisava ser muito resistente, hermeticamente fechado e impermeável. Além disso, teria que oferecer ao mergulhador um sistema de respiração e controle de temperatura.
Assim, foram projetadas vestimentas de borracha e latão, ou até mesmo versões mais pesadas usando couro e madeira. O ar é bombeado da superfície e chega ao mergulhador por meio de uma espécie de tubo, semelhante a um cordão umbilical. Enquanto isso, o ar expelido é enviado à superfície.
O tecido emborrachado é, claro, à prova d'água, assim como a vedação do capacete e dos punhos. Por outro lado, o traje era largo e deveria ter a medida exata de gás respiratório. Se inflado demais, atrapalharia o alcance das válvulas de controle, o que poderia resultar em uma explosão do traje.
O capacete de traje padrão também contava com uma válvula de retenção na porta de entrada de ar, para o caso do tubo de ar se romper na superfície. O escafandro tem, ao todo, 86 kg e pode mergulhar até 180 m de profundidade.
Embora todos esses cuidados garantam a segurança dos mergulhadores, existem limitações, como a falta de controle da pressão, a visão limitada, a pouca mobilidade e o peso. Atualmente, os mergulhadores usam trajes bem mais confortáveis, como os aqualungs, embora ainda existam escafandros modernos para usos específicos.
Escafandros inspiraram os trajes espaciais?
As semelhanças visuais entre escafandros e trajes espaciais, como aqueles usados nas missões Apollo ou durante as caminhadas espaciais na Estação Espacial Internacional, parecem óbvias. Ambos costumam ter uma roupa hermeticamente fechada, um capacete e um cordão umbilical fazendo a ligação com sistemas de suporte à vida.
Mas o mergulho e a astronáutica exigem cuidados especiais bem diferentes entre si. Por exemplo, o fundo do mar exerce uma pressão imensa sobre o escafandro, coisa que não ocorre no espaço. Em outras palavras: um precisa resistir à pressão e o outro deve mantê-la a um nível equivalente à da superfície da Terra.
Trajes espaciais contam com um sistema bem mais complexo, na verdade. Seus equipamentos são projetados para criar um ambiente de suporte à vida confortável e seguro, para que os astronautas sobrevivam no quase váculo do espaço, onde há temperaturas extremamente altas. Já o escafandro precisa de um sistema de aquecimento interno, já que as temperaturas no fundo do mar são bastante baixas para os humanos.
Mesmo trajes de mergulho como o ADS (atmospheric diving suit) — esses ainda mais parecidos visualmente com os trajes espaciais — possuem essas diferenças. Embora possuam articulações com rolamentos para auxiliar os movimentos do mergulhador, elas vazariam em ambientes de pouca pressão, como o espaço.
Mas isso não significa que as tecnologias sejam incompatíveis, ou que não possam servir de inspiração uma para a outra. Empresas como a Paragon Space Development Corporation, que desenvolvem tecnologias para a NASA, podem aplicar em seus trajes espaciais parte dos projetos mais modernos em equipamentos respiratórios e trajes usados por bombeiros, equipes de carros de corrida e mergulhadores da Marinha dos Estados Unidos, por exemplo.