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Micróbios inéditos à ciência são encontrados no Tibete e têm potencial pandêmico

Por| Editado por Luciana Zaramela | 30 de Junho de 2022 às 19h40

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James Yungel/NASA
James Yungel/NASA

Cientistas descobriram mais de 900 espécies de micróbios desconhecidas à ciência dentro de geleiras no Platô Tibetano. Analisando os genomas dos microorganismos, determinou-se que eles têm potencial para causar novas pandemias caso as mudanças climáticas derretam o gelo e libertem possíveis patógenos na natureza.

Foram coletadas amostras de 21 geleiras locais, que foram estudadas pela Chinese Academy of Sciences. O Platô Tibetano é uma região de grande altitude na Ásia, entre as montanhas do Himalaia, ao sul, e o deserto Taklamakan, ao norte. O DNA dos micróbios foi sequenciado dentro do gelo, criando uma base de dados genômica chamada "Catálogo Tibetano de Genes e Genomas" (TG2G): é a primeira vez que uma cultura microbiana dentro de uma geleira é sequenciada geneticamente.

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Gelo, micróbios e pandemias

No total, foram identificadas 968 espécies de micróbios, a maioria bactérias, mas também algas, arqueias e fungos. Embora algumas fossem conhecidas pela ciência, 98% delas nunca foram vistas antes: a diversidade microbiana foi surpreendente, já que não se esperava tal resiliência dos organismos em condições tão extremas, com baixas temperaturas, altos níveis de radiação solar, ciclos periódicos de gelo e degelo e limitação de nutrientes.

A idade dos microorganismos não é conhecida, mas a ciência consegue reviver micróbios congelados de até 10.000 anos. Em 2020, o mesmo local já havia surpreendido a ciência com 33 grupos diferentes de vírus vivendo sob o gelo, 28 inéditos à ciência.

Essa diversidade gera preocupação por parte dos cientistas: o derretimento que resulta das mudanças climáticas pode liberar micróbios perigosos — principalmente bactérias —, com chances de causar epidemias ou até pandemias. Cerca de 27.000 fatores de virulência foram identificados no catálogo TG2G pelos cientistas, ou seja, moléculas que ajudam as bactérias a invadir e colonizar potenciais hospedeiros.

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Dos fatores de virulência, 47% deles nunca foram vistos antes, então não há como saber o quão prejudiciais essas bactérias podem ser. E mesmo que elas sobrevivam pouco após escapar do gelo, ainda há o risco de que passem seu DNA à frente, os elementos genéticos móveis (MGEs), para outras bactérias. Caso microorganismos modernos herdem genes das bactérias de geleiras, os resultados podem ser preocupantes.

O Platô Tibetano, especificamente, pode acabar dando origem a pandemias porque ele alimenta o Rio Amarelo, o Yangtze e o Ganges, na China e Índia, respectivamente, e muitas outras vias fluviais, que correm em dois dos países mais populosos do mundo. Sabendo como pandemias se espalham facilmente por locais muito habitados, como vimos com a covid-19, é fácil imaginar o nível de preocupação dos cientistas.

Mais de 20.000 geleiras no planeta cobrem 10% da massa terrena, cada uma delas com sua própria colônia microbiana. Análises de satélite do ano passado mostram que quase todas as geleiras estão perdendo gelo de forma acelerada, aumentando as chances de liberar patógenos perigosos pelo globo.

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Ainda assim, há um lado bom na história: o genoma coletado e reunido no TG2G pode ser usado como uma caixa de ferramentas para a bioprospecção, ou seja, o aproveitamento de compostos novos que podem ter usos medicinais, cosméticos e tecnológicos. Principalmente no caso dos microorganismos das geleiras se extinguirem no futuro, é importante ter o seu DNA armazenado e analisado.

Fonte: Nature