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Mamães golfinho usam voz de bebê para "falar" com filhotes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Junho de 2023 às 19h24

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 imagesourcecurated/envato
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A presença de um bebê, todos sabemos, faz com que os humanos adultos se comportem de maneira diferente — mais carinhosos e ternos, especialmente se forem os pais da criança, eles passam a exagerar nos sons, encurtar as frases e falar de forma mais musical ou cantante. É o famoso baby talk, ou “fala de bebê”, em português, que a ciência classifica como língua materna.

Apenas um número reduzido de espécies animais muda a forma sonora de se comunicar quando se dirige aos filhotes. Alguns exemplos são o tentilhão-zebra (um tipo de pássaro), o macaco-rhesus e o macaco-esquilo — nenhum deles, no entanto, usa o baby talk como nós. Agora, pela primeira vez na biologia, cientistas documentaram o primeiro uso desse tipo de linguagem em uma espécie não-humana. São os golfinhos-nariz-de-garrafa da Flórida, estudados por 3 décadas.

Porque usamos baby talk?

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Cientistas acreditam que o uso da fala diferenciada com os bebês é uma forma de ajudá-los a aprender a fazer os mesmos sons que nós fazemos. Aprender uma língua é difícil, então usamos suas palavras de forma mais intuitiva, tirando palavras desnecessárias ao entendimento da mensagem, acentuamos os sons e deixamos as sílabas mais claras. Até mesmo o tom de voz fica mais alto.

Alguns estudos já mostraram que essas mudanças na voz são capazes de chamar e prender a atenção dos pequenos muito melhor do que a fala normal de um adulto. E mais: quando os pais são ensinados a usar a linguagem da mãe, os filhos tendem a balbuciar mais e ter um maior vocabulário ainda pequenos.

Cientistas da linguagem diferenciam a língua materna do popular baby talk, no entanto, motivo que deixa a lista de animais que usa linguagem materna tão limitada até agora. A questão é que o aprendizado vocal é extremamente raro — das milhões de espécies animais que usam o som para a comunicação, apenas um seleto grupo precisa aprender o sistema de comunicação vocal de seus pais.

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O baby talk aquático e a linguagem dos golfinhos

Os golfinhos têm grupos sociais e uma linguagem complexa, como os golfinhos-nariz-de-garrafa estudados por cientistas desde a década de 1980, na Flórida. As mães e filhotes da espécie se comunicam com canções e assobios, o que levou os pesquisadores a se perguntar se havia alguma linguagem materna ali.

Os filhotes são amamentados pelas mães por 2 anos, ficando próximos a elas de 3 a 6 anos enquanto aprendem a caçar, navegar e escapar de predadores. Os pais não costumam participar da criação da prole.

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A vocalização mais comum dos animais é o assobio clássico dos golfinhos, um som único para cada indivíduo que interpretamos como seu nome. Nas “conversas”, cada golfinho oferece seu assobio característico e espera a resposta do outro com seu próprio assobio único. É como se uma mãe fosse à janela e gritasse o próprio nome para chamar a atenção dos filhos.

Os cientistas do Instituto Oceanográfico Woods Hole, que estudam os golfinhos da Flórida, são tão presentes para realizar suas pesquisas que os cetáceos se acostumaram com eles. Parte do trabalho são exames veterinários periódicos, durantes os quais é comum grudar um hidrofone, pequeno dispositivo de gravação, na testa das mães golfinho, com ventosas do tamanho de um punho, removidas mais tarde.

Com gravações de 19 golfinhos fêmeas diferentes em mãos, tomadas por 34 anos, foi possível descobrir uma frequência mais ampla de comunicação quando as mães falavam com os filhotes. Isso quer dizer que os sons agudos eram mais altos e os graves mais baixos quando os filhotes estavam próximos.

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Como apenas um contexto de comunicação foi examinado, há outras possibilidades para a diferença de voz, como alguma alteração vocal produzida pela amamentação. Um estudo de 2017, no entanto, mostrou uma mudança idêntica nos assobios das mães golfinho enquanto eram estudados os efeitos dos ruídos humanos na vida dos animais. Isso, ao menos, mostra que os animais mudam o tom de “voz” quando necessário.

Fonte: Psychological and Cognitive Sciences, NatGeo