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Machos grávidos | É assim que ocorre o nascimento incomum dos cavalos-marinhos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 05 de Setembro de 2022 às 11h40

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DegrooteStock/Envato
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Cientistas dizem ter descoberto mais segredos sobre a reprodução dos cavalos-marinhos, animais que, junto aos peixes-cachimbo, têm uma gestação curiosa — nessas espécies, é o macho que engravida e dá à luz os filhotes. Os embriões, nos pais, ficam incubados em uma bolsa presente na cauda, semelhante ao útero das fêmeas mamíferas, com placenta inclusa.

Os cavalos-marinhos também dão nutrientes e oxigênios aos bebês durante a gestação, com instruções genéticas parecidas com a da gravidez dos mamíferos. A semelhança, no entanto, parece terminar por aí, segundo a nova pesquisa, publicada na revista científica Placenta: para dar à luz, o mecanismo é elaborado e envolve até mesmo substâncias químicas diferentes.

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O parto dos cavalos-marinhos

O parto é um processo biológico controlado por hormônios como a ocitocina, que, nos mamíferos e répteis, induz a contrações no músculo liso do útero. A contração dos músculos lisos é involuntária e lenta, ou seja, nós não a controlamos: ele está presente nas veias e órgãos internos. Os intestinos se contraem para mover comida durante a digestão, sem controle consciente, por exemplo.

Os únicos músculos que controlamos são os esqueléticos, que se ligam aos ossos através dos tendões. Já os músculos cardíacos, específicos do coração, também são de controle involuntário. Em mamíferos e répteis, a presença de ocitocina pode ser medida no momento do parto, mas e os cavalos-marinhos? Essa foi a resposta buscada pelos cientistas.

Dados genéticos sugeriam um processo semelhante, e um estudo da década de 1970 mostrava que cavalos-marinhos machos sem gravidez, quando expostos à versão dos peixes da ocitocina — a isotocina —, comportavam-se como se estivessem dando à luz. A teoria, então, é de que hormônios da família da ocitocina faria os músculos dos animais contraírem.

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Ao expor pedaços do tecido da bolsa dos cavalos-marinhos à isotocina, ela não se contraiu — o que aconteceu com o tecido do intestino, no entanto. No microscópio, notou-se que a bolsa tinha apenas pequenos amontoados de músculo liso, muito menos do que em úteros de mamíferos ou répteis. Foram utilizadas, então, técnicas de imageamento 3D com microscopia para comparar os corpos de fêmeas e machos da espécie.

Os machos de cavalo-marinho possuem três ossos próximos à abertura da bolsa, parecidos com ossos esqueléticos grandes. É o tipo de músculo e osso que controla a barbatana anal em outras espécies de peixe: nos cavalos-marinhos, essa barbatana é minúscula e praticamente inútil para o nado. Tais ossos são muito maiores nos machos e sua posição sugere que eles controlem a abertura da bolsa.

Novas descobertas

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Os cientistas, então, observaram o ritual de acasalamento dos animais, especificamente a espécie Hippocampus abdominalis: nela, os machos abrem e fecham a bolsa enquanto a enchem de água, contraindo seus corpos, antes de dançar com a fêmea.

Durante o parto, o comportamento é parecido, acompanhado de aberturas breves da bolsa e sacudidas fortes do próprio corpo, o que, com as contrações, expulsa a água do mar, aumentando a abertura da bolsa aos poucos, até que os filhotes consigam sair.

Com essa análise, os cientistas concluíram que o processo de contração da bolsa utilizado tanto no ritual de acasalamento quanto no parto é controlado conscientemente com a ajuda de músculos esqueléticos, diferenciando os animais dos mamíferos e répteis consideravelmente. Estudos biomecânicos e eletrofisiológicos futuros, no entanto, serão necessários para testar a força necessária para abrir a bolsa e confirmar a descoberta.

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Outra conclusão é de que os hormônios da família da ocitocina, ao invés de ter um papel primário na contração da bolsa através dos músculos lisos, na verdade seriam um gatilho para os comportamentos conscientes que levam ao nascimento. Caso a hipótese se confirme, esses fantásticos animais marinhos ganharão uma característica ainda mais única aos nossos olhos.

Fonte: Placenta