Fósseis de aves que viveram com os dinossauros estão reunidos em terreno de SP
Por Natalie Rosa | 14 de Outubro de 2020 às 22h00
A cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, está prestes a se tornar um abrigo de fósseis de aves que viveram junto aos dinossauros, que surgiram há 225 milhões de anos. A região, um terreno cercado de residências, vem sendo local de grandes descobertas de paleontólogos e pode se tornar a principal jazida da classe do Brasil.
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Foi lá, inclusive, que os pesquisadores encontraram o primeiro crânio de uma dessas aves no país, que viveu entre 70 milhões e 80 milhões de anos atrás. A criatura tinha o tamanho aproximado de uma pomba atual, contando ainda com dentes no bico, assim como seus parentes dinossauros.
Antes de aparição do crânio completo, os pesquisadores já haviam identificado também um pré-maxilar que mostrava não só seus dentes, como também outros materiais que estão relacionados aos pássaros pertencentes ao grupo extinto de aves voadores chamado Enantiornithes.
Presidente Prudente também apresentou milhares de outros fósseis de pássaros. De acordo com William Nava, cientista do Museu de Paleontologia de Marília, que vem atuando no sítio arquelógico desde 2004, são, ao menos, três as espécies não descritas ainda de aves deste material coletado. "Tudo indica que elas trocavam os dentes periodicamente, tal como os crocodilos de hoje", acrescenta.
Estas aves, infelizmente, acabaram desaparecendo há aproximadamente 65 milhões de anos, junto a dinossauros classificados como não sendo aves. Inclusive, os pássaros de hoje, de acordo com a classificação evolutiva, também são considerados dinossauros.
Raridade
Fósseis tão antigos como o destes pássaros descobertos em Presidente Prudente são bastante raros no Brasil, frequentemente encontrados em fragmentos, já que seus esqueletos são pequenos e delicados, bastante diferente daqueles dinossauros enormes que costumamos ver em museus. O exemplar de fóssil mais completo encontrado até hoje, no entanto, tem o tamanho de um beija-flor e foi descoberto em rochas do Ceará em 2015, mais precisamente na região da chapada do Araripe.
Os fósseis descobertos no interior de São Paulo estão sendo estudados com dois paleontólogos argentinos: Luis Chiappe, do Museu de História Natural de Los Angeles, e Agustín Martinelli, do Museu Argentino de Ciências Naturais. Se junta ao time o brasileiro Herculano Alvarenga, com especialidade em aves extintas.
Uma das missões dos paleontólogos também é entender como esses ossos foram se concentrar em uma mesma região, que conta com tão pouco espaço. Nava acredita que pode ter acontecido um evento catastrófico que acabou transportando esses corpos por uma curta distância e os agrupando no terreno. Eles acabaram sendo cobertos com lama fina e de forma tranquila, permitindo a sua preservação até hoje.
Também já foram encontrados ali fósseis de outras espécies de animais, como lagartos, crocodilos, anfíbios, além de escamas de peixe, fezes fósseis (coprólitos), e até dentes de dinossauros herbívoros e carnívoros. A região, felizmente, está protegida pelo município de Presidente Prudente, pertence à prefeitura e já foi tombado e cercado, o que acaba o tornando livre da possível construção de empreendimentos privados.
Fonte: Folha de S. Paulo