Estudo diz que linguagem dos chimpanzés é muito mais complexa do que se pensava
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, na Alemanha, gravaram e estudaram quase 5.000 gravações de chimpanzés ocidentais selvagens (Pan troglodytes verus) adultos no Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim, e descobriram uma linguagem mais complexa do que se imaginava dos símios. O estudo foi publicado na revista Nature Communications.
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Foram encontradas cerca de 390 sequências vocais únicas, combinando diversos tipos de chamados dos animais como se fossem frases. Embora pareça pouco em comparação às praticamente infinitas combinações de sentido que a linguagem humana é capaz de produzir, nunca antes se havia quantificado as capacidades comunicativas do chimpanzés, tornando o número uma surpresa aos pesquisadores.
Comunicação símia
No estudo, o objetivo era verificar como os macacos combinavam vocalizações individuais em sequência, ordenavam-nas nessas sequências e recombinavam essas "frases" independentes em sequências ainda maiores. Embora combinações como estas já tenham sido estudadas, é a primeira vez que uma análise quantitativa mais ampla foi aplicada ao comportamento comunicativo dos chimpanzés.
Foram gravadas 900 horas de vocalização vindas de 46 espécimes em três comunidades diferentes. Foram, então, analisadas as combinações singulares, combinadas em sequências de duas unidades (bigramas) ou três unidades (trigramas). Também foram mapeadas as redes nas quais essas vocalizações se combinavam, além da ordenação e recombinação de falas frequentes, como, por exemplo, ocorrências de bigramas dentro de trigramas.
Foram identificados 12 tipos de vocalização diferentes, incluindo grunhidos, arquejos, uivos, gritos e ganidos, entre outros sons que pareciam significar coisas diferentes a depender de como eram usados, além do contexto em que a comunicação era feita. Grunhidos isolados, por exemplo, são utilizados com comida, enquanto grunhidos arquejados (ofegantes, arfantes) são saudações submissas, segundo os cientistas.
Uivos isolados são direcionados a ameaças, mas quando eles são arquejados, a utilização é feita em comunicações entre grupos. As combinações destas vocalizações puderam ser combinadas em até 390 sequências diferentes, mas os cientistas acreditam ser uma estimativa baixa, já que outras sequências ainda estavam sendo encontradas quando o limite de gravações foi atingido em campo.
A implicação dos achados é que a comunicação dos chimpanzés é muito mais complexa do que pensávamos, com mais sofisticação de sentidos, além de dar um vislumbre de como a linguagem humana pode ter surgido. Com 12 tipos diferentes de vocalização, o potencial é de gerar centenas de significados diferentes, dizem os cientistas.
O plano, agora, é gravar ainda mais vocalizações, buscando entender como a diversidade e ordenação das frases se relaciona com a geração de sentidos versáteis, o que não foi considerado no estudo. Os chimpanzés, dizem os pesquisadores, são tão socialmente complexos quanto os humanos, então o estudo deles é muito interessante. Há muito ainda a ser dito — tanto pelos símios quanto pelos cientistas.
Fonte: Nature Communications