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A razão para gostarmos de bebidas alcóolicas pode ser explicada por... macacos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 05 de Abril de 2022 às 15h00

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THP-Creative/Envato
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Não é de hoje que sabemos que o ser humano gosta de álcool: nós, assim como muitos outros mamíferos, temos genes que nos proporcionam a habilidade de metabolizar etanol e extrair calorias da substância. O que não se sabe, exatamente, é porque ou de onde vem essa afinidade com o consumo de bebidas alcoólicas.

Há algumas teorias, no entanto, que vêm preenchendo essa lacuna científica — uma delas vem do estudo de primatologistas como Christina Campbell, da California State University, Northridge, que observou o comportamento de macacos-aranha-de-Geoffroy (Ateles geoffroyi) em seu habitat natural, no Panamá. As frutas comidas regularmente pelo símio contém pequenas doses de etanol: o estudo que investiga o caso foi publicado na revista científica Royal Society Open Science em março desde ano.

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O elo perdido e o macaco bêbado

Além de ter descoberto que as frutas de palmeira comidas pelos macacos são etílicas, Christina e sua aluna Victoria Weaver, que lideraram o estudo, também encontraram metabólitos específicos ao etanol em amostras de urina de dois dos macacos-aranha, o que sugere que o álcool não só passa pelo corpo deles, mas é digerido e utilizado de alguma forma. A primatologista comentou ser a primeira vez que se vê um primata selvagem consumindo uma fruta etílica sem interferência humana — fortalecendo a "hipótese do macaco bêbado".

Segundo essa teoria, proposta pelo biólogo Robert Dudley, da University of California, Berkeley, no ano 2000, a atração que os macacos têm pelo cheiro e sabor do etanol seria uma vantagem evolutiva que ajuda a encontrar frutas maduras e energizantes, fazendo com que eles consigam comê-las antes de outros animais. Nós, humanos, temos essa mesma característica, mas ela já não se baseia mais nos benefícios nutricionais da substância: aprendemos a destilar bebidas, tornando a vantagem primata em um perigo vicioso em potencial.

Até agora, a teoria não tinha muitas evidências concretas. Chimpanzés (Pan troglodytes), por exemplo, bebem seiva a fermentada de palmeiras, que contém concentrações de álcool próximas a 7%, mas não sabemos se é o etanol que os atrai e nem se eles ficam bêbados ao ingeri-lo. A sensibilidade primata a frutas alcoólicas já havia sido notada em cativeiro, mas a pesquisa de Christina é a primeira a observar o comportamento na natureza.

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O porquê do etanol

A autora do estudo comenta que os macacos-aranha-de-Geoffroy provavelmente buscam as frutas etílicas por conta das calorias: frutas fermentadas fornecem mais energia do que as não-fermentadas através do maior teor calórico. As frutas que esses símios consomem, inclusive, fazem parte da produção de certas variedades de chicha, bebida alcoólica fermentada por povos indígenas da América Central e do Sul.

Nossa preferência por bebidas como essa podem ser consequência dessa "fome" por frutas maduras. A levedura, quando se alimenta de açúcar, produz álcool, provavelmente para afastar a competição. Ao ter esse cheiro espalhado no ar, animais como nós são atraídos. Consumindo as frutas fermentadas, ganhamos mais energia, mas também ficamos bêbados. Já o macaco-aranha provavelmente não fica — além das frutas terem só 1% ou 2% de etanol, os animais também enchem o estômago antes dos efeitos inebriantes os atingirem.

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Mas é provável que eles obtenham algum benefício fisiológico com esse consumo, comenta Dudley. Efeitos anti-microbianos podem estar em jogo, ou ações da levedura, com os micróbios pré-digerindo a fruta. As vantagens evolutivas do consumo de álcool em um ancestral compartilhado por nós deixam evidências no DNA: chimpanzés, bonobos, gorilas e Homo sapiens têm o mesmo gene que aumenta a quantidade de enzimas digestoras de etanol em 40 vezes comparado com outros parentes ancestrais, como o orangotango.

Mais pesquisas são necessárias para descobrir quais vantagens esse gene providencia exatamente, mas o consumo de calorias adicionais já se destaca como um benefício importante em um ambiente onde é difícil de consegui-las. As autoras concluem o estudo dizendo que, dado que mamíferos em geral tendem a ver uma seleção positiva desses genes, é provável que o consumo natural de carboidratos fermentados seja mais generalizado do que percebemos atualmente.

Fonte: Royal Society Open Science