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Especialista fala sobre possíveis megadesastres do século 21

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Reprodução: lenzius/Pixabay
Reprodução: lenzius/Pixabay

Ainda estamos no início do século 21 e temos longos 80 anos à espera de nossos filhos e netos, já que não estaremos mais aqui — ao menos que até lá alguma tecnologia permita a vida eterna.

Antes mesmo da pandemia do novo coronavírus emergir como um filme de terror, o escritor Jeffrey Schlegelmilch criou um livro que serve como um guia para os grandes desastres do século 21, chamado Rethinking Readiness: A Brief Guide to Twenty-First-Century Megadisasters. Infelizmente, não encontramos uma versão em português à venda.

Schlegelmilch, que também é diretor do Centro Nacional de Preparação para Desastres da Universidade Columbia, em Nova York, vem dedicando uma boa parte da sua vida pensando em catástrofes que podem acontecer, se tornando um grande preparador de emergências.

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Com o surgimento da pandemia da COVID-19, que, mesmo apresentando indícios de ser algo grave, não nos preparou para o que estava por vir no decorrer dos próximos meses, toda prevenção contra as possibilidades são válidas, mesmo que possa parecer um absurdo. Além disso, temos o aquecimento global batendo em nossa parte há bastante tempo, mas pouca coisa sendo feita contra as suas consequências.

Pensando nisso, Schlegelmilch concedeu uma entrevista ao próprio site da universidade em que trabalha, fornecendo dicas de como nos prepararmos para os próximos anos que ainda farão parte deste século.

Os desastres do século 21 serão diferentes do passado?

"Os desastres que estamos vendo já são diferentes daqueles do passado", diz o profissional dos desastres, citando eventos climáticos e vidas que estão sendo perdidas em meio à tentativas falhas.

"Isso acontece porque a atividade humana está contribuindo tanto para ameaças subjacentes quanto para a nossa vulnerabilidade a elas", conta o profissional, afirmando também que já estamos presenciando altas taxas de poluentes na atmosfera, zonas de inundação sendo construídas a cada vez mais, além de outros desastres climáticos e relacionados à saúde.

Cástrofe e megadesastres significam coisas diferentes

Para quem tem dúvidas sobre a diferença dos termos catástrofe e megadesastre, Schlegelmilch explica: "Penso nos megadesastres como coisas que são tão grandes que afetam até os próprios sistemas criados para responder a desastres", diz. O profissional cita ainda como exemplo a Peste Negra, que aconteceu na Europa entre 1346 e1353, e a Grande Fome da Batata, que atingiu a Irlanda entre os anos de 1845 e 1849.

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A pandemia do novo coronavírus é um megadesastre?

Schlegelmilch diz que assim que a pandemia começou, ele começou a revisar o seu livro e ficou assustado com a seção de pandemias, pois a pesquisa e frases ditas por especialistas que entrevistou podem ser a explicação pela qual a COVID-19 ficou fora de controle tão rapidamente.

No entanto, ele conta que por mais que o novo coronavírus tenha provocado um grande impacto na sociedade e na comunidade global, de várias formas isso tudo poderia ser muito pior. Ele cita como exemplo a Peste Negra no século 14 e a gripe de 1918, que apresentaram um número muito alto de mortes, como o que vem acontecendo agora. A diferença entre aquela época e hoje é que "ainda temos o poder de mitigar os impactos e construir sistemas mais resilientes para pandemias futuras".

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O autor diz ainda que a escala do desastre que a COVID-19 vai se tornar e estar presente nos livros de história ainda não está pronta, e que tudo vai depender das decisões que tomarmos hoje. "Então, estou relutante em colocar (a COVID) na mesma categoria que esses outros. Ainda estamos em tempo de reduzir os impactos, se formos holísticos em nossa perspectiva e colaborativos em nossas abordagens", complementa.

A mudança climática será o maior megadesastre do futuro?

Jeffrey Schlegelmilch diz que a resposta a essa pergunta será indireta, contando que o planejamento baseado em cenários é usado por muitos, principalmente por políticos, que usam desastres como terremotos ou furacões para criar uma história que pode ser construída em diferentes ângulos. Com isso, cenários começam a ser executados para testar esses problemas gerais com base em fatores diferentes.

Então, o autor diz que o seu livro faz exatamente o contrário: apresenta cinco grandes cenários de desastres para que sejam enquadrados os problemas principais. "Acredito sinceramente que os megadesastres em potencial são todos produtos de uma trajetória de desenvolvimento insustentável, na qual o crescimento é priorizado em vez da resiliência, e onde demandamos simplicidade em um mundo interdependente e a cada vez mais complexo", explica. Resumindo, nenhum desses cenários, segundo Jeffrey, acontece isolado dos outros e é preciso promover recursos que possam responder a todas as incertezas que teremos pela frente.

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Por que devemos nos preocupar novamente com uma possível guerra nuclear?

Para Schlegelmilch, existe uma crença de que a ameaça de aniquilação nuclear foi embora junto ao colapso da União Soviética. No entanto, novas rivalidades importantes começaram a surgir entre a China, Estados Unidos e Rússia, e segundo o especialista o uso de armas nucleares pode ser mais real do que nunca. "Mas também é muito mais passível de sobrevivência do que o peso que foi a Guerra Fria", complementa, afirmando que não é uma perda de tempo estar preparado para um conflito nuclear.

Pode acontecer vários megadesastres ao mesmo tempo? Como prever?

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Schlegelmilch diz que o risco de acontecer vários megadesastres ao mesmo tempo pode ser previsto, mas que é preciso encontrar alguns padrões para ter certeza, mesmo que muitos delesvpossam surgir de forma aleatória. Ele cita como exemplo a pandemia da COVID-19, dizendo que uma pandemia era, de fato, prevista pelos cientistas, não agora e não com este impacto. Além disso, o autor diz que existem outros desastres acontecendo em paralelo, como as temporadas de incêncio e furacões nos Estados Unidos, e que essas combinações podem ser megadesastrosas.

O pesquisador finaliza a entrevista dizendo que trabalhar prevendo desastres exige muita criatividade e que a imaginação é essencial. No entanto, esse processo pode acabar anos afastando dos sinais que já presenciamos.

Fonte: State of the Planet