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CSI da vida real: método inédito identifica pessoas a partir de 1 cm de cabelo

Por| 12 de Dezembro de 2019 às 18h45

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Science Mag
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Para os aficionados (e nostálgicos) por CSI — sejam quais forem as temporadas e os spin-offs favoritos —, uma nova técnica da ciência forense pode dar o que falar. Inclusive, criminosos já podem começar a raspar a cabeça: um grupo de pesquisadores americanos, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), desenvolveu um método, segundo eles, capaz de identificar uma pessoa a partir de apenas 1 centímetro de um único fio de cabelo.

Em comparação, a nova técnica é oito vezes mais eficiente que as atuais técnicas de análise de proteínas — o cabelo é quase todo formado por queratina, que é uma proteína. E se o novo método chegar aos tribunais, ele poderá aumentar (e muito) a capacidade da justiça americana em identificar elementos na cena de um crime.

Para chegar a dados confiáveis, os cientistas forenses precisavam que o DNA da pele ainda estivesse ligado aos fios de cabelo encontrados. No entanto, outras tecnologias mais recentes já eram capazes de analisar proteínas no próprio cabelo, como a queratina, com uma precisão questionável.

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Entenda o processo de identificação

A maioria dos métodos para identificação de pessoas através do cabelo exigem muitas etapas, como moer e aquecer o cabelo, o que é responsável por destruir grande parte da proteínas presentes no vestígio da cena de um crime. Isso fazia com que os cientistas nem sempre detectassem uma variação grande o suficiente nas proteínas restantes para a identificação correta.

Buscando obter mais proteínas e garantir que elas cheguem intactas para a análise, os cientistas do NIST abandonaram a etapa da moagem e desenvolveram um método com uma única fase, que consiste em aquecer o cabelo em uma solução detergente. E quando foi analisar os resultados, a equipe descobriu, inclusive, que recuperaram mais proteínas do que era possível com as outras técnicas de extração.

Os cientistas também descobriram novos subprodutos da proteína que auxiliam na identificação de pessoas. Esses elementos são chamados de peptídeos geneticamente variantes (GVPs), porque se diferem entre os indivíduos. "Quanto mais GVPs você tiver, mais pessoas poderão se distinguir", explica o especialista em saúde do NIST e autor do estudo, Zheng Zhang.

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Por enquanto, os GPVs ainda não foram usados ​​para identificação de acusados em julgamentos criminais, mas podem ser no futuro, acredita o especialista. Só que há um alerta: as sequências de proteínas são altamente individuais, mas ainda há uma chance, estimada entre uma em 1 milhão ou até uma em 10 milhões, de que duas pessoas compartilhem a mesma sequência.

Aplicações possíveis?

Caso comprovado, o novo método deve revolucionar o campo da análise forense que estuda o cabelo. Isso porque os métodos anteriores de examinar a espessura e as características microscópicas de fio foram, posteriormente, comprovados ineficazes. É o caso do FBI, que admitiu, em 2015, que as evidências obtidas a partir da comparação capilar levaram a depoimentos falhos em mais de 200 casos federais e estaduais.

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Além de passar por mais testes de eficácia, a nova técnica encontra outro desafio pela frente. A questão será a quantidade de tempo e experiência necessárias para extrair as proteínas, depois que o cabelo é dissolvido, aponta Glendon Parker, bioquímico da Universidade da Califórnia. Para obter material suficiente para construir um perfil, os cientistas precisam de um dia ou mais, além de uma vasta experiência com técnicas sofisticadas de análise de proteínas.

Ainda há uma série de perguntas a serem respondidas antes que a técnica vire realidade nos tribunais americanos, comenta Monte Miller, especialista forense que testemunhou em muitos casos envolvendo evidências de DNA. Por exemplo, como os corantes e produtos afetam as proteínas capilares? Podem as características das proteínas do cabelo mudar conforme a idade? Para essas questões, a equipe ainda não têm respostas e continua suas pesquisas. E se você está se perguntando se a novidade chegará também a outros países, como o Brasil, é melhor esperar, já que a técnica está em fase inicial. Até lá, o melhor mesmo é maratonar suas séries investigativas favoritas.

Fonte: Science Mag