Cientistas criam prótese capaz de trazer de volta a sensação do toque
Por Nathan Vieira |
São tempos de esperança para a ciência e para a medicina, que tem se concentrado em causas realmente importantes, como trazer de volta a visão de um paciente, por exemplo. Para os cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, o foco tem sido restaurar a sensação do toque para as pessoas que tenham tido algum membro amputado. Normalmente, as próteses trazem auxílios significantes, mas não no sentido sensorial, propriamente dito. Por isso, esses cientistas desenvolveram uma tecnologia especial, cuja proposta é justamente trazer de volta o sentido do tato.
Segundo a própria equipe por trás do desenvolvimento dessas próteses tecnológicas, as sensações que as pessoas têm ao usá-las ainda são limitadas e imprecisas. No entanto, eles defendem que o trabalho chega muito perto de imitar a sensação que se tem ao encostar em algo. Para que o desenvolvimento dessa tecnologia fosse possível, não dependeu apenas a Universidade de Utah, mas sim de uma colaboração entre várias instituições, segundo um engenheiro biomédico e neurocientista da própria universidade, chamado Gregory Clark. Uma dessas contribuições foi o desenvolvimento do Utah Slanted Electrode Array (USEA).
Como a prótese tecnológica funciona
Durante uma entrevista de Clark para o Gizmodo, o neurocientista explicou que o USEA fornece a interface de uma mão protética e os nervos sensoriais e motores remanescentes do usuário em seu braço, e são exatamente esses nervos e os próprios pensamentos da pessoa ajudam a operar o dispositivo. Isso acontece por meio do implante cirúrgico de centenas de eletrodos diretamente ao lado das fibras nervosas. "Eles podem gravar de ou estimular pequenos subconjuntos de fibras nervosas de forma muito seletiva e razoavelmente abrangente”, explicou Clark. Sendo assim, uma gama de sinais sensoriais e motores específicos é recebida e enviada de volta entre a prótese e o sistema nervoso.
“Metaforicamente, ter eletrodos dentro do nervo em vez de fora é como ter conversas íntimas e diferentes com pequenos grupos de pessoas selecionadas que você está sentado perto, em vez de gritar do lado de fora de um estádio para que todos escutem a mesma mensagem e ouvindo apenas um rugido distorcido da multidão em troca ”, declarou o neurocientista.
Nas fases iniciais do estudo, a equipe de Clark recrutou a participação de Keven Walgamott, que perdeu a mão e parte do braço em um acidente há cerca de 15 anos. No decorrer de 14 meses, Walgamott viajou para a universidade para testar a prótese no laboratório. Os resultados finais do projeto foram publicados na última quarta-feira (24) pela Science Robotics.
Prótese resgata sensibilidade
Na fase final, a prótese forneceu ao usuário a possibilidade não só de sentir as coisas, como também de discernir uma superfície delicada de uma dura. Essa sensibilidade possibilitou que Walgamott realizasse movimentos complexos, como colher uvas ou levantar delicadamente uma caixa frágil. A reação de Walgamott ao utilizar a prótese foi comovente para a equipe.
Quando perguntado se havia mais alguma coisa que Walgamott queria fazer com a prótese no final de uma sessão, de acordo com Clark, ele simplesmente disse que desejava unir suas mãos. “E foi exatamente o que ele fez", relembrou o neurocientista. "Ele estendeu a mão, juntando as duas, movendo-as e esfregando-as uma contra a outra, sentindo com a mão protética como se fosse quase real e sentindo-se quase completo de novo, pela primeira vez em quase 15 anos".
A prótese desenvolvida pela equipe da Universidade de Utah ainda pode ser descrita como uma imitação imperfeita do braço e da mão humanas. "Ainda não podemos replicar totalmente o rico repertório de sensação e percepção natural", explicou Clark. "Mas podemos ir longe, muito melhor do que ocorre quando não há sensação alguma", o neurocientista completou.
Uma coisa que a equipe almeja desde já é melhorar o design da prótese. Eles esperam criar uma versão portátil, que possa ser usada em casa. Além disso, os cientistas da Universidade de Utah também querem mudar totalmente para implantes sem fio, o que não seria apenas mais leve para o usuário, mas também reduziria o risco de infecção ou quebra. Eles planejam iniciar testes em casa nos próximos meses.
O neurocientista explicou que levará anos, pelo menos, até que esses dispositivos possam estar disponíveis comercialmente, mesmo que esses testes e outros sejam executados sem problemas. "Mas ainda é tempo suficiente para que as pessoas que vivem com perda de membros possam, um dia, se beneficiar dessas próteses avançadas e mais naturais".
Fonte: Gizmodo