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Cérebros criados em laboratório podem se tornar conscientes?

Por| 28 de Outubro de 2020 às 16h45

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Robina Weermeijer/Unsplash
Robina Weermeijer/Unsplash

Sabe aquela questão que ninguém está pensando, mas que vem do nada à tona e acaba deixando a sensação de "por que ninguém se perguntou isso antes"? É dessa maneira que cientistas passaram a pensar no seguinte: os cérebros criados em laboratório podem se tornar conscientes?

De acordo com um artigo publicado na revista norte-americana Nature, o laboratório da Universidade da Califórnia conta com centenas de cérebros humanos em miniatura, do tamanho de sementes de gergelim. Essas estruturas minúsculas, conhecidas como organoides do cérebro, são cultivadas a partir de células-tronco humanas e se tornaram um elemento comum em muitos laboratórios que estudam as propriedades do cérebro.

O artigo menciona que, em agosto de 2019, o grupo de Alysson Muotri, um neurocientista da universidade em questão, fez um relato sobre a criação de organoides do cérebro humano que produziram ondas coordenadas de atividade, semelhantes às observadas em bebês prematuros. As ondas continuaram por meses antes de a equipe encerrar o experimento.

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Acontece que esse tipo de atividade é uma das propriedades de um cérebro consciente, e a descoberta levou cientistas a levantar uma série de questões morais e filosóficas, e questões em torno da possibilidade de que a consciência fosse criada do zero. Poucos meses antes, uma equipe da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut, anunciou que havia restaurado pelo menos parcialmente a vida a cérebros de porcos mortos horas antes. Os pesquisadores reviveram as funções celulares dos neurônios e sua capacidade de transmitir sinais elétricos.

Outros experimentos, como esforços para adicionar neurônios humanos ao cérebro de camundongos, estão levantando questões, com alguns cientistas e especialistas em ética argumentando que esses experimentos não deveriam ser permitidos.

Os estudos prepararam o terreno para um debate entre aqueles que querem evitar a criação da consciência e aqueles que veem os organoides complexos como um meio de estudar doenças humanas devastadoras. Muotri e muitos outros neurocientistas acham que os organoides do cérebro humano podem ser a chave para entender as condições exclusivamente humanas, como autismo e esquizofrenia, que são impossíveis de estudar em detalhes em modelos de camundongos. Para atingir esse objetivo, faz-se necessário criar consciência deliberadamente.

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Os pesquisadores agora estão pedindo um conjunto de diretrizes, semelhantes às usadas na pesquisa com animais, para orientar o uso humano de organoides cerebrais e outros experimentos que possam atingir a consciência. As preocupações com cérebros crescidos em laboratório também destacaram uma questão: os neurocientistas não têm uma maneira consensual de definir e medir a consciência. Sem uma definição funcional, os especialistas em ética se preocupam com a impossibilidade de interromper um experimento antes que ele cruze os limites.

Quase todos os cientistas e especialistas em ética concordam que, até agora, ninguém criou a consciência no laboratório. Mas eles estão se perguntando com o que tomar cuidado. A maioria dos organoides são construídos para reproduzir apenas uma parte do cérebro - o córtex. Mas, se eles se desenvolverem por tempo suficiente, as células-tronco humanas recriam espontaneamente muitas partes diferentes do cérebro, que então começam a coordenar sua atividade elétrica.

No momento, não há regulamentos que impeçam um pesquisador de criar consciência. O painel das Academias Nacionais planeja divulgar um relatório no início do próximo ano, descrevendo as pesquisas mais recentes e fazendo um julgamento sobre as regulamentações necessárias. Os membros planejam ponderar sobre questões como obter o consentimento das pessoas para desenvolver suas células em organoides cerebrais. A International Society for Stem Cell Research também está trabalhando em diretrizes organoides, mas não está abordando a consciência.

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Fonte: Nature via Popular Mechanics