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A primeira “rede social de cérebros” faz pessoas transmitirem seus pensamentos

Por| 02 de Outubro de 2018 às 16h15

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A primeira “rede social de cérebros” faz pessoas transmitirem seus pensamentos
A primeira “rede social de cérebros” faz pessoas transmitirem seus pensamentos

Transmitir pensamentos parece até assunto de ficção científica: para muitos, isso nunca se tornará realidade, tamanho o absurdo. Porém, aos poucos a ciência está conseguindo fazer com que essa avançada tecnologia, até então vista apenas em filmes, livros e séries do gênero, comece a ganhar vida.

Físicos e neurocientistas começaram a desenvolver um arsenal de ferramentas nos últimos anos, que poderiam detectar certos tipos de pensamentos, além de transmitir essas informações para outros cérebros. Este pequeno passo é o que está possibilitando a troca de comunicação entre cérebros atualmente.

Essas ferramentas são basicamente eletroencefalogramas (EEGs) que registram a atividade elétrica no cérebro e a estimulação magnética transcraniana (EMT), que permite a transmissão de informações para o encéfalo. E para provar que esse tipo de comunicação pode dar certo, alguns testes já foram feitos na Universidade de Washington, em Seattle.

O estudo foi feito em 2015 e o equipamento em questão foi usado em duas pessoas. Elas se conectaram usando essas ferramentas e jogaram um jogo de 20 perguntas. Os testes foram conduzidos por Andrea Stocco e seu time da universidade, e no final de setembro, eles anunciaram que conseguiram a conexão entre os cérebros com uma espécie de rede.

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Chamada de BrainNet, a rede permite que um pequeno grupo consiga jogar uma espécie de jogo parecido com Tetris, mas de maneira colaborativa. De acordo com o time de Stocco, os resultados dessa pesquisa “levantam a possibilidade de futuras interfaces cérebro-a-cérebro” que permitirão uma espécie de “rede social” de cérebros conectados.

A tecnologia por trás das ferramentas de comunicação é relativamente simples, já que os EEGs medem a atividade elétrica do cérebro, com vários eletrodos colocados no crânio, captando as ondas. Nisso, soma-se o fato de que as pessoas podem mudar os sinais produzidos pelo cérebro com facilidade.

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Por exemplo: sinais cerebrais podem mudar facilmente com pequenos fatores externos. Se uma pessoa ficar olhando para uma luz de 15 hertz por algum tempo, o cérebro dela vai emitir um tipo de onda elétrica. Mas se o foco da visão mudar e ela passar a observar uma lâmpada de 17 hertz, a emissão muda de frequência, e os EEGs podem detectar isso com facilidade.

Já os EMT manipulam a atividade cerebral, por assim dizer, induzindo as ondas elétricas a áreas especificas do cérebro. Isso significa que um pulso magnético alocado no córtex occipital, poderá desencadear a sensação de ver um clarão de luz, conhecido como fosfeno.

Essas duas ferramentas juntas, portanto, poderão enviar e receber sinais diretamente de um cérebro para o outro. Isso em teoria. Na prática, ainda falta a rede que permite a comunicação em grupo – e é justamente isso que Stocco e seu time desenvolveram, permitindo que até três pessoas enviem e recebam informações diretamente em seus cérebros.

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Conduzindo e transmitindo as ondas

De acordo com o time de pesquisas, a rede é fácil de ser gerenciada e é limitada aos dispositivos EEG e EMT. Internamente, funciona da seguinte maneira: duas pessoas agem como remetentes e a terceira é capaz de receber e transmitir. O mais interessante é que tudo é conduzido em salas separadas, com os três isolados.

O objetivo, contudo, é que eles consigam resolver um jogo do tipo Tetris, colaborativamente. Para tanto, os dois remetentes, que estão usando EEGs, podem ver a tela inteira. Eles precisam decidir quais blocos precisam ser girados em 180º ou não e transmitir essas informações para o terceiro integrante.

O sinal que seus cérebros produzem, portanto, precisa variar. Assim sendo, os remetentes precisam olhar ou para uma lâmpada de 15 Hz ou para uma de 17 Hz. Assim, o EEG vai captar se eles querem que a peça seja movida para a direita da tela ou para a esquerda. A terceira pessoa, isto é, o receptor, por sua vez recebe o direcionamento e após isso, o dispositivo emite um sinal para que o bloco seja girado.

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O receptor fica ligado a um EEG e a um EMT e tem uma tarefa diferente. Ele só consegue ver a metade superior da tela do jogo de Tetris e assim, consegue ver o bloco, mas não sabe como ele vai se encaixar com as demais. Por isso, ele recebe sinais de cada remetente por meio do seu EMT dizendo “gire” ou “não gire”.

Esses sinais são baseados em fosfenos, ou seja, um flash de luz. A taxa de dados, vale apontar, é baixa: apenas um bit por interação. Então, após receber os dados de ambos os remetentes, o receptor executa a ação. E o jogo permite apenas uma interação por rodada.

Desta forma, mesmo que os remetentes vejam que o bloco está caindo e se encaixando de maneira errônea, eles só podem transmitir um sinal pode vez e esperar outra rodada de comunicação, prosseguindo com o jogo.

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Um mundo de possibilidades

Além disso, os pesquisadores dizem que se divertem com esse esquema, pois alteram algumas vezes as informações que os remetentes enviam ao receptor para ver se este último ignora a informação que lhe foi dada ou não, mesmo que esteja equivocada. Segundo o time, isso é um elemento de erro que se reflete em situações sociais reais.

Todavia, a questão é que o ser humano consegue distinguir quando algo está correto ou errado, e isso pode ser verificado mesmo quando se usa uma comunicação cérebro-a-cérebro – algo que certamente pode abrir caminhos para outras vertentes do estudo, ainda mais complexas.

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De acordo com o time de pesquisas de Stocco, as informações navegam entre três salas em seus laboratórios, então eles não enxergam motivos para que uma rede desse tipo não possa ser estendida à internet, permitindo que participantes de todo o mundo colaborem com o estudo.

Stocco, por sinal, afirma que a nuvem poderia direcionar uma transmissão de informações para qualquer dispositivo conectado na rede, através da interface cérebro-a-cérebro, tornando a comunicação global por meio da internet. Esse tipo de expansão poderia abrir novas fronteiras na troca de informações e colaborações, além de ajudar a compreender melhor o cérebro humano.

Fonte: Technology Review, Daily Mail