Por que os carros elétricos chineses estão dominando o mercado global
Por Elisa Fontes |

Os carros elétricos e híbridos já não são apenas tendência: estão redefinindo o futuro da mobilidade global e a China ocupa o centro dessa transformação. A 21ª edição do Salão de Shanghai, uma das vitrines mais influentes da indústria automotiva que ocorreu entre abril e maio deste ano, reforçou o avanço tecnológico das fabricantes chinesas e como elas vêm acelerando sua expansão para mercados estratégicos, incluindo o Brasil.
Durante o evento, modelos eletrificados de diferentes categorias chamaram atenção do público e evidenciaram o novo posicionamento das marcas do país. Superesportivos de luxo, SUVs híbridos e novas gerações de veículos plug-in mostraram que a indústria chinesa deixou de ser mera seguidora do Ocidente para assumir protagonismo em inovação e escala produtiva.
Mas o brilho das montadoras na feira serve apenas como ponto de partida para uma discussão mais ampla: o que explica a ascensão tão rápida do mercado chinês de eletrificados e por que o Brasil aparece como um dos focos desse avanço? Em março, a chegada de um navio com mais de 5.500 unidades de carros da BYD, no Espírito Santo, repercutiu no setor automotivo.
Para entender esse movimento, o CT Auto conversou com o engenheiro, advogado e consultor automotivo Milad Kalume Neto, que aponta os três pilares que levaram a China ao domínio tecnológico e industrial que hoje influencia a mobilidade em todo o mundo. A entrevista completa está disponível no Podcast Canaltech.
Os pilares do avanço tecnológico chinês
- Na década de 1990, o país asiático ainda reproduzia a tecnologia de fabricantes do ocidente para aplicar nos seus veículos, explica Milad. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, fez com que o país seguisse as regras de exportação e importação e passasse a ter o domínio da manufatura.
- Antes mesmo do boom do setor automotivo, a China já enxergava um futuro eletrificado. O país entendeu que competir no mercado de carros à combustão “não seria fácil”, então, passou a desenvolver a produção de baterias de forma abundante e “hoje domina quase 80% da produção mundial”, segundo o especialista.
- A capacidade de produção em larga escala e o desenvolvimento econômico chinês também foram fatores relevantes nesse processo. Os incentivos do governo às montadoras e a melhora da infraestrutura interna, de estradas e portos, impactaram positivamente o mercado chinês.
Brasil no radar: por que somos um mercado estratégico
Agora em um estágio de expansão, o Brasil é um dos alvos dos investimentos das montadoras chinesas não só para exportação como também para fabricação desses veículos.
Segundo Milad, a reforma tributária e os incentivos do programa MOVER, do governo federal, para estimular a redução da emissão de carbono, são atrativos para que mais marcas de elétricos desembarquem em solo nacional.
“O Brasil é um potencial consumidor desse tipo de veículo, com outros mercados fechando as portas para os veículos chineses, tendo restrições e tarifas do mercado norte-americano”, pontua Milad. “Temos essa capacidade de produção muito superior a qualquer outro país da América do Sul”.
O potencial das fabricantes chinesas e a importação dos veículos, no entanto, preocupa a indústria de automóveis à combustão nacional.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) manifestou em nota a preocupação com a chegada do navio da BYD. Já a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) defendeu que os eletrificados já pagam os mesmos impostos a nível nacional que os veículos à combustão e que o aumento escalonado do imposto de importação permite que as fabricantes passem por um processo de transição para nacionalizar a produção e preparar uma infraestrutura para o segmento.
O governo decidiu antecipar, em julho, a alíquota de 35% do imposto de importação de elétricos e híbridos prevista para 2026.
Ouça mais detalhes da entrevista com Milad Kalume Neto no Podcast Canaltech: