Pneus da Tesla Cybertruck não duram 10 mil km? Donos reclamam
Por Eugenio Augusto Brito • Editado por Jones Oliveira | •

Além de ferrugem prematura e 4 recalls oficiais, donos da picape elétrica Tesla Cybertruck parecem estar enfrentando agora desgaste intenso e rápido dos pneus todo-terreno equipados no modelo. A reclamação aponta que os compostos ficaram "carecas" com 10 mil km rodados.
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No fórum Cybertruck Owners Club, um dos usuários afirmou estar há menos de 3 meses (desde junho) com a picape, período no qual rodou 10.060 km (6.251 milhas), segundo o odômetro, mas já sofrendo com desgaste "épico" dos pneus. A publicação é do dia 6 de setembro e acumulou mais de 200 respostas em menos de 10 dias.
Na reclamação online, o usuário afirma que mediu o desgaste dos sulcos dos pneus de sua Cybertruck e chegou à profundidade média de 4/32 de polegada nos dianteiros e 5/32 nos traseiros. Ou 3,17 mm e 3,97 mm, respectivamente.
Não se sabe qual a marca dos pneus usados no caso relatado, mas a Cybertruck pode sair de fábrica com compostos todo-terreno Pirelli Scorpion ATR ou Goodyear Wrangler Territory RT.
Nos Estados Unidos, pneus novos costumam ter como medidas 10/32 ou 11/32 em seus sulcos da banda de rodagem - ou 7,94 mm e 8,73 mm, respectivamente.
Apesar da medição em 32 avos de polegada, o sistema para definir se o pneu está em boas condições é similar nos EUA e aqui no Brasil. Por lá, o pneu está careca se tiver medição de 2/32 ou menos.
Isso equivale a 1,6 mm do sistema TWI (Tread Wear Indicator), que é utilizado por aqui e levado em conta até pela Resolução 913/2022 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito):
"Art. 4º: fica proibida a circulação de veículo automotor equipado com pneu cujo desgaste da banda de rodagem tenha atingido os indicadores, ou cuja profundidade remanescente da banda de rodagem seja inferior a 1,6 mm".
Força demais, peso demais ou problema?
Em algumas respostas à postagem, outros donos da Tesla Cybertruck apontam que talvez a picape tenha pneus gastos cedo demais por acelerar muito, carregar peso demais ou até usar o beast mode (modo de arrancada) demais.
Com apenas duas versões à venda, das três previstas inicialmente, a Cybertruck tem sempre tração integral (AWD) e capacidade de reboque de 3.400 kg. Sua potência, porém, pode chegar a 856 cv, com insanos 1.496 kgfm de torque para o 0 a 100km/h em apenas 2,6s na versão de topo.
Pelo relato, porém, o usuário descarta ter exigido demais de sua picape. E relata já ter uma revisão agendada para 1º de outubro para tentar a troca dos pneus por conta da Tesla.
Donos de elétricos infelizes com desgaste de pneus
Essa insatisfação com a durabilidade de pneus parece ser mais comum do que se costuma imaginar, no caso de carros elétricos, não estando restrita à picape da Tesla — ao menos nos EUA.
Em março, levantamento da consultoria JD Power, com 31 mil proprietários de carros, já apontava uma "diferença crescente" entre expectativa de donos de carros elétricos e daqueles com automóveis convencionais na garagem.
E não apenas quanto ao desgaste de pneus, mas também com o nível de informação dado pelas montadoras sobre o assunto.
Assim, a consultoria conhecida globalmente por medir a satisfação de clientes com produtos orienta fabricantes de pneus e montadoras a "educarem os donos de elétricos sobre as diferenças de desempenho".
Além disso, a pesquisa levou a um ranking que coloca a Michelin como fabricante de pneus mais bem classificada em categorias que acabam incluindo modelos de carros elétricos, como a de carros de passeio em geral, mas também de veículos luxuosos e esportivos.
Nessas categorias, a Goodyear também teve boa classificação em termos de satisfação dos clientes, aparecendo na 2ª posição em geral e luxo, mas na 4ª (última) posição para esportivos. Já a Pirelli foi 8ª no geral, 5ª (última) para luxo e 3ª para esportivos.
No segmento de picapes e utilitários, porém, marcas como Falken, BFGoodrich e Hankook se saíram melhor, com Michelin em 4º, Goodyear em 5º e Pirelli em 7º.
Carro elétrico gasta mais os pneus
Bem-avaliada na pesquisa da JD Power, a fabricante francesa Michelin traz em seu site oficial um guia que confirma o maior desgaste de pneus em carros elétricos.
Peso maior (graças às baterias), torque elevado logo na aceleração inicial, bem como frenagem mais bruta que a de carros normais (pelo sistema de regeneração) são apontados pela empresa como fatores que levam ao desgaste maior de pneus.
E isso se aplica a todos os quatro pneus, enquanto carros convencionais tendem a ter desgaste maior apenas nos dois pneus de tração (no caso de modelos sem tração integral).
Aliás, essa é uma informação que vai na contramão do que se costuma listar como benefício do carro elétrico frente a modelos a combustão: a economia com manutenção e itens de reposição.
"Pneus sob cargas mais pesadas tendem a se desgastar mais rapidamente [...]. Diferentemente dos carros a combustão, onde o peso do motor muitas vezes causa um desgaste desigual nos pneus, os veículos elétricos, com suas baterias frequentemente distribuídas ao longo do piso, tendem a ter um desgaste mais uniforme em todos os pneus", aponta comunicado da fabricante.
Elétricos precisam de pneus mais resistentes
Ainda segundo a Michelin, "pneus para veículos elétricos precisam proporcionar altos valores de torque, aderência, absorção de impactos e baixo nível de resistência ao rolamento[...]. Por carregar tantas responsabilidades, o pneu para elétricos tende naturalmente a desgastar-se mais rápido".
Para serem adequados a esse tipo de função diária, pneus de modelos elétricos acabam sendo, também, mais caros do que pneus para modelos convencionais de porte similar.
Ou seja, se você é motorista de carro elétrico e não quer torrar seus pneus rápido demais, vale ler o manual do veículo, mas também adotar alguns cuidados, como acelerar e frear mais suavemente do que faria com um carro convencional.
Fonte: Cybertruck Owners Club, JD Power, Michelin