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Entrevista | Como as edutechs estão revolucionando a educação e a indústria

Por| 01 de Abril de 2019 às 20h20

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Entrevista | Como as edutechs estão revolucionando a educação e a indústria
Entrevista | Como as edutechs estão revolucionando a educação e a indústria

A educação tradicional precisa de inovação. Os atuais modelos acadêmicos, focados na absorção teórica de disciplinas curriculares, estão, pouco a pouco, se distanciando das atuais gerações, mais conectadas e que melhor se relacionam com temáticas atuais, buscando aprender por meio de tecnologias novas e, consequentemente, deixando de dar espaço ao ensino comum.

Segundo o relatório The Future of Jobs 2018, feita pelo Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças do ensino fundamental trabalharão em cargos que não existem hoje. O mesmo relatório também estima que em 2022, 54% da população mundial precisará atualizar seus conhecimentos e adquirir novas habilidades para competir no mercado de trabalho.

Esse quadro não passou despercebido por startups que, enxergando uma oportunidade de inovação educacional, criaram novos métodos e novas disciplinas, voltadas não apenas à formação do aluno para o mercado de trabalho, como também ao ensino acadêmico voltado a fatos e eventos mais atuais, não necessariamente abandonando as teorias tradicionais, mas incorporando-as em novos contextos.

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Empreendedores da educação ganham espaço

A nossa equipe conversou com alguns especialistas e empreendedores do setor, a fim de saber em que ponto estamos na educação moderna brasileira e, acima de tudo, para onde vamos. Antes de tudo, o consenso de todos é o de que a educação (e a consequente proliferação de negócios voltados à ela) vem se alterando por causa da internet: Andrés Moreno, co-fundador e CEO da Next U (uma das plataformas da escola de idiomas a distância Open English) isso pode ser resumido pela locução “democratização da tecnologia”: “O acesso à internet dá às empresas a oportunidade de oferecer produtos de alta qualidade e de grande conveniência, permitindo que alunos se qualifiquem e sejam profissionais ainda mais preparados para o mundo em que vivemos”, ele comenta. “Além disso, cada vez mais procura-se a conveniência e a praticidade para os estudos, e os cursos online suprem essa necessidade, já que é possível estudar sem sair de casa, ou de qualquer lugar”.

No caso de Moreno, a Next U acredita estar mais alinhada com as realidades profissionais modernas, oferecendo dois diferenciais: o ensino à distância, que traz comodidade ao aluno que não precisa ou não pode se deslocar até uma instituição instalada; e a grade curricular voltada a profissões emergentes: “As demandas do mercado estão caminhando mais rápido do que os formatos de educação tradicional, que demoram mais para serem atualizados e validados. Uma resposta possível e real é dizer que nossos cursos estão abraçando o mercado, uma vez que nosso conteúdo acadêmico está alinhado com pré-requisitos mais comuns em vagas de trabalho nas áreas de Marketing, Desenvolvimento Web e Android.”

De fato, segundo informações da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), ainda que 47% das empresas que unem tecnologia e educação atuem no ensino básico, 14% delas apresentam cursos em mais de um segmento, além de 19% trazendo cursos livres. Vagner Baptistelli, CEO da Eduvem, ecoa esses números: “O crescimento das startups de educação decorre da crescente necessidade do público de acesso a conteúdos que contribuam com sua capacitação, seja ela de caráter acadêmico, profissional ou meramente informativo. As novas tecnologias viabilizaram isto por meio da internet e os aplicativos desenvolvidos a partir de então, democratizaram este conteúdo antes restrito ao universo acadêmico ou a centros de treinamentos”, ele comenta.

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Para Arthur Igreja, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em tecnologia e inovação, além destes, há um outro fator presente: a mudança de gerações. “Enquanto as instituições mantêm práticas conservadoras, nós estamos vendo a geração Y se tornar pais e mães. Eles são pais tecnológicos, diferente da geração X que terceirizou a educação e entregou aos colégios. O ‘pai Y’ quer participar, quer comunicação, saber o que está acontecendo em tempo real. A ansiedade que ele tem no trabalho, ele também tem com o filho. E as escolas não souberam responder isso. Então, quem está ocupando esse vácuo são as startups tecnológicas”.

Aceitação de público e mercado

Por mais inovadora que uma solução se apresente, sempre existirá aquele(s) que preferem a manutenção do tradicionalismo. No Brasil, por mais que as startups que trazem a educação como produto estejam em franco crescimento, a visão que o público tem delas é a de que todas funcionam como um complemento ao ensino de base.

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Para os três especialistas ouvidos pelo Canaltech, porém, o quadro é o de convívio mútuo e cooperação. Eles até consideram a possibilidade, ainda que remota e muito futura, de que o ensino por meio de startups possa vir a ser um substituto para os métodos tradicionais, mas a corrente atual de pensamento é a de que ambos correm em paralelo, complementando-se entre si em certos pontos.

“Acreditamos que os modelos tradicionais de ensino têm um papel significativo na formação de conhecimento, e que o aprendizado deve ser contínuo. Nosso papel é justamente complementar o aprendizado, agregando valor ao currículo desses profissionais com habilidades relevantes e alinhadas com o mercado de trabalho”, comenta Andrés Moreno. “De fato, há uma resistência relacionada à certificação online, como se o diploma tradicional fosse mais relevante que as habilidades aprendidas. Nós consideramos a possibilidade de acompanhar as mudanças e demandas do mercado mais importante, e temos esperança que as empresas reconheçam o interesse e a ‘mão na massa’ como fator decisivo para a contratação de profissionais”.

Baptistelli pondera que, cada vez menos, as empresas estão dando valor a métodos tradicionais de contratação, preferindo avaliar candidatos pela sua capacidade de aprendizado e proatividade: “Aqui, tocamos em um ponto importantíssimo — a democratização do ensino, uma arma para superar barreiras como distância, condição financeira ou tempo. A tecnologia tem a missão de permitir o acesso aos menos favorecidos, criando assim uma nova massa de trabalhadores qualificados, requalificar os atuais”. O executivo crê que essa abertura, como ele pontua, será o fator de decisão das empresas ao buscarem profissionais cada vez mais capacitados: “O interesse das empresas é ter um profissional qualificado, que execute suas tarefas com qualidade e faça entregas consistentes. O formato pelo qual este conteúdo foi adquirido pouco importa. Abre-se aqui uma outra importante oportunidade, diante do dinamismo que novos conteúdos podem ser produzidos e disponibilizados, o de se preencher a grande lacuna entre o currículo tradicional das universidades e a realidade do mercado, seja para a formação técnica ou comportamental”.

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O professor Arthur chama isso de um “desejo por resolver problemas”. Segundo ele, as empresas até valorizam pessoas que passaram pelo crivo acadêmico — “elas mostram ter resiliência”, segundo ele —, porém o mercado quer saber como você responde a problemas e oferece soluções. O acadêmico diz que, dentro desse vão entre teoria e prática, as startups de cursos rápidos, voltadas a um currículo mais moderno e pontual ao setor trabalhista, possuem espaço para crescer.

Preconceito em queda

Por tudo isso, na opinião dos três especialistas, está em queda a quantidade de empresas que “torcem o nariz” para graduados por EAD — seja na esfera técnica, de Ensino Superior ou cursos de aprimoramento de currículo. Para eles, o mercado é uma máquina extremamente adaptável: “É importante que os recrutadores e empresas entendam que habilidades e conhecimento específicos são mais importantes do que o método utilizado para adquiri-los”, diz Moreno, novamente ressaltando o portfólio educacional da Next U como algo voltado ao mercado de trabalho e a preparação do aluno para a vida profissional.

“Hoje já evoluímos muito na formação complementar ou específica e grandes instituições renomadas como Harvard, MIT, FGV e FDC, disponibilizam conteúdos de excelente qualidade antes impensáveis de se obter, transferindo ao EAD o mesmo cuidado com que cuidam de seus conteúdos tradicionais”, argumenta Baptisttelli. “Ainda assim, não podemos fechar os olhos a um outro mercado que se aproveita destes recursos para pura e simplesmente aumentarem seu faturamento criando conteúdos massificados e sem qualidade”.

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Arthur Igreja é mais pragmático, mas ecoa a mesma opinião: “Todo preconceito é combatido com evidências. Se a pessoa fez EAD ou não, a partir do momento em que ela conseguir mostrar o seu contexto de dedicação, de que ela sabe resolver o problema, para as empresas, tanto faz”.

“É um dos mercados que mais passarão por transformações nos próximos cinco ou 10 anos. As escolas, desde o infantil até o mestrado, vão ter que se transformar. Os alunos estão entediados; os professores, frustrados; as instituições, com margens cada vez mais apertadas. Então, quando você olha um cenário como esse, é um mercado gigantesco, mas que está muito comprimido pela falta de boas ideias”, diz o professor da FGV.

Ele ainda continua: “Tenho esperança de que em 10 anos, o mercado de educação será irreconhecível, se comparado ao que temos hoje. Todas essas tecnologias são muito recentes, e o mundo da educação ainda está tentando entender como usá-la da forma certa, no lugar certo. Acredito que o futuro será um misto de experiências que o remoto não pode entregar com a entrega de uma curadoria dos melhores mestres, dos melhores conteúdos de forma remota. Acredito muito nesse sistema individualizado e focado em experiências“.

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Fonte: The Future of Jobs Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution