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8 de Março: os desafios das mulheres da TI

Por| 06 de Março de 2020 às 11h04

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8 de Março: os desafios das mulheres da TI
8 de Março: os desafios das mulheres da TI

O mercado tem se adaptado aos novos tempos e atualmente é possível encontrar mulheres em setores culturalmente masculinizados como a TI. Nos últimos cinco anos, a participação feminina na área cresceu 60% - passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil em 2019, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Mas, ainda assim, elas representam apenas 20% dos profissionais de tecnologia do país.

Se a mudança continuar nesse ritmo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acredita que em 10 anos a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro deve crescer mais do que a masculina em muitos segmentos - a ciência e tecnologia são alguns deles.

Para Gabriela Arruda, Marketing Manager da Matera - empresa de desenvolvimento de tecnologia para o mercado financeiro, fintechs e gestão de risco -, as mulheres estão construindo uma reputação positiva no mercado de tecnologia, se profissionalizando e atuando em pé de igualdade em competências quando comparadas aos homens.

"É bacana ver que, em situações desafiadoras, as mulheres aparecem com toda força para lutar por seu espaço e garantir seus direitos", diz.

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Já Luciana Estruque, head de RH da Matera, acredita que o empoderamento das mulheres é o responsável pela abertura de caminhos na tecnologia. "Tenho certeza que, daqui a algum tempo, não falaremos desses desafios de inserção, mas sim de como essas mulheres transformaram o mercado de tecnologia", comenta.

Pontual ou cultural?

O otimismo é um sentimento frequente entre essas profissionais, porém, muitas reconhecem que ainda existem desafios. Uma pesquisa da Codenation, realizada em outubro do ano passado, afirma que 56,6% das mulheres que já tentaram entrar ou já fazem parte do setor de tecnologia consideram que os maiores problemas são igualdade de salários, diversidade nos times e desvalorização e constrangimento em processos seletivos.

A head de RH, no entanto, não vê essas questões como exclusivas do mercado de TI, mas um obstáculo cultural das corporações. A colega Gabriela concorda. "Eu já passei por empresas de TI com perfil mais hostil, porém entendo que o mercado está extremamente aquecido e que, se o profissional não se identifica com a cultura e os processos da empresa em que está, deve buscar por um ambiente melhor", aconselha.

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Marcia Bussolaro, resource manager da Matera, reforça. "Minha sugestão é que as mulheres procurem empresas onde sejam tratadas com respeito, independentemente do sexo, raça, cor, etc. Respeito ao ser humano."

A linha de pensamento é a mesma quando o assunto é assédio no ambiente de trabalho ou preconceito em relação à maternidade. A mesma pesquisa descobriu que 50% das mulheres entrevistadas acreditam que o assédio é um ponto que precisa ser melhorado e 26% disse ter sofrido algum tipo de discriminação por ter filhos ou pensar em engravidar.

"Culturalmente espera-se que a mulher assuma uma carga maior no cuidado com os filhos. E isso pode trazer implicações na carreira dela. Como sociedade, precisamos pensar em distribuir melhor a carga para que ambos possam construir suas carreiras do mesmo modo. A mudança cultural nasce na casa de cada um", comenta Marcia.

Em maio de 2018, o Canaltech publicou uma matéria em que mulheres do setor de TI contaram suas experiências de carreira pós-maternidade. Com os depoimentos ficou claro que as mudanças que a maternidade proporciona à vida de uma mulher podem trazer inúmeros benefícios à carreira, cabe aos pais das crianças e às empresas as apoiarem em todas as etapas: da gravidez até a volta à rotina.

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Disparidade

O quesito "desigualdade salarial" também não é exclusividade do setor de TI e precisa ser endereçada em todos os segmentos. Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as mulheres ganham menos do que os homens em todas as ocupações selecionadas na pesquisa. Mesmo com uma queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país.

Globalmente a situação é igualmente injusta. De acordo com o relatório sobre desigualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial, publicado em dezembro de 2018, no ritmo atual serão necessários 202 anos para que as mulheres se igualem aos homens na remuneração e oportunidades de emprego.

Karyd'ja Redyjane Medeiros de Souza, desenvolvedora de software da Magnetis - fintech de investimentos -, acredita que o tabu de se falar sobre dinheiro com outras pessoas favorece a manutenção da desigualdade salarial. "Se eu não pergunto quanto meus colegas recebem, como vou descobrir que a minha remuneração é injusta? Já passei por uma situação em que recebi uma proposta de aumento de salário menor do que as que foram oferecidas aos desenvolvedores homens. No fim, eu só recebi o mesmo ajuste por causa da pressão que eu e minhas colegas fizemos", relembra.

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Para Ingrid da BRQ a desigualdade salarial entre homens e mulheres pode ser um problema presente em todas as áreas, mas na tecnologia é bem acentuada. Brunna da MedRoom ressalta: "quando a empresa não oferece o mesmo salário para a mesma função por conta do gênero do candidato, abre portas para diversos outros preconceitos dentro da organização."

Esses desafios, no entanto, só podem ser superados com novas políticas dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Robert Walters, empresa especialista em recrutamento, feita com 500 mulheres de diversas áreas, 86% das entrevistadas acham políticas de diversidade de gênero importante, mas 4 em cada 10 mulheres acham que seu empregador não possui direções claras de diversidade de gênero.

Representatividade

Quando perguntadas se a falta de mulheres na tecnologia pode influenciar em suas decisões profissionais, 46,6% das entrevistadas pela Codenation disseram que não, enquanto 44,3% disseram que, sim, foram impactadas. A maioria não acha a representatividade tão importante no setor, mas é inegável que muitas se inspiram e/ou se inspiraram em colegas para "chegar lá".

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"A realidade é que hoje existem poucas mulheres na área. Se você deixar isso influenciar suas decisões, você se afasta da área e a realidade não muda. A mulher que entra em TI deve estar pronta a enfrentar um ambiente masculino, e disposta a ser aquele 0.01% que lentamente muda a estatística", diz Beatriz Morgan, junior VR developer da MedRoom, edtech que aplica a imersão da tecnologia de realidade virtual junto a estratégias de gamificação para criar experiências destinadas a educação em saúde para faculdades e institutos de ensino.

A colega Brunna Pieri, designer 3D em realidade virtual, acredita que acompanhar uma mulher admirável na área gera coragem e confiança para ir em frente. "Às vezes é muito difícil você ter segurança sozinha, sem ter um exemplo para seguir. E quando o mercado só mostra homens em destaque, parece que não tem espaço para uma mulher 'existir' naquele ambiente."

Preparação

Outra dado da pesquisa da Codenation revela que a maioria das mulheres (55,7%) que trabalham no setor não se sente tecnicamente preparada para trabalhar na área. No entanto, ao mesmo tempo, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de março de 2018 aponta que mulheres possuem maior grau de escolaridade no nível superior em relação ao homem.

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Andrea Miranda, CEO e fundadora da Standout - startup que ajuda marcas e indústrias a falarem diretamente com os seus públicos nos e-commerces -, vê o dado como realidade. "Outro dia estava relendo o livro da Sheryl Sandberg e tem uma passagem na qual ela afirma que os homens primeiro aceitam os desafios e depois se preparam para enfrentá-los e com as mulheres é exatamente o oposto", lembra. "Talvez seja necessário uma dose extra de confiança para que as mulheres percebam que sim, elas estão tecnicamente muito bem preparadas e merecem ocupar espaços de trabalho também na programação e na TI", finaliza.

Para Gabriela da Matera, as mulheres não sentem preparadas por terem que atuar em um mercado em que os homens estão há mais tempo. Já Luciana acredita se trata de uma questão cultural. "Ainda hoje ouvimos que determinadas profissões não são para mulheres, e acho que algumas de nós acreditamos nisso e não nos aventuramos nesse novo mundo. Afinal, além de entrar nesse mercado majoritariamente masculino ainda temos que provar o nosso valor para poder atuar onde quiser", encerra.

A analista de sistemas júnior, Ingrid Stofalete da BRQ - empresa que apoia a digitalização de bancos, seguradoras, empresas de telecomunicações - também considera que culturalmente as mulheres se sentem menos encorajadas a se arriscarem. "Há uma cultura enraizada na sociedade de que a mulher tem menor capacidade intelectual em relação aos homens. Isso fica claro quando nós mulheres somos constantemente colocadas à prova, tendo que atestar o conhecimento, ou, defender uma opinião com maior embasamento teórico do que os homens. Muitas vezes as sugestões e/ou opinião dos homens é aceita muito mais facilmente", desabafa.

Paula Lopes, diretora das regionais do PR e do RS da Service IT, empresa integradora de soluções e serviços, fecha a discussão: "A dedicação é um fator difícil, devido as outras atribuições que a mulher carrega na sociedade, mas ao mesmo tempo é determinante para ganharmos espaço. Nós mulheres precisamos estar muito bem qualificadas, dedicadas e seguras para conquistarmos esse território. Ainda acho que na TI o preconceito é menor se comparado com outros setores."

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Para conhecer mulheres inspiradoras que estão se destacando na área de tecnologia e saber mais sobre como anda o mercado, fique de olho no canaltech.com.br. No domingo, dia 8 de março, vamos publicar um infográfico cheio de informações relevantes. Aproveite e contribua com sua opinião sobre os temas abordados na matéria deixando seu comentário abaixo.