Uber decepciona na Bolsa de Valores com abertura abaixo das expectativas
Por Rafael Rodrigues da Silva | 10 de Maio de 2019 às 22h40
Depois de uma década operando como startup, a Uber finalmente se tornou uma empresa de capital aberto na última quarta-feira (8) e, no dia seguinte, teve pela primeira vez suas ações sendo negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Mas, ao contrário do que muitos esperavam, a abertura da empresa ao capital financeiro foi um tanto decepcionante.
Na quarta-feira, a empresa definiu que o valor inicial de suas ações seria o de US$ 45 por papel — algo que foi visto pelos analistas como uma falta de confiança da empresa, já que o valor era o mínimo esperado por cada ação da startup (quando revelou que iria entrar na Bolsa, a previsão era de que cada ação individual da empresa poderia ser definida por ela como valendo entre US$ 45 e US$ 80). E, mesmo definindo no mínimo esperado, a empresa conseguiu decepcionar, encerrando o dia com um valor de US$ 42 dólares por ação.
Isso contribuiu para que, mesmo que o valor de mercado da empresa tenha aumentado (passando de US$ 75 bilhões antes do IPO para US$ 82,4 bilhões no fechamento de mercado), ele ainda tenha ficado bem abaixo dos US$ 120 bilhões que todos os bancos e analistas financeiros previam quando a Uber anunciou no ano passado que iria abrir seu capital. Mas, mesmo com o valor abaixo do esperado, a Uber continua sendo aquilo que todos esperavam: uma das maiores empresas do ramo de tecnologia, no mesmo patamar do Facebook e da Alibaba.
De certa forma, nem tudo é culpa da empresa: esta semana está sendo terrível para o mercado financeiro de Nova York, pois desde que o presidente Donald Trump tweetou no último domingo (5) que estava pensando eu aumentar as tarifas sobre todas as importações vindas da China, o país asiático abandonou todas as negociações para a prevenção de uma nova guerra fiscal e colocou o mercado financeiro do país em parafuso, tornando essa semana o pior momento possível deste ano para se e entrar na Bolsa de Valores.
Mas apesar desse “porém”, também não é possível tirar toda a responsabilidade da empresa. Afinal, no mesmo dia em que ela anunciava a sua entrada na Bolsa de Valores de Nova York, no mundo inteiro motoristas da companhia desligaram os apps e pararam em protesto por melhores condições de trabalho e uma maior parcela na divisão do valor das corridas. E, claro, além da pressão externa, há também todo o drama interno: co-fundador e antigo CEO da empresa, Travis Kalanick, não estava presente no simbólico tocar do sino que indica a entrada de uma nova empresa na Bolsa.
Kalanick foi afastado do cargo de CEO em 2017 por pressão dos investidores após a empresa protagonizar diversos escândalos envolvendo assédio e abuso em uma cultura empresarial que na época foi acusada de promover o sexismo. Desde então, Kalanick se afastou do cargo e dos holofotes, mas ainda mantém uma posição no corpo de diretores da empresa.
O olhar frio dos números também não é algo que ajude muito a companhia: no primeiro trimestre deste ano, a Uber apresentou um prejuízo operacional de US$ 1 bilhão, com uma receita total de US$ 3,1 bilhões. Praticamente desde sua fundação, a Uber tem operado no prejuízo, garantindo bônus para motoristas e descontos para usuários como forma de tornar o aplicativo mais popular — além, é claro, dos diversos investimentos que a companhia tem feito em outros modelos de transporte (como bicicletas, patinetes, ônibus e carros autônomos), bem como outros serviços relativos à transporte, como no ramo de entregas — tudo isso em escala global.
Com um modelo que conta hoje com 93 milhões de usuários ativos espalhados por 700 cidades em cinco continentes, basicamente dominando o mercado global de apps de transporte de passageiros, o grande desafio atual da Uber e de seu atual CEO, o iraniano Dara Khosrowshahi, é mostrar para os acionistas o que a empresa pretende fazer para mudar esse panorama. Ainda que as bases já existentes tornem o lucro no futuro algo praticamente garantido, a dúvida é se, agora que ela é uma empresa de capital aberto, os acionistas terão a paciência necessária para o caso desse lucro demorar a chegar.
E olhar para a Lyft — uma das competidoras da Uber nos Estados Unidos que entrou na Bolsa no dia 29 de março deste ano — pode não indicar um futuro tão promissor a curto prazo. A companhia, que fechou o primeiro dia na Bolsa com um crescimento maior do que 20%, tem amargado apenas quedas desde então, e hoje suas ações valem cerca de US$ 55 por papel — bem menor do que os quase US$ 79 com que fechou em seu primeiro dia de operações. Claro, a Lyft entrou no mercado em um momento muito mais propício economicamente e, como primeiro app de transporte a abrir seu capital, a euforia pode ter levado os investidores a pagar mais do que ela realmente valia à época. Mas, se o exemplo da Lyft servir de algo, é de que Khosrowshahi pode se preparar, pois provavelmente não será um ano dos mais tranquilos para a Uber se ela não conseguir deixar logo de operar no prejuízo.
Fonte: TechCrunch