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Zoom avisa que vai treinar IA com dados de usuários e gera polêmica

Por  • Editado por Douglas Ciriaco | 

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Reprodução/Zoom
Reprodução/Zoom

O Zoom atualizou recentemente os termos de uso do próprio serviço e , em algumas cláusulas, determina que dados de usuários (videochamadas, arquivos e mensagens de texto) podem ser coletadas se o Zoom IQ, a IA da plataforma, estiver ativada na reunião. A alteração gerou polêmica e fez a empresa rever alguns pontos, apesar de ela ainda deixar claro que vai usar alguns dados para treinar a IA com o consentimento das pessoas.

As informações concedidas para o Zoom incluem e-mails, datas, participantes das reuniões, informações de voz e imagens de chamadas — todas elas sobre "licença perpétua, mundial e não exclusiva", segundo o documento.

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A abrangência da coleta e a posse inquestionável sobre os dados chamou a atenção da mídia internacional e especialistas em segurança, que perceberam que não existe opção para evitar o compartilhamento de informações. Nas redes sociais, usuários também manifestaram preocupação sobre o novo acordo.

Zoom reviu os termos

Após a confusão, o Zoom revisou os termos de uso e alterou algumas linhas do contrato. Numa das reavaliações, a empresa destacou que a coleta de conteúdo do usuário acontece apenas com consentimento explícito e somente se a pessoa está numa reunião com Zoom IQ habilitado.

"Para a IA, não usamos conteúdo de áudio, vídeo ou mensagens para treinar nossos modelos sem o consentimento do cliente", explicou a diretora de produtos do Zoom, Smita Hashim.

O aviso solicitando consentimento para uso de alguns dados pela IA acontece imediatamente após a entrada da reunião. O convidado tem a opção de aceitar a coleta de dados e prosseguir ou rejeitar a coleta e deixar a videoconferência.

"Quando aceita a ativação do Zoom IQ Meeting Summary ou o Zoom IQ Team Chat Compose, você é apresentado com um pedido de consentimento para treinamento de modelos de IA usando seu conteúdo de usuário", pontuou a executiva. "Seu consentimento é usado exclusivamente para aprimorar a performance e a precisão desses serviços de IA", complementou.

No comunicado, a empresa ressaltou ainda que os dados não são compartilhados para treinamento de nenhum modelo de IA de terceiros.

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Aceite ou saia do papo

Ainda que o Zoom se restrinja a coletar dados somente durante as reuniões, o usuário fica numa delicada situação caso não se sinta confortável em fornecer dados para o Zoom: participar da reunião e entregar informações ou rejeitar o convite inteiro.

Em determinadas circunstâncias, como no ambiente de trabalho, o usuário pode não ter a opção de deixar de comparecer à videoconferência. Se o Zoom for o mecanismo de comunicação padrão da companhia, ele precisa marcar presença nos encontros virtuais e concordar com o compartilhamento de dados ou pode gerar uma situação desconfortável.

Medida viola a LGPD, diz especialista

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Ao Canaltech, o advogado Matheus Puppe, afirmou que as novas regras do Zoom são abusivamente amplas e violam a LGDP.

"A cláusula é abusivamente ampla e abrangente, permitindo uma variedade de usos dos dados, incluindo análise, marketing e desenvolvimento de produtos, colocando em risco não apenas dados pessoais, mas também a confidencialidade", explica Puppe, que é sócio da área de TMT, Privacidade & Proteção de Dados do Maneira.

"No contexto brasileiro, tal documento bate de frente diretamente com a LGPD, que estabeleceu normas e princípios para o tratamento de dados pessoais, justamente com foco na transparência, finalidade e segurança", prossegue.

O especialista cita especificamente a cláusula 10.4 das novas regras do Zoom, que violaria "especialmente os princípios relacionados com a clareza de finalidade e o direito dos titulares de controlar suas informações e o uso sem um propósito delimitado, claro e principalmente controlável pelo titular."

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Para Puppe, é crucial que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados "analise essas práticas à luz da LGPD", mas os usuários também precisam estar atentos.

"As pessoas devem buscar informação, estar atentas aos termos que cegamente concordados e passar a exigir o respeito às suas informações pessoais e seus demais direitos, bens cada vez mais valiosos na era digital", finaliza o advogado.