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Jovem brasileiro se matou ao vivo no TikTok. Saiba o que a empresa fez

Por| 06 de Fevereiro de 2020 às 11h35

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Reprodução/MacMagazine
Reprodução/MacMagazine
Tudo sobre TikTok

O caso é triste, mas importante: eram 15h23 do dia 21 de fevereiro de 2019, quando João (nome fictício), um jovem influenciador brasileiro, de 19 anos, se matou durante uma transmissão ao vivo no TikTok, app de criação e compartilhamento de vídeos e o terceiro mais baixado no mundo em 2019. Cerca de 280 pessoas testemunharam o ocorrido, que ficou no ar por mais de uma hora e meia e obteve quase 500 comentários e 15 denúncias.

Pois é, os espectadores ficaram ali, atentos, por mais de uma hora, assistindo um conteúdo pesado, até que funcionários da plataforma, só às 17hs do mesmo dia, se deram conta da morte do influenciador e interromperam a transmissão. A partir daí, foi uma corrida contra o tempo não para socorrer o jovem e ajudar a polícia ou a família, mas para não manchar o nome da empresa.

Corrida contra o tempo

Esta história foi contada ao Intercept por uma ex-funcionária do ByteDance, empresa dona do TikTok, que prefere não ser identificada. Segundo ela, o escritório da companhia no Brasil, que fica no Itaim Bibi, bairro nobre da zonal sul de São Paulo, trabalhou única e exclusivamente, durante pouco mais de duas horas, para não deixar que a morte do rapaz, residente do Paraná, vazasse e arranhasse a imagem da empresa, principalmente entre os jovens e influenciadores, seus maiores públicos.

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Antes de continuar com o relato da ex-funcionária, vale explicar como a ByteDance gerencia as atividades do TikTok aqui no Brasil. Quarta maior rede social em número de usuários, segundo pesquisa da Infobase Interativa, e startup mais valiosa do mundo em 2018, avaliada em US$ 75 bilhões, o TikTok expandiu suas atividades aqui no país em fevereiro de 2019. O escritório tem cerca de 60 funcionários, que se dividem em equipes de redes sociais, conteúdo, influenciadores, parcerias, moderação e administração.

O setor responsável por gerenciar conteúdos impróprios e que violam as diretrizes da empresa é o de moderação. Mas verificar transmissões ao vivo é responsabilidade de outra equipe, que fica na China, e eram eles que deveriam ter alertado o pessoal do Brasil sobre o caso do influenciador.


Contenção

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Segundo a ex-funcionária, nem a equipe chinesa ficou sabendo do caso e a morte do jovem foi reportada para a equipe brasileira através de um grupo de WhatsApp. A primeira ação da companhia? Solicitar a exclusão da transmissão, às 17h13, quase duas horas depois do ocorrido. Após a solicitação, os funcionários entraram em contato com a equipe de relações públicas, que produziu uma nota de pêsames aos usuários, que nunca precisou ser usada. Veja:

Segundo a responsável pelo vazamentos dos e-mails, "Marta Cheng (líder geral do Brasil e da América Latina) foi acionada e orientou os funcionários do Brasil a não contarem a história para ninguém". O passo a passo do gerenciamento da crise pode ser vista na íntegra logo abaixo, que mostra as ações da empresa para conter a crise após a tragédia. Veja:

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Auxílio

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Cerca de duas horas depois, com a crise parcialmente “contida”, e mais de quatro horas após o suicídio do jovem, a equipe do TikTok acionou a polícia paranaense. A essa altura, a família já havia encontrado o corpo do jovem. O Intercept comunicou que obteve acesso à ficha de João no Instituto Médico Legal de Curitiba, onde constava que o corpo do jovem tinha sido registrado no local às 20h05, nove minutos após a comunicação do TikTok com as autoridades. A plataforma não entrou em contato com a família.

Alerta geral

O fim trágico do influenciador brasileiro no TikTok não foi o primeiro caso da plataforma, mas abre espaço para discussão. Por mais que a empresa trabalhe intensamente para promover um “ambiente positivo e seguro”, a plataforma sofreu, por muito tempo, por ter uso associado a cyberbullying. Em 2019, legisladores indianos afirmaram que o aplicativo era bastante utilizado para promover "degradação cultural" na população, chegando a bloqueá-lo por lá por um tempo.

Como relatou o The Verge, na época, o Tik Tok tem sido usado de diferentes maneiras no mundo, nem todas tão divertidas. Há relatos de outros dois suicídios na Índia, no mesmo ano, e que estavam relacionados ao cyberbullying; há também casos de conteúdo racista e antissemita e muitas outras atrocidades.

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Em resposta ao Intercept, o TikTok admitiu que há quase um ano removeu o conteúdo e alertou as autoridades locais porque não permite “conteúdo que promova danos pessoais ou suicídio”. Também afirmou que, desde o ocorrido, atualizou suas políticas de transmissões ao vivo e adicionou ferramentas e protocolos de denúncia.

“Seguimos profundamente tristes com esse trágico incidente e nos solidarizamos com a dor da família. Incentivamos qualquer pessoa que precise de apoio ou que esteja preocupada com um amigo ou familiar a entrar em contato com a linha direta de prevenção ao suicídio”, disse o TikTok.

O Canaltech entrou em contato com a assessoria da plataforma. Em comunicado oficial, a Byte Dance afirma:

"A segurança e o bem-estar de nossos usuários são prioridades para o TikTok. Há quase um ano removemos esse conteúdo e alertamos as autoridades locais porque não permitimos conteúdo que promova danos pessoais ou suicídio, conforme declarado em nossas Diretrizes da Comunidade.

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Desde então, atualizamos nossas políticas de transmissão ao vivo e melhoramos nossas medidas de segurança e moderação, além de adicionar novos treinamentos, ferramentas e protocolos de denúncia. Continuamos profundamente tristes com esse trágico incidente e nos solidarizamos com a dor da família. Incentivamos qualquer pessoa que precise de apoio ou que esteja preocupada com um amigo ou membro da família a entrar em contato com a linha direta de prevenção ao suicídio: Centro de Valorização da Vida - CVV 141."

Fonte: The Intercept Brasil