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Entendendo as diferentes versões da 5G

Por| 19 de Agosto de 2022 às 10h00

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mohamed Hassan/Pixabay
mohamed Hassan/Pixabay

Uma das principais curiosidades do mundo das telecomunicações é que muitos especialistas e tomadores de decisão de governos pensam que a tecnologia é estática. Às vezes, isso se traduz em um senso de urgência que não se justifica pela realidade do mercado. Uma urgência que leva órgãos governamentais a tomar decisões precipitadas e especialistas a prever benefícios imediatos que em alguns casos não aparecerão no mercado por anos.

Nenhum segmento de telecomunicações sofre tanto do mal da falsa urgência quanto o setor de serviços móveis. As razões são bastante óbvias, enquanto a vida útil da fibra óptica pode ser contada em décadas, a cada dez anos vemos a chegada de uma nova geração móvel que terá uma vida útil média de cerca de duas décadas.

Se traduzirmos esses períodos de tempo com o que vemos no mercado, é fácil concluir que a 3G (e gerações anteriores) está de saída e que a 4G LTE está naquele doce momento em que a expansão da cobertura populacional é acompanhada por smartphones baratos e com uma grande variedade de modelos, e a 5G que começa a se expandir gradualmente em todo o território.

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Agora, se lembrarmos que a tecnologia não é estática, ainda temos que perguntar qual 5G está sendo implantada atualmente nos mercados latino-americanos. A resposta é simples, o chamado 'não autônomo' (non-standalone, NSA, em inglês) e que reaproveita parte da infraestrutura móvel já implantada pela operadora. Essa reutilização de recursos torna o lançamento mais barato e facilita a expansão da cobertura 5G NSA e, portanto, é essa versão que domina não só na América Latina, mas em todo o mundo.

Do ponto de vista técnico, o 3GPP, entidade que padroniza a 5G, chama a 5G NSA de versão 15 (Release 15 em inglês). A grande virtude desta versão inicial da 5G é que oferece velocidades de banda larga móvel muito mais rápidas do que a geração anterior. De uma forma prática, o modelo de negócio que surgiu a partir do Release 15 está atualmente focado na banda larga fixa sem fios, uma vez que as operadoras veem o serviço através da 5G como um bom substituto da fibra óptica até o domicílio e com a vantagem de ser mais barato do que a alternativa com fios . Os anúncios comerciais iniciais no Suriname, Uruguai e Peru focaram nesta versão da nova geração móvel.

A 5G como rede independente vem das mãos do Release 16 do 3GPP. Esta versão está apenas começando a ser implantada em diferentes cantos do planeta. O líder indiscutível da América Latina na implantação desta versão é o Brasil, sendo o Chile o país que parece estar seguindo os passos do gigante regional. A principal vantagem desta versão, além das melhorias na transmissão de dados, são as melhorias na capacidade da tecnologia de suportar a chamada Internet das Coisas (IoT) massiva e industrial. Quando olhamos para a 5G como permitindo a transformação digital e impulsionando o crescimento econômico por meio de maior eficiência de produtividade, estamos falando principalmente do Release 16 e atualizações posteriores.

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O Release 17, atualmente inexistente em implantações comerciais, trará novas vantagens, como o uso de frequências acima de 52 GHz e maior suporte de baixa latência (existente desde a versão 15) para usos industriais de IoT. É justamente com essa versão da tecnologia que muitas das aplicações da robótica, dos processos cirúrgicos remotos e da viabilidade de veículos autônomos se aproximam.

Obviamente, cada uma dessas versões deve ser acompanhada de dispositivos que funcionem com cada uma delas. A mudança tecnológica não ocorre apenas ao nível da infraestrutura, mas também do dispositivo que vai ser ligado à rede, independentemente de ser um automóvel, um contador de energia ou um smartphone.

De que 5G falamos?

É por isso que quando você ouve um especialista ou funcionário falando sobre como o futuro está se aproximando com a 5G, é necessário perguntar de qual versão da tecnologia estamos falando. Da mesma forma, é muito importante lembrar que quem está lançando a nova tecnologia são as operadoras de telecomunicações e não os governos. Os operadores de capital público, se forem bem geridos, salvo se forçados pelos seus acionistas, lançarão 5G quando considerarem que as condições de mercado justificam o investimento.

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O exposto não implica que os governos estejam isentos da responsabilidade de acelerar a chegada de novas tecnologias. Ações como a alocação do espectro radioelétrico, a criação de um marco legal moderno, a presença de instituições regulatórias fortes e discricionariedade não governamental são fatores que auxiliam a chegada de novas tecnologias. Outros elementos como o poder de compra e os custos de implantação de uma rede móvel para oferta de serviço também fazem parte do processo decisório de cada operadora.

Sim, existem tecnologias que servem como remédio temporário para a falta de insumos como o espectro radioelétrico. Por exemplo, o compartilhamento dinâmico de espectro (DSS), que permite às operadoras usar o espectro que já têm atribuído e que foi adquirido para oferecer serviços com tecnologias móveis anteriores, para lançar 5G. Foi justamente por meio do DSS que operadoras de mercados tão diversos como Brasil, Estados Unidos, Ilhas Virgens Americanas, Peru e Porto Rico começaram a oferecer 5G.

A vantagem do DSS é que ele permite que as operadoras avancem no lançamento da 5G até a alocação de espectro de rádio adicional para que a tecnologia possa funcionar plenamente. No entanto, o DSS é uma solução temporária. À medida que a adoção da 5G cresce, ficará claro que o desempenho não é o mesmo como se fosse feito por meio de blocos de espectro dedicados à tecnologia.

5G chegará em todos os mercados latino-americanos de forma assimétrica, fenômeno que será replicado internamente em cada país da região. O importante é que quando essa tecnologia chegar, tanto o setor empresarial, quanto o governo e a população possam utilizá-la. Lançar 5G só para dizer que você tem a tecnologia, mas sem nenhum uso específico, simplesmente não faz sentido.