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Do artigo de luxo à necessidade básica

Por| 07 de Fevereiro de 2020 às 07h30

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SatteliteToday
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Um dos princípios básicos da chegada de uma nova tecnologia é que a mesma inicialmente é utilizada por um minúsculo grupo de pessoas que se inclinam a adotar novos produtos e serviços digitais de forma precoce. Isto significa que começam a usar a inovação quando o custo desta ainda é muito alto por não ter alcançado economia de escala, o que torna mais distante a aspiração para a maioria do mercado.

É por isso que novas tecnologias móveis, como a 5G, inicialmente mantêm os custos para que possam ser usadas mais do que as tecnologias anteriores. Esses custos não se limitam ao preço de telefones e outros dispositivos que podem acessar essas redes, mas também à sua variedade e/ou nível de cobertura geográfica que a tecnologia atingiu.

A história ensina que no caso de tecnologias móveis, cada nova geração alcança um ponto de massificação aos cinco ou seis anos depois de seu primeiro lançamento global. Se esses prazos fossem emulados para a 5G, estaríamos falando de uma aceleração no crescimento dessa tecnologia somente para os anos de 2024 e 2025, porque seriam nessas datas que os custos de acessibilidade teriam caído o suficiente para que a maioria do mercado consumidor pudesse contratá-lo.

No entanto, a 5G, em seus poucos meses de existência está rompendo com todos os paradigmas que até o momento foram impostos no mundo das telecomunicações sem fio. Nunca no passado um mercado na América Latina ou no Caribe lançou serviços no mesmo ano da implantação de uma nova geração móvel, desta vez foram cinco países da região que chegaram a 2019 com uma rede 5G.

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Os críticos podem dizer que suas coberturas são mínimas, mas os convido a relembrarem de um passado no qual um ARPU médio inferior a US$ 15 teve uma implantação acelerada de uma nova tecnologia sem fio. O importante agora é identificar modelos de negócios que continuem a justificar a chegada dessa nova tecnologia nos demais mercados da região e sua expansão geográfica naqueles em que ela está presente.

Pode parecer incrível, no entanto como descrito anteriormente, também se aplica à carteira de clientes o que uma operadora de telefonia móvel tem em um mercado, conforme este vá expandindo sua cobertura e incrementando sua base de assinantes. Não existe operadora no Brasil e no mundo que aponte sua oferta pré-paga e pós-paga que não tenha sofrido uma deterioração de sua renda média por usuário, à medida que o mercado fica saturado e as pessoas com menor poder aquisitivo (ou com uma linha de celular adicional) são aquelas que acessam a um novo serviço.

Quem duvida desse fenômeno simplesmente precisa comparar as demonstrações financeiras das empresas do mercado nos últimos anos para perceber essa tendência. Obviamente, devemos contar com o lançamento de novos serviços que serviram de colchão e, às vezes, conseguiram reverter temporariamente a tendência de queda da renda por pessoa, mas no final do dia os números refletem o mesmo caminho, independentemente da marca com a demonstração financeira.

Pessoalmente, considero muito importante entender quais são as tendências do mercado versus o comportamento isolado dos clientes de uma empresa. Confundir essas duas coisas pode levar aqueles que não conhecem muito do mercado de telecomunicações a criticar por falta de conhecimento, embora também exista malícia em alguns que apontam que uma empresa pode estar em mal estado porquê supostamente os novos clientes que adquire não geram o mesmo lucro em relação ao que possuía anteriormente.

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Talvez fosse interessante ter um livro de história apropriado, refletindo a renda média dos usuários de telefones celulares no Brasil e no mundo antes de 1995. Naquele ano foi criado o sistema de cobrança pré-pago, que juntamente com o sistema de cobrança “pague o que usar” serviu para transformar um item de luxo em parte da cesta básica de muitos países.

*Esta coluna é escrita em caráter pessoal.