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5G, catalisadora de um novo paradigma digital

Por| 23 de Agosto de 2021 às 10h00

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Divulgação/Mohamed Hassan/Pixabay
Divulgação/Mohamed Hassan/Pixabay

A chegada da 5G nos mercados da América Latina implica em uma quebra de paradigma do que, até então, foi o modelo histórico de implantação das primeiras quatro gerações móveis. Isto se deve porquê o mercado-alvo para cada uma destas tecnologias, desde AMPS até LTE Pro eram mercados de massa. Ainda que um purista pudesse, ocasionalmente, apontar que em muitos mercados esse não era o caso das tecnologias analógicas antes do colapso que ocorreu na indústria de celular em 1995.

Esse foi o ano em que a vida dos serviços móveis como artigos de luxo finalmente chegou ao fim para dar lugar a uma massificação explosiva como resultado de uma simples mudança, não na tecnologia, mas no modelo de negócio usado para cobrar pelo serviço. Graças à criatividade portuguesa, 1995, além de ser o ano da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), foi o ano do lançamento dos primeiros serviços celulares pré-pagos do mundo.

No entanto, mesmo em um ambiente onde o serviço móvel era caro e voltado para as classes ricas da sociedade, ele seguiu o modelo de lançamento tradicional de cima para baixo, já que as operadoras primeiro focaram em atender às demandas do setor empresarial e, posteriormente, permanecer nos indivíduos com alta renda. O importante a lembrar é que o modelo de negócio sempre dependeu do chamador ou do destinatário do tráfego ser um ser humano.

A situação com a 5G é um pouco diferente. Com essa tecnologia, modelos de negócios que já existiam há mais de uma década em mercados em desenvolvimento como Brasil e Argentina começam a ser vistos como alternativas altamente viáveis ​​para impulsionar a conectividade em mercados como Noruega, Alemanha e Estados Unidos. Aqui estou me referindo explicitamente ao uso da rede móvel para oferecer serviços de banda larga fixa que competem com HFC, cobre e até mesmo operadoras de fibra óptica estabelecidas. Algumas operadoras irão emular o que já foi visto nos mercados sul-americanos de um pacote convergente de triplo jogo totalmente sem fio que complementa a rede sem fio móvel com serviços de televisão por assinatura via satélite.

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Por que um modelo de negócios que existe há tantos anos repentinamente se torna atraente em mercados desenvolvidos? Simplesmente porque as velocidades que agora são obtidas com as redes 5G usadas para fornecer banda larga fixa são comparáveis ​​às oferecidas pelas operadoras com fibra óptica para casa. Por sua vez, as redes sem fio podem cobrir uma quantidade maior de locais por uma fração do preço que custaria para uma operadora conectar fibra óptica a um ambiente, algo estimado em torno de U$ 700 até U$ 1800 em áreas rurais de baixa densidade populacional. Dito de forma mais simples, com a 5G podem gerar serviços competitivos com a oferta existente, contudo com uma estrutura de custos menor para as operadoras.

Voltando ao modelo da 5G, que se diferencia das tecnologias anteriores em que foi concebida como plataforma de desenvolvimento da nova geração de Internet das Coisas. Basicamente, busca que a 5G comece a gerar esse processo de digitalização da vida diária das pessoas, contudo antes de pensar nos lugares totalmente conectados, busca com esta nova rede sem fio para serviços móveis o que digitalizar a economia para torna-la mais produtiva e eficiente.

Sendo este o objetivo da 5G, as justificativas para sua implementação mudam radicalmente ao ser comparada com as gerações móveis anteriores. O que se busca é a digitalização dos segmentos produtivos da economia e nos focamos naqueles que apontam para mercados interacionais, encontrando com uma importante realidade: digitalizar essas empresas não é para atender uma necessidade doméstica, mas para enfrentar uma demanda internacional da qual os concorrentes diretos e indiretos começam a adotar as novas tecnologias como método de diferenciação.

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Da mesma forma, muitas dessas empresas que, localizadas na América Latina, mas com clientes sediados em Tóquio, Chicago ou Londres, estão começando a enfrentar uma realidade em que os pedidos de produtos mais sofisticados possuem especificações que só podem ser atendidos com a existência de um Rede 5G. A demanda doméstica não é mais a que delimita a inovação tecnológica das empresas, a globalização do comércio mundial cria pressões exógenas que há meses se fazem sentir em diferentes segmentos verticais das economias latino-americanas.

As justificativas para o lançamento de uma rede 5G evoluíram, assim como sua utilidade, independentemente do tamanho inicial. Já se foram os esforços de publicidade de ser o primeiro a lançar uma geração móvel respondendo mais às pressões de um departamento de publicidade do que às demandas de um nicho de mercado pequeno, mas muito rico. Além disso, se se trata de exportações e de balanço de pagamentos, é questão de tempo para que os governos tomem nota e passem a considerar a 5G como um pilar fundamental do desenvolvimento econômico do país.

É justamente nesse ponto que começa a se complicar o ecossistema 5G que se deseja criar para continuar com a evolução tecnológica exigida pelos setores produtivos. É quando as questões de administração do espectro radioelétrico, políticas públicas, finanças nacionais e burocracia no nível municipal vêm à tona. Quais frequências atribuir? Que leis revogar? Quais aprovar? Como hospedar os dados? Quão seguros são os provedores de serviços de análise para mim? Como incentivar o desenvolvimento de dispositivos de Internet das Coisas em nível local? Como envolver a sociedade civil? Como reavaliar os esforços educacionais em todos os níveis?

As perguntas são muitas e incrivelmente complexas se você considerar que cada uma delas deve ser feita em diferentes níveis de governo: nacional, regional e local. Como conseguir em poucas décadas uma colaboração e um diálogo que em mais de 200 anos não foram alcançados?

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A tecnologia 5G traz muitas oportunidades, mas é algo que vai além de um simples negócio para os provedores desses serviços. As operadoras de celular também terão que se transformar rapidamente se quiserem sobreviver sem ver sua receita trimestre a trimestre diminuir em relação à concorrência oferecida pelas centenas de provedores de conteúdo disponíveis para o usuário.

Não importa o tamanho da operadora de celular, nem a geografia onde oferece serviços, sua principal preocupação deve ser como trabalhar para não se reduzir a um simples pipeline de tráfego de dados que é utilizado pelos desenvolvedores de conteúdo audiovisual para se enriquecerem.

*José F. Otero é professor adjunto da Universidade de Nova York. Esta coluna é escrita em caráter pessoal.
Twitter: @Jose_F_Otero