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Conheça o etarismo, preconceito que tira gente experiente do mercado de trabalho

Por| 02 de Setembro de 2022 às 10h00

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RODNAE Productions/Pexels
RODNAE Productions/Pexels

Você já tentou buscar o significado do termo “etarismo” nos dicionários tradicionais? Pois nem tente, não irá encontrar, e a palavra também continua a aparecer sublinhada em vermelho pelo revisor do Word. Isso porque se trata de um conceito relativamente novo para definir um problema antigo, que pode ser resumido dessa maneira objetiva: etarismo é simplesmente a discriminação, preconceito ou tratamento injusto baseados em critérios de idade.

É provável que etarismo seja uma adaptação para o português do termo inglês ageism, que, assim como outros preconceitos — racismo, homofobia, misoginia, xenofobia etc. —, não se justifica, é cruel e prejudica tanto a pessoa atingida quanto seus semelhantes, a sociedade, a economia e as empresas. O problema é tão real e tão sério que, no mundo corporativo, as políticas de diversidade e inclusão costumam identificar o etarismo simplesmente como 50+, com a melhor das intenções.

É espantoso: 50+! Isso quer dizer que profissionais no auge da carreira, maduros, experientes e 100% produtivos já passam a pertencer a um grupo que é alvo de preconceito por idade! Imagine o que uma pessoa saudável com mais de 50 anos ainda tem a oferecer, a ensinar, a liderar equipes, a tomar decisões importantes com base em seu longo aprendizado. E quem mais perde com isso no mercado profissional, além da própria pessoa? As empresas, é claro.

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O problema cresce quando se olham as estatísticas populacionais. No fim do ano passado, o IBGE anunciou que a expectativa de vida no Brasil já havia chegado a 76,8 anos. Em apenas cinco anos, houve um aumento de 1,3 ano, e de 3,3 anos nos últimos 10 anos, o que é um crescimento excepcional e mostra que os brasileiros nascidos agora vão viver mais do que seus pais. O índice ainda é baixo quando comparado com a esperança de vida em países como o Japão (88 anos), a Itália, a Suécia e outros (na faixa dos 83 anos), mas é alto quando lembramos que, em 1940 a expectativa geral de vida no Brasil era de apenas 45 anos. Nesse período, houve um ganho de 31 anos.

Hoje, 25% da população brasileira tem mais de 50 anos de idade, o que representa aproximadamente 53 milhões de pessoas, ou mais de cinco vezes a população de Portugal. E como as empresas estão reagindo a essa nova realidade? Lentamente, com certeza, embora tenham ocorrido avanços importantes, a começar pelo destaque que vem ganhando o próprio conceito de etarismo, antes inexistente.

O etarismo nas startups

No ecossistema das startups, de acordo com um estudo recente da Abstartups, 62,3% das empresas ainda não contam com profissionais maduros em seu quadro de funcionários. Ou seja, de cada 10 startups, só pouco mais de três têm funcionários acima de 50 anos. Outra pesquisa, da GPTW (Melhores Empresas para Trabalhar), indicou que pouquíssimas empresas atingem um patamar aceitável de contratações de profissionais acima de 50 anos.

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É lugar-comum dizer que houve avanços significativos, mas ainda restam muitos desafios a serem superados. Porém, é exatamente isso o que acontece hoje no Brasil em relação ao preconceito de idade. Desde a década anterior houve um aumento de mais de 40% no número de pessoas mais velhas com contratos em regime de CLT. Por outro lado, também cresceu a proporção de pessoas dessa idade que estão desempregadas, já que houve uma expansão dessa faixa etária.

Felizmente, uma quantidade cada vez maior de empresas vem adotando políticas “50+”, o que é muito bom, mas o estigma da idade permanece. Nas startups, criatividade e inovação parecem atreladas obrigatoriamente à juventude, embora não haja nada que sustente essa ideia. Os criadores da internet, das redes sociais e da maioria das tecnologias — os grandes gênios da inovação — são hoje quase todas “pessoas 50+” obrigadas a conviver com esse preconceito, embora suas mentes permaneçam ágeis e revolucionárias.

No filme Um Senhor Estagiário, deliciosamente piegas, o recém-aposentado Robert de Niro aceita um cargo de aprendiz na bem-sucedida startup da personagem de Anne Hathaway. Começa sem ter nada a fazer, vira motorista da patroa e logo se torna seu confidente e assessor estratégico, além de ajudar a salvar sua posição na empresa e seu casamento. É Hollywood, evidentemente, pura fantasia, mas ao mesmo tempo há na história uma boa dose de realismo em relação ao valor da sabedoria, da experiência e do bom-senso das pessoas maduras em relação à capacidade dos jovens.

Há, com razão, um impulso quase irresistível de valorizar e romantizar a juventude, pelo seu potencial de energia e criatividade, mas pense bem: daqui a algum tempo os jovens de hoje chegarão aos 50 anos, ainda plenos de saúde, conhecimento e possibilidades, com muitos anos produtivos pela frente. Será que nesse futuro eles encontrarão um emprego à altura dessas capacidades? A resposta para essa pergunta precisa ser criada já, sem mais demora, para o bem de todos.