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Crítica | Um Natal Nada Normal e quando a magia se perde para os adultos

Por| 03 de Dezembro de 2020 às 10h17

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Produções de Natal costumam ser redes de escapismo eficazes para o público, principalmente quando trazem algum enredo de comédia romântica. Por mais que essas produções não reinventem o gênero e tragam, na verdade, mais do mesmo, são fáceis e simples de agradarem justamente por cumprirem o que esperam delas: uma história tranquila, sem muitos quebra-cabeças e que se resolva em, no máximo, noventa minutos.

Em filmes de Natal, normalmente o protagonista está em um de dois extremos: ou odeia o feriado, encarnando o próprio Grinch numa cidade moderna; ou ama, sendo completamente entusiasmado sobre qualquer coisa que envolva o assunto. Por mais que alguns títulos não tragam romance, é difícil ver algo que ofereça mais do que personagens completando uma jornada de autoconhecimento e rendendo-se à magia do Natal e todas as maravilhas que a data pode proporcionar.

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Todas essas características acabam por formar uma produção inverossímil, mas que funciona como um belo guilty pleasure para os dias difíceis em que o cérebro só precisa se distrair e esquecer dos problemas por algumas horas. Na realidade, não só o Natal, mas todas as festas de final de ano podem ser um período complicado quando se passa da vida adulta e o feriado não tem mais aquela magia que costumávamos ver quando crianças.

A mais recente minissérie da Netflix, Um Natal Nada Normal, pode ser o mais perto da realidade de fim de ano que muitas pessoas (e famílias) enfrentam nessa época. A produção é baseada no livro 7 Kilo in 3 Tagen, de Christian Huber, e resume-se em três episódios com quase uma hora de duração cada, filmados e ambientados na Alemanha.

É injusto resumir Um Natal Nada Normal (ÜberWeihnachten, no nome oficial) apenas à sua sinopse, já que a série explora muito mais do que a saia justa encontrada pelo protagonista no Natal com a família. Profissionalmente frustrado, o músico amador Basti (Luke Mockridge, comediante que faz sua estreia nas telas) tem encontrado dificuldades para superar o final de seu longo relacionamento com Fine (Cristina do Rego), mesmo que o término tenha ocorrido há mais de um ano. Ao chegar na casa de seus pais em Eifel, sua cidade natal, o personagem se depara com uma informação que tem tudo para estragar seu fim de ano: seu irmão, Niklas (Lucas Reiber), está namorando sua ex.

Atenção! A partir daqui a matéria contém spoilers da minissérie Um Natal Nada Normal. Leia por sua conta e risco.

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Com tudo para entregar um desfecho bobo (incluindo a imaturidade de Basti para lidar com o novo casal), a série acaba surpreendendo pelos menores detalhes possíveis, entregando as mais familiares situações. Disposta a quebrar esse estereótipo de que o Natal é obrigatoriamente a melhor época do ano, regada de alegria, gratidão e momentos em família, Um Natal Nada Normal traz, com humor, uma realidade próxima que boa parte do público se identificará: a magia do Natal só existe quando somos mais novos.

Reunir-se com a família, mentir sobre o status civil, profissional e financeiro, espremer-se numa sala minúscula, cumprir as mais entediantes tradições e, principalmente, aguentar os parentes inconvenientes são situações que boa parte das pessoas devem enfrentar anualmente no fim de ano — e Basti acaba retratando todas elas, além de lidar com o climão envolvendo seu irmão e a ex-namorada.

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Além disso, o protagonista acaba trazendo essas situações em cenas cômicas e de fácil identificação, atuando os mais absurdos desfechos, como falar o que quer sem lidar com as consequências ou arranjar uma briga no meio da sala de estar — e logo após seus pensamentos serem amplamente retratados na tela, a série volta à realidade, mostrando Basti engolindo os sapos necessários para manter uma boa convivência entre a família.

Essa necessidade de jogar a sujeira para baixo do tapete não limita-se a Basti, sua mãe Brigitte (Johanna Gastdorf) também acaba não comprando a briga em diversas situações para não colocar o clima familiar de Natal em jogo. É claro que ela acaba falhando algumas vezes, descontando sua frustração em inocentes atendentes do supermercado ou até queimando os pratos do jantar.

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A bolha estoura também com Basti, que literalmente acaba despejando todas as suas frustrações da vida em cima de um palanque no meio da cidade e falando tudo o que as pessoas pensam e têm vontade de dizer, mas não fazem — exceto pelo fato dele ter arrancado o melhor amigo Ingo (Eugen Bauder) do armário. "As pessoas estavam vivendo bem", declara Karina (Seyneb Saleh), ex-namorada de Niklas a Basti, após o ocorrido. "Sim, porque estavam mentindo para os outros e a si mesmas", responde o protagonista.

Um Natal Nada Normal acaba tendo um final brega, afinal, no fundo, as pessoas ainda possuem um pouquinho de espírito natalino mesmo com todas as frustrações que a celebração da data envolve. A minissérie consegue resolver-se em poucos minutos, mas não falha em passar sua mensagem de humildade e gratidão, além de colocar-se no lugar do outro e, é claro, mostrar que toda família tem suas complicações e só por ser Natal, elas não desaparecerão de repente.

Com duração e episódios na medida certa, a série ainda entrega paisagens bonitas e boas músicas, dignas de se colocar na playlist depois da maratona. Ideal para quem quer dar um pouco de risada e ver que os problemas às vezes só mudam de endereço.

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Um Natal Nada Normal está disponível no catálogo da Netflix.