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Roteirista cria jogo interativo em seus Stories baseado em Bandersnatch

Por| 01 de Fevereiro de 2019 às 22h25

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Você já pensou em ter a sua vida, ou parte dela, controlada pelos seus seguidores do Instagram? O roteirista carioca Eduardo Albuquerque, brasileiro residente em Miami, já.

Ao assistir ao episódio interativo Bandersnatch da série Black Mirror, Eduardo, também conhecido como Dudu, teve a ideia de criar o projeto Polling Life com a ajuda do recurso "Enquetes", disponível nos Stories. "Polling" vem da palavra "poll", que significa "enquete" em inglês. Traduzindo de forma literal, ficaria algo como "Vida de Enquete".

Para entender melhor, batemos um papo com ele.

O que é o Polling Life?

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Basicamente, o Polling Life é um experimento social narrativo em que os seguidores, batizados de "mestres", recebem duas opções a serem executadas por Eduardo em meio a um contexto, e a que receber mais votos será feita.

"Parei pra pensar que acabava sendo um espelho interessante da democracia — onde nossos 'votos' têm consequências reais — e daí fui construindo a mitologia do 'jogo'. Não quero dar muito spoiler do todo, mas no fundo o Polling Life é um jogo que espelha a democracia e nossa relação com as mídias sociais. É em cima desses dois vieses que ele se desenrola", explicou o roteirista.

Além das enquetes, os seguidores também podem responder às perguntas feitas por Eduardo, pedindo sugestões do que ser feito.

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Planejamento e consequências

Mas se você achou que Eduardo já era uma pessoa ativa nas redes sociais, não poderia estar mais enganado. Ele contou que quase não faz publicações em seu perfil pessoal e que sua esposa, Luisa, que também acaba participando da brincadeira, tem muito mais seguidores que ele.

Mesmo assim, o desenrolar do Polling Life não é feito de forma espontânea e tem muito planejamento e conceito por trás disso, o que acabou se transformando em um jogo com bastante entretenimento.

"Tem um plano de ação, alguns cenários que geram game over e um jeito de 'zerar' o jogo também. Outro dia, os jogadores perderam uma vida, por exemplo, por não fiscalizarem as decisões. (Ver dia 22 e 23 dos meus highlights). Eu passei o dia inteiro dando decisões atrás de decisões para eles, mas não cumpri nenhuma e ninguém me cobrou. No dia seguinte, anunciei que eles perderam uma vida por isso. Expliquei que é um espelho do que fazem certos governos (aqui e aí) que enxurram a população de informações/decisões absurdas para que fiquemos assoberbados e percamos o foco do que é mais importante, portanto não basta votar; tem que sempre fiscalizar e cobrar que as ações que pedimos que sejam postas em prática. Dei o sermão de 'sustentação teórica' e deixei a opção: continuar jogando ou game over. Quem apertou game over foi bloqueado de ver meus stories e não tem mais como brincar... até segunda ordem. Há um cenário no qual eles podem voltar, mas algumas coisas têm que acontecer pra isso rolar".
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Experiência

Perguntamos se Eduardo já se envolveu em alguma "saia justa", mas ele contou que como quem faz as regras é ele, ou seja, "sua decisão é uma ilusão", ele tenta não ultrapassar o limite do seu próprio conforto. Em duas situações, inclusive, ele precisou depilar o peito e andar de cueca no meio de uma festa.

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E quem convive regularmente com Eduardo também acaba participando do Polling Life, principalmente sua esposa.

"Os amigos pegam as partes 'boas'. Luisa é quem pega as partes ruins. Mas ela tem sido generosa enquanto as escolhas têm sido tranquilas. Reclama pouco. Surpreendentemente, os mestres não têm levado a narrativa para um lugar ruim. Pelo contrário, até me fizeram participar de uma ação social no Martin Luther King Day, pintando uma escola pública daqui de Miami", conta o roteirista. Visualizar esta foto no Instagram. Podia ter sentado pelado num balde de gelo, mas graças ao voto de vocês, uma parte do auditório da Maddison Middle School ficou mais colorida. Mesmo nas coisas mais pequenas podemos agir de maneira transformadora; essa brincadeira de Instagram é prova. Toda decisão gera uma consequência! Passem as fotos pro lado pra ver meu/nosso dia de ação social em busca de inclusão social. No final, o 17 tombou. #mlkday #martinlutherkingjrday Uma publicação compartilhada por Dudu (@pollinglife) em 21 de Jan, 2019 às 12:29 PST

Essa ação na escola pode ser vista nos destaques do dia 20.

Evolução

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Eduardo revelou para o Canaltech que está disposto a incluir coisas legais no projeto, mas que é importante observar a resposta do jogador para conferir o espaço disponível para isso. Ele contou que já chegou a usar o Spotify como outra plataforma de interação com seus seguidores, pedindo sugestões de músicas que seriam incluídas em uma playlist para ser ouvida em uma viagem a Orlando.

"Se sequenciasse direitinho até ficava boa a lista, mas ficou muito louca", disse.

Influencers

Quando perguntamos se o projeto fazia uma referência ao mundo dos inlfluencers, em que um usuário do Instagram acaba, mesmo que de forma discreta, executando ações para agradar ao seguidor, Dudu disse que sim.

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"Ele já se condiciona a não fazer as coisas que quer/gosta e sim o que lhe dará mais influência, lhe dará mais likes e views. O que é doido porque todo mundo acaba sendo meio igual. Alternativamente, acho que o comportamento do consumidor — que é a grande maioria; o criador de conteúdo deve ser algo como apenas 5% do público total das redes sociais — é bem desprovido de pensamento crítico".

Eduardo ainda exemplificou contando sobre o #EnigmaPollingLife, quando os seguidores precisam investigar dicas deixadas em suas histórias para encontrar palavras que formem uma frase. Com isso, quem descobrir o mistério acaba sendo incluído na ferramenta "melhores amigos", recebendo conteúdos exclusivos.

"E no âmbito mais profundo, eles desbloqueiam uma frase do que eu chamo de #ManifestoPollingLife, que é um texto que explica o que está por trás desse projeto todo. A sustentação teórica da coisa. E uma das coisas que chamo à atenção é que a gente tem de passar a consumir as redes sociais de maneira mais crítica, sem apertar qualquer botão antes de pensar, sem sair escrevendo textão antes de se inteirar dos assuntos, sem franquear tanta informação nossa a troco de nada ou muito pouco", conclui.
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Futuro

Eduardo trabalha como roteirista em Miami e o Polling Life surgiu como uma nova forma de explorar a sua habilidade de narrar e explorar temas que considera importante.

"Eu sempre fui extremamente comprometido com tudo que criei artisticamente. Eu terminei em agosto do ano passado um livro que vinha escrevendo desde 2015, então estou naquele momento de respirar e encontrei uma nova ideia pra me casar, sabe? O Polling Life caiu como uma luva para eu explorar os limites da minha habilidade narrativa e explorar temas que considero muito importantes nesse momento pelo qual não só o Brasil, mas o mundo tá passando. Fora que tem sido muito legal ver a proporção que ele tem ganhado. Como filme e livro demora muito pra você ver sua obra dialogando com o público... com o Polling Life é instantâneo. Apesar de o número relativamente baixo de seguidores, a quantidade de impressões dele é uma coisa assustadora. Passa de meio milhão".

O Polling Life, claro, não vai durar para sempre. "Existem diversos cenários que terminam o jogo. Do mais trivial aos mais elaborados. Mas ele pode acontecer amanhã ou daqui a dois anos. Depende muito mais dos jogadores do que de mim", revela Dudu.

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Então, para aproveitar o jogo com Eduardo enquanto o Polling Life ainda está na ativa, basta seguir o perfil do Instagram. Lá, você ainda vai encontrar arquivos de todos os dias de jogo nos destaques dos Stories.