Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

O que leva uma pessoa a criar um perfil fake?

Por| 03 de Março de 2020 às 14h15

Link copiado!

público
público

Você já teve um perfil fake? Com as redes sociais fazendo cada vez mais parte da nossa vida, é quase impossível não ter esbarrado pelo menos uma vez na vida com um perfil de alguém que não condiz com a realidade. Mas o que leva uma pessoa a construir um fake? Todo perfil desse tipo tem o propósito de enganar uma pessoa, necessariamente? Isso é o que você descobre nesta matéria especial do Canaltech.

Primeiramente, é preciso entender melhor a definição desse termo. Basicamente, Fake consiste nas contas ou perfis usados na Internet. Para isso, são usadas identidades de famosos, cantores, personagens de filme ou até mesmo outras pessoas anônimas (nesse último caso, é o mais comum quando a finalidade do fake é justamente enganar alguém ou aplicar um golpe).

Por que as pessoas criam fakes?

Mas numa realidade em que as pessoas têm as redes sociais a seu favor para se expressar como bem entendem, qual o sentido de investir em um perfil que não é o seu? O que leva a isso? Para cargo de compreensão, a equipe do Canaltech conversou com Ellen Moraes Senra e Marina Prado Franco, psicólogas e especialistas em Terapia Cognitivo Comportamental.

Continua após a publicidade

Pedimos que as duas trouxessem à tona um olhar da psicologia diante de uma pessoa que se esconde atrás desse tipo de perfil. Para Ellen, podem ser diversos os motivos, mas em termos de comportamento, trata-se da possibilidade de agir e ser alguém diferente do que demonstra no cotidiano e com as pessoas ao redor, seja por falta de coragem de assumir quem realmente é ou mesmo por achar que dessa forma pode ser livre para agir como quiser sem precisar lidar com o julgamento de terceiros.

Por outro lado, Marina cita outras possíveis razões que levam pessoas a criarem perfis fakes nas redes sociais e nos aplicativos, como se divertir e conhecer novas pessoas, atender a necessidades não satisfeitas na vida real como “se sentir amado(a) ou apreciado(a)”, testar hipóteses prévias de que, por exemplo, “seria tratado diferente se tivesse a aparência de um famoso(a)”, para controlar e checar comportamentos do parceiro(a), para se expressar de maneira ríspida ou se vingar sem ser identificado ou até por sentir prazer em enganar adolescentes e pessoas inocentes. “Entre todas as possíveis explicações, um item se faz sempre presente: a necessidade de não expor quem se é por completo”, aponta.

Marina explica, ainda, que existem indícios comportamentais que podem indicar maiores chances de estarmos falando com um perfil fake. Em geral, entre esses indícios estão: evitar o encontro pessoalmente ou conversas por webcam, a contradição em conversas; tendência a demonstrar uma perfeição de características de ordem física e psicológica, ausência de fotos com a família ou com os amigos e história pessoal, poucos amigos na rede social e contas recentes.

Enquanto Marina aponta que criação de um perfil fake muitas vezes remete a uma baixa autoestima ou insegurança pessoal, visto que uma pessoa com essas características consegue criar um personagem totalmente novo e diferente de si mesmo na web, para Ellen, geralmente pessoas que criam perfis fakes podem apenas querer fingir ser alguém que não são, mas não necessariamente por terem autoestima baixa e sim porque a vida que levam não os permite ter determinadas aberturas.

Continua após a publicidade

“Pessoas que não têm uma visão positiva de si mesmas na vida real, com o recurso da internet, muitas vezes, criam novas personalidades e até mesmo rostos completamente diferentes em sites e aplicativos com a intenção de serem reconhecidas e aprovadas pelos outros. Cria-se, então, uma vida paralela onde há a possibilidade de um existir completamente divergente do real”, analisa Marina.

Por sua vez, Ellen atesta o seguinte: “Se essa pessoa sente prazer nisso podemos então estar lidando com alguma patologia, como um transtorno de personalidade por exemplo, mas nem todos os casos de perfis fakes são assim. Na realidade, a grande maioria são pessoas que desejam saber sobre a vida de outras pessoas ou alguém que leva vida dupla”.

Fakes deixam cicatrizes

Continua após a publicidade

Muitas pessoas já se depararam com esses perfis por aí. No entanto, há casos em que os fakes foram responsáveis por marcar a vida dessas pessoas, deixando cicatrizes. É o caso de Sabrina Fernandes, de 27 anos. Em 2015, conheceu um rapaz nas redes sociais e começou a se envolver com ele virtualmente. No entanto, passados alguns meses, começou a notar um comportamento estranho: ele não tinha o costume de gravar áudios, atender ligações ou aparecer pela webcam, por mais que ela pedisse. Com o tempo, o garoto começou a pedir dinheiro emprestado, o que foi a gota d’água para que ela entendesse que se tratava não apenas de um perfil fake, mas sim de uma pessoa mal intencionada, almejando extorqui-la.

“Primeiro ele começou a pedir quantias pequenas. Queria que eu depositasse para ele. Mesmo eu não tendo feito a transferência, ele continuou a pedir com o passar dos meses. Quanto mais envolvida emocionalmente ele percebia que eu estava, mais ele ficava pedindo e insistindo”, conta. No fim de alguns meses de envolvimento, o perfil confessou na verdade ser uma mulher. Na época, Sabrina simplesmente bloqueou os perfis em todas as redes sociais, sem denunciar nem nada parecido.

Diferente de Sabrina, o caso de Sthella Freitas, de 25 anos, não tem a ver com tentativas de extorsão. No entanto, trata-se de um relacionamento abusivo também baseado em mentiras. O caso aconteceu em 2010, quando ela tinha apenas 15 anos. “Eu me lembro dele mandando elogios todos os dias. Era a última coisa que lia ao dormir e a primeira ao acordar. Eu era completamente obcecada por ele ao ponto de me anular completamente. Tolerei muitas coisas dele. Fazíamos planos de nos ver, de namorar de verdade. Ele parecia gostar de mim, pedia fotos e sempre me elogiava muito, coisa que não tinha de mais ninguém”, relembra.

Continua após a publicidade

Sthella conta que essa aventura durou por mais de três anos: “E em todo esse tempo ele mandou apenas um foto e tinha uma qualidade horrível e não me lembro de ouvir a voz dele, nenhuma vez. Não lembro se foi por causa do fim do Orkut ou do MSN, mas migramos nossa relação para o Facebook e mesmo assim o mesmo padrão, poucas fotos, poucas informações. Foi em 2013, depois de três anos, que, investigando um pouco melhor, descobri que ele tinha uma namorada, que mentiu sobre absolutamente tudo que ele sempre disse e, quando eu questionei, me tratou com uma louca”.

Foi vítima de fakes? Denuncie!

Pela prática dos perfis falsos ser bastante comum, a maioria das redes sociais mais famosas, como Facebook, Twitter ou Google+, por exemplo, disponibilizam formas rápidas de sinalizar uma página, permitindo que a equipe responsável a verifique e, caso o “fake” se confirme, remova o perfil do ar.

Continua após a publicidade

De acordo com o especialista em Tecnologia e Inovação, Arthur Igreja, a evidência maior é realmente no Facebook. “Principalmente, em razão dessa limpeza feita no final do ano passado e que apagou mais de 3 bilhões de contas falsas. Outra rede com proliferação de perfis fakes é o Twitter, já que ele é mais permissível à atuação de robôs. Toda rede social que tem um baixo grau de verificação ao pedir dados cadastrais aos usuários, ou seja, que não confirme lastros de que é um usuário real, tem a maior probabilidade de criação de perfis fakes. Porém, estatísticas apontam que Facebook e Twitter são as redes com maior presença de usuários falsos”.

Arthur ainda acrescenta: “Todas essas redes contam com mecanismos para que seja apontado um perfil que é falso. É importante que os perfis nas redes sociais passem credibilidade e divulguem informações relevantes”. Tendo isso em mente, ensinamos você a denunciar um perfil fake com o qual tenha se deparado em alguma rede.

No caso do Facebook, é preciso ir até o perfil em si e clicar no botão logo ao lado de “Mensagens”, em “Denunciar/Bloquear”. Assim, você terá as opções de ocultar as postagens daquele perfil da sua Linha do Tempo, encerrar a amizade, bloquear o usuário ou reportá-lo.

Ao marcar esta última opção, você deve especificar se a violação do perfil em questão está nos posts escritos por esse usuário ou no perfil em si. Escolha a opção “Este perfil está fingindo ser alguém ou é falso”, e marque se esta conta está fingindo ser você, se está fingindo ser alguém que você conhece, se finge ser uma celebridade, se representa uma empresa ou se não representa uma pessoa de verdade. Por fim, basta confirmar.

Continua após a publicidade

Já quando se trata do Twitter, é possível acessar um formulário. Então, você poderá marcar detalhes sobre o seu pedido de ajuda. Entre as opções, estão conta suspensa, dificuldade de entrar em uma conta, a possibilidade de sua conta ter sido hackeada, alguém estar usando sua conta sem sua permissão e, por fim, alguém fingir ser você, ou seja, ter criado um “fake” seu. Neste último caso, selecione a opção "I am being impersonated".

Em seguida, você poderá marcar se o “fake” está fingindo ser uma pessoa ou uma organização ou marca. Escolha a primeira opção e então marque se você é a pessoa alvo do “fake”, se você é um representante legal, um amigo ou fã dessa pessoa.

O outro lado do fake

Apesar de ter passado por maus lençóis envolvendo fake, Sthella pertence a um universo virtual alternativo, em que se utiliza perfis fakes para interagir com outros perfis fake, sem qualquer intenção de enganar ou extorquir ninguém. Não é bem uma prática recente. Os fakes são encontrados em diversas plataformas, a mais usada costumava ser o Orkut, mas depois de ser excluído, os fakes se dividiram por diversas redes sociais próprias para isso, como VK, Yoble. São redes sociais em que todos os perfis são falsos. Puramente personagens, por assim dizer.

Continua após a publicidade

Todos nessas redes pouco conhecidas estão cientes de que tudo ali é interpretativo. Nesse caso, não são utilizadas fotos de pessoas anônimas, mas sim de atores, cantores ou até mesmo personagens de séries e animes.

Nesse caso, o perfil é criado só por diversão, para conhecer novas pessoas sem se expor, para homenagear seus personagens preferidos. É comum que esses perfis utilizem termos como online e offline, em que "online" são seus perfis falsos na internet, e "offline" é a pessoa que se encontra por trás desse perfil. "A satisfação vem nas possibilidades infinitas de participação e construção de histórias, de ser e fazer qualquer coisa", explica Sthella.

"Consequentemente, como qualquer fonte de entretenimento, acaba tomando um espaço significativo na vida como qualquer outra rede social. Talvez sendo um dos males do século, o vício em mídias sociais, talvez o Yoble, a plataforma dos jogos, não fuja disso. Acaba que, gradativamente o ON gera mais prazer de estar do que o OFF", acrescenta.