O impacto causado pelo encobrimento do número de likes no Instagram
Por Nathan Vieira | •
Na última quarta-feira (17), uma das principais redes sociais da atualidade, o Instagram, resolveu colocar em prática uma decisão divisora de águas: esconder a quantidade de curtidas conquistadas pelas fotos. A partir dessas novas diretrizes, a rede social permite que apenas o dono da publicação tenha conhecimento sobre os likes, e os demais ainda conseguem ver o avatar e o usuário de cada pessoa que curtiu, mas sem a quantidade exata das curtidas.
A princípio, essa novidade chega na forma de um teste. No próprio aplicativo, assim que entram, os usuários se deparam com o aviso do próprio Instagram diante da mudança: “Queremos que seus seguidores se concentrem no que você compartilha, não em quantas curtidas suas publicações recebem. Durante este teste, somente você poderá ver o número total de curtidas nas suas publicações”.
Uma coisa que ainda não ficou muito clara é o impacto, tanto positivo quanto negativo, que a ação de ocultar os likes pode ter na rede social em questão. Para conseguir uma análise mais profunda sobre essas consequências, o Canaltech entrevista Lucas Patrício, CEO da GMD, agência de marketing digital especialista em conteúdo e estratégia para marcas.
Usuários
Lucas começa analisando o impacto positivo dos likes ocultos nos usuários do Instagram. Para ele, essa ação permite “voltar a atenção para o conteúdo e não somente para validações subjetivas criadas por meio das interações”. O CEO destaca: “Quando o comportamento para criação de conteúdo leva em consideração somente essa aprovação, o tipo de conteúdo tende a seguir uma pequena variedade de fórmulas, resultando em postagens parecidas entre si ou sem inspiração”.
Além disso, Lucas também enxerga, nos likes ocultos, uma oportunidade para que todos possam se destacar, independente da massa de seguidores: “Uma vez que o conteúdo tende a ser o mais importante novamente, mesmo com poucos seguidores, o usuário pode fazer um conteúdo criativo que poderá ser percebido como tal na "linha do tempo", não sendo filtrado e julgado imediatamente por quantas curtidas ele teve”, aponta.
Influenciadores
Quanto aos influenciadores do Instagram, Lucas vê o impacto concentrado apenas no comportamento dos próprios seguidores, e o modo como a reação ao conteúdo pode sofrer alterações: “Um influenciador de Instagram vive de criar conteúdos que se conectam de forma única com seus seguidores. A validação por meio de curtidas é apenas uma das formas de medir o engajamento. O ‘curtir’, inclusive, continua a existir e pode ser medido pelos influenciadores normalmente. Apenas a exibição pública é que deixa de existir. Logo, a tendência é que as pessoas deem “curtir” para conteúdos que realmente as inspirem e não somente como reforço positivo ao ver a quantidade de likes na tela”, afirma o CEO.
Questionado sobre a melhor saída para os influenciadores em meio a um Instagram sem o número de likes, Lucas disserta: “Focar em conteúdos que façam sentido para eles e para o público que querem conversar. Entender bem as ferramentas e como elas são consumidas é sempre uma prática importante. Da mesma forma, não depender somente das métricas das ferramentas para traçar suas estratégias como profissionais”.
O CEO da GMD enfatiza a importância da versatilidade de um influenciador: “As métricas seguem sempre interesses comerciais e de usabilidade geral, portanto mudanças acontecem o tempo inteiro. Um criador de conteúdo precisa se aproveitar da visibilidade para se tornar relevante também fora desses círculos”.
Marketing
Uma das maiores consequências da extinção da quantidade de likes da rede social acaba caindo sobre as marcas que veem no Instagram um lugar para investir no alcance de público. “As marcas terão mais dificuldade em identificar o potencial dos influenciadores, já que será preciso ter acesso aos dados particulares de engajamento. Isso pode ter um efeito perigoso do foco voltar a ser no número de seguidores — uma métrica que por muitas vezes é vazia e facilmente manipulável por meio de práticas que não seguem as diretrizes das ferramentas”, Lucas explica.
Apesar de tudo, o CEO não acredita que os times de marketing tenham que abandonar o Instagram para buscar alcance de público em outros canais: “Será preciso que os profissionais envolvidos tenham ainda mais claros seus objetivos de campanha para saber o que buscar, além de acompanhar e medir as ativações mais de perto”, afirma. “Ainda é possível medir alcance e engajamento das publicações durante uma campanha, apenas a fase de descoberta e decisão é que exigirá profissionais mais preparados e processos mais claros para que não sejam cometidos erros”, completa.