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Jornalista descobre relatos horríveis da vida de moderadores do Facebook

Por| 19 de Junho de 2019 às 12h57

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Vox
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Tudo sobre Facebook

Uma nova reportagem do The Verge denuncia uma série de irregularidades em uma empresa contratada pelo Facebook para fazer moderação de conteúdos nocivos na rede social. Chamada Cognizant, a companhia conta com 800 funcionários em cidades como Tampa, Austin e Phoenix, nos Estados Unidos, com condições de trabalho insalubres. Isso sem levar em conta o show de horrores a que os funcionários são submetidos a avaliar.

Os moderadores são pessoas que decidem se postagens indicadas como nocivas na plataforma ferem realmente as políticas da rede social. Em suma, eles precisam ver toda sorte de fotos, vídeos e textos sobre violência, abuso sexual e outros tipos de ações horrorosas e decidir se isso se mantém ou não público.

Só isso já parece totalmente insalubre, não é? Pois bem, a Cognizant vai além. O jornalista Casey Newton, do The Verge, conversou com 12 atuais e ex-funcionários dessa empresa contratada pelo Facebook para gerenciar grupos de moderadores para a plataforma. Os relatos são tão chocantes que alguns deles até concordaram em quebrar acordos de confidencialidade.

ALERTA: O texto pode conter relatos reais e detalhados de conteúdos que podem ser sensíveis a determinadas audiências. As histórias apontam relatos de discriminação, conteúdo violento, assédio e estresse pós-traumático. Se você é sensível a quaisquer desses temas, a recomendação é de não-leitura deste texto.

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Empresa

A Cognizant é terceirizada pelo Facebook. O serviço é transferido, embora o Facebook tenha também um grupo interno de moderadores. Segundo Arun Chandra, vice-presidente da rede social para suporte externo, há mudança de negócios tão rápida na companhia que torna a moderação interna quase que impossível. O Facebook conta com empresas em vários locais do mundo fazendo o mesmo serviço.

No caso da Cognizant, são 800 funcionários em um nível de contratação quase automático, de acordo com os relatos. A companhia chegou a empregar uma pessoa que tinha ao menos 18 acusações de fraude econômica contra uma antiga startup. No caso, essa startup era o próprio Facebook.

“Isso mostra o quão despreocupados estão com quem entra lá”, aponta um dos entrevistados.

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A empresa conta com casos de assédio sexual e ameaça de violência, sendo que dois processos por discriminação foram abertos em órgãos públicos contra a Cognizant.

Um dos casos apresentados na matéria é o de Keith Utley, um ex-militar que trabalhava para a Cognizant como um dos 800 moderadores do local. Ele fazia o turno da noite quando, diante de tanto estresse, teve um ataque cardíaco. Sem equipamentos para primeiros-socorros, uma ambulância foi chamada. Utley morreu depois no hospital.

O relato fica ainda mais tocante quando ex-funcionários da empresa afirmam que o assunto foi proibido na empresa, divulgando a informação de que Utley tinha somente sofrido um acidente, mas que estava bem. A notícia foi veiculada no espaço somente quando o pai do falecido rapaz foi buscar os pertences e informou: “meu filho morreu aqui”.

Em comunicado, a empresa se nega a relacionar a morte do funcionário ao seu ambiente de trabalho.”Não há indicação nenhuma de que a condição médica tenha alguma relação com o trabalho dele”, disse em nota.

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Há relatos de pessoas que foram enganadas, com ofertas de cargos de “análise para mídias sociais”. Um deles foi Shawn Speagle, que contou que foi chamado para uma vaga de análise de dados para empresas. Só depois descobriu que faria moderação de violência e conteúdos de pedofilia no Facebook. Com histórico de ansiedade e depressão, ele entrou em desespero.

Ele precisava moderar cerca de 100 a 200 posts todos os dias, entre vídeos de violência, abuso sexual e outras atrocidades. A maioria das agressões é relacionada a animais. Cada vídeo precisa ser visto pelo menos entre 15 e 30 segundos, a depender do conteúdo.

Depois de sair do emprego, Speagle foi diagnosticado com transtorno do estresse pós-traumático. Aliás, essa situação é comum entre os funcionários. Alguns entram em estado de paranoia, chegando a levar armas para o trabalho com medo de que ex-funcionários voltem para promover uma chacina no ambiente. Há relatos de pesadelos e visões sobre o que eles precisam ver na rede social.

Insanidade física e mental

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Os funcionários também contam que o espaço era constantemente insalubre até mesmo em termos de saúde. Os salários são de US$ 28 mil por ano, perto de US$ 2.300 por mês. São duas pausas de 15 minutos com 30 minutos de almoço. Ainda há mais nove minutos para bem-estar.

O único motivo pelo qual funcionários são mandados embora é por conta de ausência. Por isso, é raro alguém faltar ou exceder as pausas. Assim, há relatos de pessoas doentes que continuam trabalhando, mesmo com atestado.

As entrevistas normalmente citam pessoas vomitando em latas de lixo próximas às mesas e até de uma pessoa cuja bolsa colostômica estourou em meio à rotina de trabalho. Esse tipo de procedimento acontece para guardar as fezes do paciente enquanto o intestino estiver em recuperação.

Diante da desordem do espaço, também eram comuns gritos e relatos de assédio tanto moral quanto sexual.

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Facebook

O Facebook disse que todas as vezes que vai visitar os locais, é recebida com espaços arrumados e não tinha conhecimento de como o trabalho era feito. Em algumas regiões, como nas Filipinas, o trabalho de moderador é bem visto e até cobiçado. A assessoria da rede social informou que faz reuniões anuais com as empresas contratadas, compartilhando histórias entre elas. Contudo, esses encontros devem passar a dois por ano.

Além disso, o Facebook prometeu aumentar o salário dos moderadores de US$ 15 para US$ 18 por hora.

Outra mudança será na forma como a rede social audita empresas contratadas para esse tipo de serviço. Segundo o porta-voz, será contratado um grupo para fiscalizar as ações de tais empresas.

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Junto disso, há também um novo programa global de resiliência voltado ao bem-estar desses funcionários. O desenvolvimento deste programa ainda precisa passar pela parte jurídica do Facebook.

Fonte: The Verge