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Especialista sugere que brincadeira do "10YearsChallenge" é perigosa

Por| 17 de Janeiro de 2019 às 12h30

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Especialista sugere que brincadeira do "10YearsChallenge" é perigosa
Especialista sugere que brincadeira do "10YearsChallenge" é perigosa
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Esta semana tem sido verdadeiramente nostálgica para muita gente, em especial para quem acessa redes sociais com frequência, já que muitos usuários têm aderido ao viral do momento: o “#10YearsChallenge”, que já vem inspirando uma nova onda de memes, inclusive. O desafio consiste em publicar uma foto própria de 10 anos atrás e em seguida uma selfie atual, analisando as mudanças que sofreu no período.

Ainda que a brincadeira pareça inofensiva, a especialista em “tecnologia humanista”, Kate O’Neill, preferiu participar do desafio de uma maneira diferente: com um único e controverso tweet, que diz o seguinte:

“Eu 10 anos atrás: provavelmente teria brincado com o meme também [postando um] retrato do perfil pelo Facebook e Instagram. Eu agora: pondero como todos esses dados poderiam ser extraídos para treinar algoritmos de reconhecimento facial sobre envelhecimento e reconhecimento de [características de] idade”.

Em um artigo publicado no Wired, O’Neill afirma que sua intenção não era “reivindicar que o meme é inerentemente perigoso”. Contudo, a especialista não nega que o cenário da tecnologia de reconhecimento facial é uma tendência que as pessoas deveriam estar mais cientes sobre — ainda mais diante de todos os escândalos causados por coleta e vazamentos de dados em 2018, e em especial o caso Cambrigde Analytica e o envolvimento direto do próprio Facebook nisso.

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A publicação é totalmente opinativa e, em sua visão, O’Neill revela que entre muitos dos argumentos usados em resposta a seu polêmico tweet, a mais comum era de que “os dados já estão na internet” e que “o Facebook já tem posse de todas as fotografias de perfil”, em uma alusiva a um comportamento conformista dos internautas.

“Então, sim: essas fotos de perfil existem, elas têm indicativos do período em que foi feito o upload, muitas pessoas possuem diversas delas e, na maioria das vezes, elas são publicamente acessíveis”, comenta a especialista. Contudo, O’Neill aponta que, ainda que os dados já estejam todos na internet, o simples fato de existir o indicativo dos 10 anos de diferença é um diferencial.

Isso porque, caso alguém queira treinar um algoritmo de reconhecimento facial para identificar características relacionadas à idade ou a progressão do envelhecimento, um conjunto de milhares de dados variados seria necessário e, caso as fotografias e/ou vídeos tenham explicações específicas, uma indicando que é de 10 anos atrás e a outra do ano atual, o processo seria ainda mais fácil.

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O’Neill não nega que existem casos e casos, porém, até porque algumas as pessoas não costumam fazer upload de fotos em ordem rigorosamente cronológica de suas experiências e muitos usuários não publicam fotografias pessoais, preferindo usar imagens de animais ou bichos de estimação ou ainda desenhos animados, dentre outros que pouco ou nada revelam sobre sua aparência física.

Além disso, o Exchangeable Image File Format — ou apenas EXIF, aquelas especificações técnicas nas propriedades da imagem — não é exatamente uma fonte confiável para se coletar dados; afinal as pessoas podem usar dispositivos de terceiros ou fazer scans de fotografias antigas.

Por outro lado, o desafios dos 10 anos tem ajudado na coleta não apenas de imagens, mas também de informações, considerando que muitas pessoas costumam publicar fotografias comparativas expondo informações pessoais juntas, geralmente comentando sobre um local ou um evento a que compareceu há muitos anos e que está revisitando agora. “Em outras palavras, graças a esse meme, agora há um conjunto de dados muito grande de fotos cuidadosamente selecionadas de pessoas de cerca de 10 anos atrás e atualmente”, comenta O’Neill.

Usos de reconhecimento facial

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A hashtag #10YearsChallenge viralizou rápido. Entretanto, o Facebook negou sua participação direta na criação do desafio, afirmando que o meme foi gerado pelos próprios usuários da rede. Além disso, um representante da rede social complementou dizendo que é possível desabilitar a opção de reconhecimento facial para marcar pessoas em fotografias.

E, embora a prática de usar fotos da rede social de Mark Zuckerberg para treinar um algoritmo de reconhecimento facial seja questionável, o processo é inevitável de toda forma. Contudo, O’Neill argumenta para o que exatamente pode ser usada essa tecnologia de reconhecimento facial a partir de fotos do Facebook, oferecendo três possíveis cenários: o primeiro seria para encontrar crianças desaparecidas.

A exemplo disso, a especialista comenta sobre um relato da polícia em Nova Délhi no ano passado, onde quase 3.000 crianças desaparecidas foram encontradas apenas quatro dias usando tecnologia de reconhecimento facial. “Se as crianças estivessem perdidas há mais tempo, elas provavelmente pareceriam um pouco diferentes da última foto que foi tirada delas, então um algoritmo confiável de progressão de idade poderia ser genuinamente útil aqui”, comenta O’Neill.

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No segundo caso, a tecnologia seria usada para publicidade direcionada, com anúncios incorporados a câmeras e outros sensores que poderiam se adaptar aos usuários, mostrando propagandas de produtos de acordo com suas faixas etárias — um cenário que já acontece de certa forma, mas parece plausível de ser usado com mais frequência. E por fim, há também a possibilidade de o reconhecimento facial ser usada por agência policiais e governamentais.

Neste último cenário, obviamente a tecnologia poderia ser usada para rastrear pessoas suspeitas de terem cometidos crimes, mas pode levar também a pessoas que não necessariamente estão infringindo as leis, tais como manifestantes e outros civis que a polícia pode julgar como inconveniente.

Por fim, O’Neill também aponta para a importância das pessoas saberem e compreenderem para o que estão sendo usados seus dados e que tipo de variáveis podem ocorrer como consequência de uma participação e uma brincadeira de internet que parece boba e inofensiva. “Nossos dados são o combustível que torna as empresas mais inteligentes e mais lucrativas”.

“É difícil exagerar a plenitude de como a tecnologia pode impactar a humanidade. Existe a oportunidade de melhorarmos, mas para isso também precisamos reconhecer algumas das maneiras pelas quais isso pode piorar. Depois que entendermos os problemas, todos nós precisamos pesar eles”, comenta a especialista em sua publicação.

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Fonte: Wired