Saiba por que Deadpool esconde uma grande injustiça no mercado de HQs
Por Claudio Yuge | •
Se você abrir a edição de New Mutants #98 ou a estreia da versão nacional de X-Force no início de 1991, é bem provável que você quase não reconheça o Deadpool. Embora ele tenha mantido os poderes básicos e suas armas e visual, a pessoa dentro do uniforme não tem nada a ver com o que já vimos em Deadpool e Deadpool 2 e o que veremos em Deadpool & Wolverine nos cinemas. E é justamente por isso que sua trajetória esconde uma das maiores injustiças nos bastidores da indústria dos quadrinhos.
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Bem, para todos os efeitos, o criador de Deadpool é Rob Liefeld, que, embora ainda não consiga desenhar pés e mãos e sofra para manter a proporção dos personagens e a consistência dos traços e arte-final, a ideia de praticamente plagiar o Exterminador da DC Comics foi dele. Mas quem escreveu os cenários, as tramas em que ele se envolvia na época e os subplots conectados aos X-Men e a X-Force foi Fabian Nicieza — guarde essa informação, voltaremos a falar desse cara.
Em sua estreia, Wade Wilson apareceu como o mercenário que conhecemos, mas ele era um vilão — e nem era dos melhores. Deadpool fazia parte de um grupo de malfeitores que pareciam atores de filme pornô dos anos 1980 e vivia aparecendo para estragar a felicidade de Cable e a X-Force, assim como do próprio Wolverine — aliás, na aparição de Logan em New Mutants na fase de Liefeld, há um painel tão malfeito que Logan parece uma criança.
Pense naquele Deadpool de X-Men Origins: Wolverine. Ele era bem parecido com aquilo. Para não sermos também injustos com Liefeld, vale lembrar que a atitude inconsequente e o jeitão sarrista estavam lá desde o começo, mas de forma muito mais discreta se comparado com atualmente.
E, sim, os traços dele, embora muito irregulares, trouxeram energia e ação extrema para um cenário que precisava dessa explosão de testosterona. Ok, mas qual é a injustiça?
Joe Kelly foi quem moldou o Deadpool atual
Assim que Liefeld deixou a Marvel Comics para integrar a Image Comics com outros criadores, Deadpool foi parar nas mãos do escritor Joe Kelly e do desenhista Ed McGuinness em 1997. E foi com essa dupla que ele se tornou o Wade Wilson que conhecemos atualmente.
No título mensal Deadpool produzido pela dupla é que passamos a ver o personagem “quebrar a quarta parede” e falar com os leitores. Eles é que introduziram esse humor sarcástico e ligeiro, cheio de gags. Foram Kelly e McGuinness que deram mais estofo para a vida de Wilson, com a colega de quarto cretina Blind Al e o bar dos mercenários.
Além disso, eles é que inventaram um vilão que seria uma pedra no sapato de Deadpool por anos, o personagem conhecido como Ajax, ou Francis. Aliás, esse malfeitor tem a ver com o passado como rato de laboratório, em uma trágica parte de sua história que explica como ele foi abusado em experimentos que lhe deram câncer e deformaram seu corpo.
Nos três anos da fase Kelly/McGuinness vimos desenhos muito bons com uma pegada parecida com mangás. Acompanhamos Deadpool sendo designado a uma missão para matar um Anticristo alienígena para se tornar um Messias intergalático. Rimos com Wilson chutando a virilha do Capitão América, para depois confessar que ele é fã número um de Steve Rogers.
Ao fim desse ciclo, Wilson se tornou um personagem muito mais divertido e interessante, com uma hilária dinâmica em suas histórias. O vilão se tornou um anti-herói e, na conclusão se transformou em um herói injustiçado, que sempre salva o mundo mas não é compreendido pelo mundo, que continua só julgando seus deslizes e passado sombrio.
Ou seja, tudo o que você viu de mais legal no Deadpool de Ryan Reynolds a partir de seu filme solo veio da dupla Kelly/McGuinness.
Liefeld não aceita dividir créditos com ninguém
Desde que Deadpool se tornou um sucesso, Liefeld voltou a ser relevante e parou de fazer histórias estúpidas como a de uma insólita batalha entre Zeus e Jesus Cristo. Ele surfou na onda do sucesso e sequer lembrou de Joe Kelly.
Estranhamente, Kelly nem comenta muito sobre isso. E Liefeld parece sequer se lembrar que a alma que existe dentro do personagem que ele cometeu nos anos 1990 foi construída na fase Kelly/McGuinness.
Para completar a injustiça, Liefeld também se negou a dar reconhecimento e créditos para Fabian Nicieza, que, embora escreva histórias cafonas e previsíveis, teve sim sua parcela de culpa no Deadpool de início de carreira.
A impressão que dá é que Liefeld é tão chato e insuportavelmente reclamão que tanto Nicieza quanto Kelly e McGuinness preferem ignorar a falta de créditos e reconhecimento para ter paz na vida — e olha que a maturidade até tornou o Liefeld bem melhor em muitos aspectos de suas atitudes, porém nem tudo dá para mudar. Ainda assim, isso não deixa de configurar uma das maiores injustiças já vistas no mercado de quadrinhos.