Por que a DC Comics apagou o Superman desenhado pelo lendário Jack Kirby?
Por Claudio Yuge |
Jack Kirby é uma lenda dos quadrinhos, foi ele quem definiu padrões de narrativa, estilo de traços e arte-final e caracterização de estruturas e conceitos abstratos de ficção científica e fantasia na seara dos super-heróis. Ele também ajudou a criar os principais personagens da Marvel Comics, editora em que passou a maior parte de sua carreira. Mas… quando o desenhista foi para a DC Comics, as coisas não deram muito certo, a ponto da companhia apagar e redesenhar seu trabalho no Superman.
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Como e por que isso aconteceu? Bom, vamos começar com sua saída da Marvel. Kirby moldou o estilo da Casa das Ideias durante a Era de Ouro dos Quadrinhos, quando cocriou o Capitão América ao lado de Joe Simon; e a Era de Prata, ao formular a aparência de elementos cósmicos e ajudar Stan Lee a conceber Quarteto Fantástico, X-Men, Thor e Pantera Negra. O realismo e a riqueza de detalhes, assim como a caracterização explosiva da ação e de materiais alienígenas.
Os rostos angulares, o físico “troncudo”, as expressões corporais, especialmente das mãos; e a caracterização mais sutil e verossímil dos personagens e seus movimentos tornaram os heróis da Marvel mais humanos. Foi um sucesso absoluto, tanto que a Casa das Ideias passou a ameaçar a liderança da DC no mercado. Só que Kirby vivia tretando com Stan Lee, principalmente por conta dos contratos, que nunca agradavam completamente o desenhista. A gota d’água foi quando Lee tentou renovar a permanência de Kirby com mais uma proposta considerada injusta.
Por que a DC Comics apagou e redesenhou o Superman de Kirby?
Em 1971, Kirby deixou a Marvel e, inicialmente, escreveu e desenhou os títulos Forever People #1, New Gods #1, Mister Miracle #1, Jimmy Olsen #133 e Jimmy Olsen #134. A maior parte de sua arte foi bem recebida pela editora e pelos fãs, embora seu estilo de traço ainda estivesse muito atrelado à Marvel. Mas o design aplicado pelo artista no Superman desagradou geral.
O Superman de Kirby tinha a pegada “humanizada” que fez sucesso na Marvel, e as perspectivas angulares, assim como o próprio estilo do artista, deixaram as expressões faciais do Homem de Aço mais estáticas e mundanas. Os desenhos rígidos também deixaram a aparência com um ar mais severo, e até mesmo o símbolo da Casa de El ficou descaracterizado.
Vale lembrar que o padrão visual do Superman era baseado nos traços de Curt Swan. A DC Comics nem mesmo pediu para ele redesenhar, já que seu estilo é muito particular; também seria difícil convencer Kirby a emular Swan. Assim, a editora apagou seu Homem de Aço e chamou os artistas Murphy Anderson e Mike Royer para aplicar uma aparência mais tradicional.
É preciso destacar também que essa rigidez com a aparência do Superman vale até hoje. Em recente passagem pelo título principal do Homem de Aço, o veterano John Romita Jr., que fez sucesso desenhando vários heróis da Marvel, precisou redesenhar algumas vezes seus traços — a diretoria não gostava do nariz e das composição da face do herói, que era considerada “muito ítaloamericana”.
Ainda assim, Kirby deixou algumas boas histórias e personagens na DC, antes de retornar para a Marvel e, como “vingança”, reaproveitar várias “sobras” de suas criações para a DC na Casa das Ideias, a exemplo dos Eternos, “inspirados” nos Novos Deuses. Posteriormente, ele até voltou para a DC, para continuar o desenvolvimento do Quarto Mundo, e chegou a desenhar novamente o Superman na revista Super Powers — mas aí a editora pegou leve, até porque era uma revista fora da cronologia que tinha a função de vender brinquedos.