Nova estratégia da DC vem dando certo na competição com os mangás
Por Claudio Yuge |

A cobertura da indústria norte-americana de quadrinhos costuma parear Marvel Comics, DC Comics, Image Comics e Dark Horse Comics como grandes concorrentes. Mas, na verdade, todas essas editoras sofreram um duro golpe quando os mangás invadiram os Estados Unidos nos anos 1990. Desde então, a maior competição pelo dinheiro dos adolescentes gira em torno das publicações de super-heróis estadunidenses diante dos dramédias, aventuras e terror orientais.
Como competir em alta rotação de lançamentos com os mangás? Bem, a DC Comics vem provando que a saída é aprender com a própria concorrência. Prova disso é o formato de publicação adotado na fase Dawn of DC, que vem reformulando gradualmente casa propriedade de maior relevância da companhia.
A DC Comics tem feito assim? Os protagonistas de cada cantinho têm atenção especial, com uma equipe criativa bem selecionada para a abordagem de cada relançamento de título-chave; e os personagens relacionados a essa “família” que também possuam algum apelo junto ao público recebem minisséries pontuais.
Essas minisséries têm oferecido uma maneira de personagens mais obscuros brilharem por conta própria. As que têm feito sucesso, com qualidade de produção acima da média e alta nas vendas, ganham “edições extras” ou até uma possível “segunda temporada”. Isso tem ampliado o interesse pela linha editorial da DC, que, como sabemos, vai muito além de Batman, Superman e Mulher-Maravilha.
Como funciona com os mangás e como a DC vem publicando de forma parecida?
O Japão é o país do mundo que mais consome quadrinhos, e o volume de produção chega a ter uma escala desumana. Uma das razões por essa quantidade imensa de conteúdo, é a pluralidade com que a cultura dos quadrinhos japoneses sempre teve, ao oferecer histórias para todos, inclusive para os pequenos nichos. Mas o principal motivo tem tudo a ver com o modelo de publicação, justamente a que a DC vem aplicando.
A indústria do mangá é implacável com os títulos que não conseguem ganhar força, que são prontamente descontinuados. A DC emprega um conceito semelhante para seus heróis “Série B” e “Série C“, aqueles que até têm certo apelo, mas costumam penar para manter um título mensal.
Um exemplo disso é o que aconteceu recentemente com a linha do Arqueiro Verde, de Joshua Williamson e Sean Izaakse. A HQ originalmente teria apenas seis edições, mas, devido à enorme quantidade de pré-encomendas, ganhou mais seis edições — e, dada à recepção positiva deste primeiro volume da “família Arrow”, é bem provável que a 12ª edição não seja última desse arco.
O herói adolescente Besouro Azul Jaime Reyes também passa por esse “teste de audiência”. Como sua adaptação chega aos cinemas em breve, a DC publicou uma minissérie recente intitulada Blue Beetle: Graduation Day, que apresenta elementos paralelos ao filme.
Essa é a melhor forma que a DC encontrou nos últimos anos para manter um catálogo mais coeso, coerente e financeiramente viável para o bolso dos consumidores e da própria companhia. Investir tanto a capacidade criativa como o capital nos ícones que dão um retorno mais certeiro, testando a audiência de outras propriedades menores, sem loucuras, tem sido o grande êxito da atual fase Dawn of DC.