Hulk fica tão repugnante que desperta saudades das fases heróicas ensolaradas
Por Claudio Yuge |
O Hulk é um personagem que precisa estar instável para ser interessante, até porque nenhum autor, mesmo os melhores que já passaram por seu título, não conseguiram manter o interesse dos leitores em uma fase equilibrada por muito tempo. Peter David e Al Ewing até conseguiram lidar bem em jornadas bem longevas, entretanto, o Gigante Esmeralda precisa mesmo alternar suas facetas para contemplar as várias tonalidades interessantes que possui. E, olha, depois da última transformação repugnante, já está na hora de trocar de tema.
Atenção para spoilers de The Incredible Hulk #19!
Para quem não vem acompanhando a atual fase, as tramas mergulharam de vez na deformação do terror corporal e do gore em uma “sequência espiritual” de Immortal Hulk. E, suma, o Gigante Esmeralda enfrenta um a Mãe dos Horrores, mais uma daquelas personagens inventadas ontem, “mas que sempre esteve no Universo Marvel.
A ideia até seria melhor não levasse o personagem a um estado não nojento, repugnante, depressivo, e muitas vezes desnecessariamente violento, que até desanima ver a Marvel transformar Bruce Banner em uma pessoa tão derrotada e desprezível.
A jornada de Phillip Kennedy Johnson faz questão de humilhar Banner, sem trazer nada que preste dele, com a desculpa de uma vingança de seu alter-ego baseada em sexo. Os personagens de apoio não têm carisma, e os desenhos, embora tragam o terror necessário, deixam o Hulk com um visual cafona de surfistinha bombado.
As contribuições para uma nova mitologia do Hulk são forçadas e mirabolantes demais, de uma forma que ninguém se conecta — nem mesmo os personagens. Além disso, a trama é construída em uma lentidão desnecessária, com vários “monstros da semana” que não servem para nada. Essa escalada de mistério com um monte de dente e temas que ninguém se importa já passou da linha bocejante.
Bem, em The Incredible Hulk #19, Hulk é mantido em cativeiro pelo Ancião, um monstro primordial que deseja usar Hulk para abrir uma prisão antiga criada pelo Um Abaixo de Tudo e libertar a Mãe dos Horrores. Enquanto isso, a nova protegida do Golias Verde, Charlie, foi ressuscitada após seu encontro fatal com Frozen Charlotte, e ela se tornou uma Skinwalker depois que o Gigante Esmeralda se entregou em troca da vida da menina de volta.
Não bastasse o Hulk ser completamente cadelizado, esse vilão chato ainda levou o personagem ao ponto mais baixo e repugnante de sua trajetória. Banner, que nem aparece mais porque está preso dentro da criatura, é basicamente transformado em um tronco de uma árvore cadavérica imprestável. O Gigante Esmeralda aparece conectado com deformação que até conotação sexual extrema chega a exalar.
Chega, Marvel, a vida do Hulk anda muito lazarenta e miserável. Deixa o homem ser feliz, e, acima de tudo, leve-o de volta aos Vingadores, pois tanto Banner quanto o grupo — e nós, leitores — estão precisando disso desesperadamente.
Marvel errou ao voltar rapidamente para uma fase de terror
Embora Immortal Hulk tenha sido fenomenal, cumpriu seu papel com equilíbrio, consistência e diversão à sua maneira, em uma jornada com início, meio e fim bem definidos. A fase até durou mais porque os próprios fãs pediam. E, depois de três anos, entre 2018 e 2021, estava mesmo na hora de Bruce Banner passar mais tempo sendo cientista e integrante fundador dos Vingadores.
Só que a fase seguinte, que prometia ser divertida e relevante, virou um besteirol infantil com violência extrema gratuita e nenhum respeito entre Banner e Hulk. Donny Cates apenas mostrou que o humano que deveria ser herói é, na verdade, um mau-caráter; e que Hulk é um monstro imbecil, arogante, rancoroso e sem menor riqueza de espírito.
Gente, o Hulk é um monstro tentando apenas viver em paz, deixando tudo de lado para controlar sua fúria e ajudar qualquer garotinho ou garotinha em perigo que vê. Banner é uma das pessoas mais inteligentes da Marvel, e sua interação com os Vingadores e os X-Men é muito boa.
A Marvel, sem ter o que fazer, levou o Hulk de novo à ambientação suja e depressiva. Para ter uma ideia, Banner está preso em um lugar dentro do alter-ego. Ele vive com uma calça suja podre de rasgada, sem camiseta, provavelmente sem cueca; sem banho, sem pegar ninguém, assistir uma novela e sem nem um amigo para dividir uma cerveja de 600 ml. Até boné de vereador o cara tava usando.
O horror corporal foi levado aos limites, sem equilíbrio. Tenho certeza que todos gostam do Hulk sendo monstro, solitário, incompreendido e extremamente poderoso. Assim como muita gente adorou o encontro de suas raízes de criatura sobrenatural do terror dos anos 1960 com uma pegada Lovecraft em uma jornada que homenageou várias fases.
Mas está todo mundo de saco cheio de ver uma coisa tão baixo-astral em plena transição pós-pandemia. Cadê o Hulk gladiador de Planeta Hulk ou Destruidor de Mundos de Guerra Mundial Hulk? Onde está o gênio criminoso cheio de músculos chamado Maestro? E o herói membro fundador dos Vingadores? E a divertida fase Indestrutível? Ou o Professor?
Alguém dá um banho de loja no Banner e paga um almoço enquanto troca ideia sobre uma música ruim grudenta. Chega de deixar o cientista sem pesquisar mais nada faz tempo. Essa fase tem tanto absurdo com o objetivo de abraçar o absurdo que dá preguiça de ler. Que show do Hulk é esse?
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