Hitman | Conheça a HQ do criador de The Boys que dificilmente será adaptada
Por Claudio Yuge |

Os quadrinhos dos anos 1990 foram marcados por uma série de ideias ruins trabalhadas em belas ilustrações. Como o estilo de narrativa ficava a cada dia mais sofisticado, assim como a tecnologia para colorir e imprimir o material, as editoras disfarçaram a pobreza dos roteiros com desenhos e sequências de ação de tirar o fôlego. E daí nasceu Hitman, HQ de Garth Ennis, um astro em ascensão.
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Para quem não se lembra desse nome, basta recordar que ele é o autor dos quadrinhos de The Boys, que já representava um momento de baixa na carreira do roteirista. Ennis surgiu para o grande público durante sua passagem por John Constantine no título adulto Hellblazer, do extinto selo Vertigo.
Seu arco mais famoso, Hábitos Perigosos, catapultou o escritor ao estrelato, pois, além de boas sacadas, Ennis mostrou habilidade em conduzir diálogos e no conhecimento da cultura underground britânica — especialmente do submundo irlandês, já que ele mesmo vem da Irlanda.
Nessa época, no começo dos anos 1990, os quadrinhos de super-heróis estavam em queda livre, enquanto o material alternativo e adulto florescia — ainda mais em uma época em que os exageros das cenas de ação de blockbusters como Exterminador do Futuro 2 e da ultraviolência de Pulp Fiction: Tempos de Violência faziam grande sucesso.
Hitman: primeira HQ de heróis do criador de The Boys tem o DNA dos anos 1990
Foi nesse cenário que o ainda jovem Ennis ganhou a primeira chance de brilhar na DC Comics, com um título próprio para tocar, baseado no universo tradicional de super-heróis da editora. Após o evento Bloodlines, de 1993, vários personagens ganharam poderes por meio de parasitas alienígenas que vieram parar na Terra.
Um deles foi o caçador de recompensas canastrão Tommy Monaghan, que, munido de seu humor corrosivo, sua pose de machão e ótima mira com duas grandes pistolas, tornou-se um matador de aberrações e malfeitores. Os poderes de Monaghan envolviam telepatia e visão de raios-x, além de seu conhecimento extremo sobre armas e de sua excelente forma no combate corporal.
As histórias de Monaghan pareciam coisa de fanzine, até porque o tratamento editorial era bem, digamos, “largado”: os desenhos ora pareciam cartunescos e ora soavam mesmo como algo feito às pressas, sem muita consistência; os personagens abusavam de estereótipos e clichês, inclusive com uma alta dose de misoginia e “piadinhas” politicamente incorretas; e nada estava ali para ser levado a sério.
Como o timing era propício, o título funcionou e até teve uma longa vida, com 60 números mensais, que duraram até 2001. O bom humor em “brincadeiras” com propriedades da DC, como a vez em que Monaghan vomita nos pés de Batman, era um diferencial da revista, que trazia um pouco de leveza para a linha de lançamentos — ainda que isso acontecesse com sugestões sexuais e violentas consideradas acima da média para gibis de super-heróis.
Depois que terminou, Hitman foi citado em um episódio da animação da Liga da Justiça e chegou até a ganhar uma sobrevida em um especial com o supergrupo da DC, em publicação de 2007. Mas, em seguida, sumiu.
Por que Hitman dificilmente seria adaptada?
Hitman tem várias coisas interessantes, a exemplo da personalidade de Monaghan e alguns coadjuvantes, incluindo os que formam a pior equipe de heróis de todos os tempos, o Seção Oito — calma, faremos uma material específico somente sobre isso. Além disso, as tramas são simples e fáceis de acompanhar, com foco em narrativas que soam como paródias das aventuras tradicionais do gênero.
Além de já estarmos vendo críticas sobre heróis com adaptações de Watchmen e o próprio The Boys de Ennis, a grande dificuldade de fazer Hitman ser um sucesso fora dos quadrinhos seria atualizar o material para os tempos atuais.
Tudo em Hitman é muito datado: os temas, as referências em diálogos, o comportamento ultrapassado do tipo “machão policial” que permeava as páginas da revista; o figurino e o próprio estilo de narrativa.
É tudo tão “Anos 1990” que uma adaptação poderia estragar alguns dos melhores momentos do título, mesmo se a atualização de alguns dos conceitos fosse bem-sucedida. Claro que, no entretenimento, nunca dá para dizer “nunca” — mas, por enquanto, Hitman fica mesmo na memória de quem leu, ou para os curiosos e fãs que ainda buscam o material antigo.